19 abril 2009

Elitismo, Olga Roriz e turistas de São Jorge

Depois de uma reunião onde se aflorou o tema do elitismo na literatura, e depois da discussão se prolongar por um almoço tardio, concluiu-se que não existe elitismo na literatura. Considere-se apenas literaturas diferentes (talvez diversas) para públicos e targets diferentes (diversos). No mercado subsistem coevamente Susan Sontag, Toni Carreira, Roberto Bolaño, Margarida Rebelo Pinto e Martin Amis.
Olga Roriz no Teatro Micaelense com Inferno, sala timidamente cheia, elenco reduzido (apenas 5 bailarinos, 3 F, 2 M), performance irónica, obcessiva, transgressora, com selecção musical diversificada. No final gostei, mas... Faltou qualquer coisa.
Turistas de São Jorge visitaram São Miguel e declararam a um jornalista que vieram em busca de... confusão!

13 comentários:

José Gonçalves disse...

Caro Luis
Nestas coisas da Literatura, costumo ser muito sintético: o que me importa é que todas as pessoas leiam. Se gostam de revistas sociais que as leiam, se gostam das repetições temáticas, livro após livro, da senhora Rebelo Pinto, pois bem é com elas. Do que nunca abdico é de ser eu a fazer as minhas próprias escolhas, sem a submissão a critérios estritamente comerciais ou de alegados pensadores que tentam grantir que aquilo que eles lêem é que é o que eu deverei ler. Por isso, verifico que o panorama editorial em Portugal é confrangedoramente pobre e, por arrastamento, as opções comerciais vão no sentido de promover "lixo literário", havendo poucas editoras e escassas livrarias a arriscarem em tentar vender algo diferente. Contudo, repito, satisfaz-me que as pessoas leiam tudo o que lhes aparece (não fosse eu um defensor do exercício livre das opções individuais e, claro, das respectivas consequências), apenas lamentando que o mercado se esqueça daqueles que estão para lá disso. No fundo, os editores são pavlovianos, reagem instintivamente às oportunidades que lhes surgem, em busca de resultados económicos de curto prazo. Não conhecendo o mercado de retalho livreiro, presumo que, por causa disto, a bola de neve se desencadeie. Bom, bom será tentar conciliar ambas as coisas e dar a conhecer ao grande público outro tipo de literatura. Ah, não pensem que sou elitista, apenas pretendo contribuir para que esse mesmo elitismo se dilua, permitindo que a cultura chegue a todos e não se fique, como agora, por meia dúzia de pseudo-iluminados, coisa mais grave do que haver pessoas que nunca lerão um livro. E, então, aqui nos Açores, atenta a escassez de oferta e, quando a há, a omissão ao grande público da realização dos mais diversos eventos culturais, tais discrepancias são muito mais acentuadas. Aliás, percebe-se a razão. Como seria possível, doutro modo, manter toda uma coorte de artistas, educadores, produtores culturais e todas as qualificações que queiram dar a essa fauna cuja única razão de existência e exposição pública é precisamente a não democratização do acesso à educação (que não é andar na escola, obviamente) e cultura? Por tudo isto, duvido que não haja elitismo na literatura. Mais, considero que é de um pretensiosismo inqualificável e desonesto uns quantos "intelectuais", após uma reunião de intelectuais, virem proferir afirmações deste teor (se bem percebi o alcance). Sendo salutar que se reunam quando quiserem e discutam o que lhes aprouver, seria bem mais produtivo contribuirem para a divulgação prática da Literatura/Cultura. Isso sim, seria contribuir para o fim do elitismo na produção e no acesso, o resto, não tendo resultados práticos a curto prazo, viria por acréscimo. Talvez por isso é que há salas "timidamente cheias"...
Um abraço

Luís Almeida disse...

Caro José Gonçalves,

O teu comentário daria um bom post, apesar de não concordar com algumas coisas que dizes, ou então estarmos de acordo mas em perspectivas diferentes. Vou ser sintético. Não se tratou de um almoço de intelectuais, tudo começou numa reunião de comerciais. E foi precisamente para acabar com a ideia de que os conselhos literários de uns poucos, os chamados elitistas, são os conselhos de que todos deveriam seguir, que se concluiu que isso de elitismo é coisa ultrapassada. Vivemos numa economia de mercado e como tal segue-se o mercado nas suas boas e más práticas, ao contrário dos que se dizem "diferentes". Quando o que está em causa é o preço do livro então poderei dizer que um livro 5 euros mais caro na loja da esquina é porque tem melhor papel e está mais bem traduzido. Agora quando o preço é similar (ou tem diferença de IVA por exemplo) os livros são rigorsamente iguais, saíram da mesma gráfica, foram traduzidos ou escritos pelo mesmo tradutor/autor, têm o mesmo formato, o mesmo papel, a mesma data de edição.
Quanto à educação... Bom, ando há muitos anos a batalhar por uma melhor educação, já o disse publicamente, já o disse a políticos, empresários, professores. É sobretudo aos primeiros que se deve o atraso, irrecuperável, do estado educacional dos nossos jovens.
É esquisito que alunos de 16 anos não saibam escrever e ler direito, quanto mais falarmos de entrarem numa livraria e escolherem um bom livro. Quanto mais irem a um espectáculo mais complexo ("elitista"). De modo que utilizar esta baliza é esquisito na origem.
Abraço, LA

