05 agosto 2009

Aproveitar Enquanto é Tempo



Em tese, a avaliação e consequente progressão na carreira dos funcionários públicos, faz todo o sentido. No entanto, este modelo, que já está em vigor no continente e que vai começar aqui nos Açores, é tão complicado e tão cheio de vícios à nascença que dificilmente irá ter o efeito desejado.

Hoje, porém, há uma notícia que desmoraliza ainda mais todo e qualquer funcionário público e que mostra bem a abordagem dos actuais decisores políticos do país. Então é assim: parece que o Governo criou uma situação excepcional para os funcionários públicos que ocupam cargos de direcção, permitindo-lhes progredir na carreira mesmo sem terem sido avaliados.

Genial!

9 comentários:

Pedro Lopes disse...

Quando se exige que o exemplo venha de cima, surge agora esta vergonhosa excepção.

Eu sou a favor da avaliação do desempenho. Mas esta deve ser levada a cabo por gente competente, e sem um limite de cotas que exclua quem merece ser valorizado mas que, por imposição das mesmas, fica de fora.

O SIADAP ( sistema de avaliação dos funcionários públicos) impõe cotas de 5% para funcionários que possam ter como avaliação excelente, e 25% para o desempenho Relevante. Esta fórmula faz com que o comum dos funcionários que obtenha a classificação de Relevante (muito bom) durante 5 anos seguidos, só depois possa subir de escalão.
Mesmo os residuais 5% que obtenham classificação excelente durante 3 anos, são obrigados a esperar pelo anos seguinte para poderem aceder ao escalão imediatamente acima. Ou seja, com excelente, só passados 5 anos podem subir de escalão.

Mas para os dirigentes não há, nem avaliação, nem cotas limite. Ou seja, os amigos do partido que são nomeados, em vez de terem de aguardar de 5 a 10 anos para subir na carreira, bastam-lhes uns singelos 3 anitos e sem que prestem provas de bom desempenho a ninguém.

Em suma, o Zé povinho que se fo.... pois os seus chefes somam e seguem.

Pedro Lopes disse...

Correcção: Ou seja, mesmo com a nota máxima de Excelente durante 4 anos seguidos - o que é obra, atendendo ao facto de serem somente 5% dos funcionários públicos a poderem consegui-la -, o Excelente funcionário público somente subirá de escalão após 4 anos.

Já qualquer dirigente que ocupe um lugar de direcção, independentemente de ser medíocre, passados 3 anos acede ao escalão imediatamente acima.!?!?!

O objectivo desta medida é, em última análise, provocar uma desmotivação gritante nos Funcionários da Administração Pública......pois, já me esquecia, também tem por base afastar os bons profissionais do sector público.

Carlos Faria disse...

Independetemente do desequilíbrio e injustiça que a decisão de progressão automática das chefias cria, julgo que isto veio não só para favorecer os "cooperantes" com o sistema mas, sobretudo, para suavizar algum mal estar que se sentia na administração onde fermentava a ideia de que as cotas para os excelentes e relevantes, seriam reservadas para as chefias e não para os funcionários.

Toupeira Real disse...

Então o Rui ainda não percebeu como funciona o socialismo de pacotilha? Uma pista: a avaliação dos funcionários públicos foi em quase todos os sectores uma bandalheira. Tanto quanto sei, por alguns amigos me terem informado, a excepção na avaliação sempre aconteceu no sector da Justiça (Tribunais) onde os funcionários fotram sempre rigorosamente avaliados, segundo um sistema onde os mesmos participam, e a famosa nota de Muito Bom, que sempre foi atribuida indiscriminadamente no resto da função pública, ali era e, ao que me dizem, continua a ser excepcional.
Quando o senhor Sócrates ascendeu ao poder, veio com o discurso moralista de que isso não era possivel, que era injusto para aqueles que trabalhavam, etc, e coisa e tal... e tratou de arranjar um "esquema" de avaliação que permitisse derrubar tão grande injustiça, como é apanágio socialista.
Resultado? O senhor Sócrates politizou os cargos de chefia, passando estes a ser peões do interesse político e não do público e, por sua vez, as chefias, que já lá estavam e muitas são verdadeiras aberrações sem qualificações para ocupar os respectivos cargos (mas consta que é disto que o socialismo gosta), politizaram os subordinados, arregimentando 2 ou 3 fiéis "bufos de serviço", aos quais cabe a nobre função de receber a nota mais alta e a de intimidar os restantes colegas de serviço. Pelo meio, o Estado acha que o SIADAP é magnifico e a té lhe faz poupar uns quantos milhões de euros, certamente para os gastar em assessores políticos. Este é o Estado do funcionalismo público central e que vai chegar aos Açores.
Assino com o habitual pseudónimo, como sempre, por causa do "patrão", que não vive no mesmo mundo do César Júnior, apesar de frequentar locais comuns.

Anónimo disse...

Participe neste projecto.
www.autarquias.org

Kik disse...

Uma coisa é certa, comparativamente a outros países europeus Portugal tem excesso de funcionários públicos e défice de eficiência, para não chamar profissionalismo, nas suas acções. Neste caso combateu-se uma injustiça [muito bom e progressão garantida para todos, mesmo para aqueles que não fazem nada todo o dia] com uma ainda maior [dois pesos e duas medidas, claro está, a favorável para os "amigos" e a penalizar claramente todos os bons funcionários que existem]. É só vícios e rios de dinheiro a sair dos bolsos de todos nós para alimentar esse monstro!

Rui Rebelo Gamboa disse...

Sem dúvida, Kik, grande parte do eterno atraso económico português deriva da enorme máquina estatal.

Agora, só se conhecendo o SIADAP por dentro, como é o caso do Pedro e aparentemente do Toupeira, é que se pode avaliar bem a sua ineficácia e, pior ainda, as suas potenciais brechas a amiguismos etc.

Pedro, escreve lá um post sobre o assunto.

Pedro Lopes disse...

Rui,

ainda é cedo para responder a este teu dasafio. O SIADAPRA (o RA é de Região Açores), só agora começou a ser implementado por cá.

Deixa-me ver no que isto vai dar, e depois logo vejo o que tenho a dizer....ou escrever aqui.

O tempo de combater este modelo de avaliação já ficou para trás, agora resta ver como será aplicado. Constato com pesar, que as mudanças efectuadas até ao momento, sejam somente para isentar as chefias de se submeterem à avaliação e ao regime de cotas. Presumo que todas as chefias sejam excelentes!!!!

Para terminar acrescento que, infelizmente, os Funcionários brindados com a nota de Excelente ficam na obscuridade, pois este modelo de avaliação proibe que se saiba quem teve esta nota reservada a apenas 5% de privilegiados. Esta estúpida regra demonstra bem a incoerência deste sistema. Não querem tudo às claras. Preferem antes o obscurantismo e a desconfiança entre pares.

Carlos Faria disse...

Já agora, podiam ter melhorado o sistema fazendo separar as cotas dos 5% de excelente das chefias das dos 5% dos funcionários e o mal-estar acima referido diminuiria, não as injustiças e muito menos esta enorme dos chefes subirem automaticamente.
Ah... como funcionários não preciso de subir na carreira, por isso os 5% não me tiram o sono.