Jorge Mendes disse...

"obcessiva"?!??

"É esquisito que alunos de 16 anos não saibam escrever e ler direito"?!?!?

Booom. Até fez estrondo!

Voto Branco disse...

Caro José,
Até concordo consigo quando diz que o que interessa é ler. O grande problema dessa visão é que infelizmente não se pode ler tudo, pois pode-se aprender tudo errado. Portanto, nem toda a gente pode ler de tudo... faço-me entender? (até as legendagens das tv's é de arrepiar...)
Outra questão é que a cultura não devia estar sujeita a IVA... mas será que esse isenção iria-se reflectir no preço final?
O elitismo na cultura é um facto. Pior ainda, é que algum desse elistismo não é mais do que simples "fica bem aparecer"!
Saudações

Toupeira disse...

"Olga Roriz no Teatro Micaelense com Inferno, sala timidamente cheia, elenco reduzido (apenas 5 bailarinos, 3 F, 2 M), performance irónica, obcessiva, transgressora, com selecção musical diversificada."
" É esquisito que alunos de 16 anos não saibam escrever e ler direito, quanto mais falarmos de entrarem numa livraria e escolherem um bom livro. Quanto mais irem a um espectáculo mais complexo ("elitista"). De modo que utilizar esta baliza é esquisito na origem."
Será que percebi mal (do alto dos meus milhares de livros já lidos e alguns compreendidos e mais os estudos superiores devidamente concluidos) ou frases destas são duma pura arrogância elitista, sem nexo a primeira,(o que é isso duma bailarina ser irónica ou trangressora?!!!) e demencialmente castradora do acesso à cultura, a segunda? Pelos vistos foi isso que o José quis evidenciar acima: uns quantos arrogantes alegadamente cultos que querem pensar e decidir pelos outros. Será uma patologia destes auto-intitulados intelectuais?

pedro lopes disse...

Caro Luís,

ainda bem que se concluiu, desse "almoço tardio", que não existe elitismo na literatura. Não sei quem esteve presente nessa reunião, mas terá sido, seguramente, gente das letras.
O que importa é que haja diversidade, pois os cidadãos não têm todos os mesmos interesses.

Quanto ao "Inferno", não creio que o número de elementos de um elenco, seja garantia de qualidade. Há até bons monólogos, que valem pela qualidade do actor.
...mas, como não estive presente, não posso aferir da qualidade da peça.

E os Turistas, eram Jorgenses ou de outro local?
Em qualquer dos casos, há que reconhecer que em S. Miguel há bem mais "confusão" do que naquela bucólica, tranquila e líndissíma ilha.

um abraço.

Ignorante assumido disse...

Xi, ki confusão vai nestas kabexas.

Zeca Couves disse...

Este blog daqui a nada parece o blog "Põe-te a (m)Ilhas)...

pedro lopes disse...

Caros "Ignorante Assumido" e "Zeca Couves",

importam-se de concretizar e desenvolver os vossos lacónicos e vagos comentários?

Luís Almeida disse...

Caro Pedro Lopes,

A ideia defendida é exactamente a de diversidade na literatura.

Quanto a "Inferno", nunca disse que não gostei, mas faltou-lhe algo mais. Gosto de grandes produções, e por vezes os orçamentos são curtos e impedem que se desloquem todo o elenco, será?

Os turistas eram mesmo de São Jorge.

Abraço, LA

PS - Quem acompanha a vergonha que estão a fazer na Praia dos Moinhos no Porto Formoso que se faça exprimir junto do SOS criado para o efeito.

Ignorante assumido disse...

Etiquetas: PASCOALICES; SABEDORIA POPULAR; ELITISMO CULTURAL; PSEUDO SUPERIORIDADE INTELECTUAL;

Toupeira Real disse...

ZÉ DAS COUVES e Ignorante
(m):ilhas e pascoalice tem direitos de Autor. Façam favor de serem corteses.

Voto Branco disse...

Sim, Sua Magestade.