12 outubro 2009

Eleições Autárquicas

As eleições autárquicas devem ser olhadas da forma para que foram concebidas: a eleição daqueles que vão governar parcelas territoriais pequenas que, por proximidade, identificação e especificidade, são mais facilmente escrutináveis pelos eleitores/cidadãos.

Daqui resulta, por um lado, que as ideologias têm uma menor influência na escolha e, por outro, concomitantemente, que a volatilidade é mais real que em qualquer outro tipo de eleições.

Doutro modo, os candidatos apresentam-se como mais reais, são mais conhecidos e efectuam propostas sobre factos concretos, conhecidos pelos concidadãos que, por isso mesmo, estão mais sensibilizados para analisar os projectos e efectuar a escolha mais racional.

Se se quiser, a proximidade da verdade é mais facilmente perceptível pelo cidadão e é decisiva, ou, pelo menos, preponderante, na sua escolha. O eleito será aquele que melhor encarnar (ainda que aparentemente) estas qualidades.

Havendo, naturalmente, excepções, é esta a forma como muita gente (cada vez mais, à medida que o respectivo esclarecimento político aumenta) encara as eleições autárquicas, pelo que falar em derrotas ou vitórias globais ou extrapolar para lá de cada circunscrição concreta, pode ser um exercício carregado de subjectividade, susceptível de erros de avaliação objectiva e facilmente demonstráveis.

Para tal, basta olhar para meia dúzia de concelhos em todo o País e efectuar comparações com outro tipo de eleições e qualquer argumento, num ou noutro sentido, esmorecerá.

Pessoalmente, olhei para as candidaturas de três concelhos que me interessam especificamente e constatei que votaria em candidatos concorrentes por partidos diferentes: no da minha naturalidade, por exemplo, votaria num partido para a Câmara Municipal e Assembleia de Freguesia e noutro para a Assembleia Municipal; no concelho onde estou recenseado, por razões ético-jurídicas, não votaria no melhor candidato para a Câmara Municipal, o que me levaria a votar em branco, e votaria em partidos diferentes para a Assembleia de Freguesia e Assembleia Municipal; no concelho onde resido, votaria no mesmo partido para a Câmara Municipal e Assembleia Municipal e em branco para a Assembleia de Freguesia.

Haverá melhor exemplo de subjectividade analítica e, consequentemente, multiplicando-se os casos, maior possibilidade de erro?!

É que se se recorrer à ditadura dos números e dos objectivos políticos stricto sensu, poderíamos chegar à conclusão paradoxal de que, por exemplo, no dia 27 de Setembro, o partido vencedor perdeu as eleições, não só porque elegeu menos deputados como também perdeu a maioria absoluta, e os partidos perdedores venceram as eleições, exactamente porque aumentaram os respectivos mandatos e percentagens. E não foi isto que aconteceu, pois não?

Para o momento mediático, ficam vencedores e vencidos. Para a História, conclui-se que, logo que os cidadãos apreendam a existência de outros “prestadores de serviços” que melhor lhes assegurem as respectivas necessidades, decerto que a lealdade será objecto de transferência. Nada mais!

8 comentários:

Anónimo disse...

Nada justifica a merda que foi o resultado do meu querido ppd, nada mesmo. Ou melhor: só atotal ausência de ideias e de estatégias credíveis e comportamentos evoluídos, sem megalomanias, justifica a porcaria que foi. Venha daí agora o Duarte Freitas.

Ventoinha disse...

Duarte Freitas para onde ? Lugar da Berta?

Anónimo disse...

Afinal em quem votou?

Rui Rebelo Gamboa disse...

No geral, concordo com a tua análise.

No entanto, valores há que pesaram muito mais que os programas, ideologias, ou candidatos nestas Autárquicas. E quando falo em valores, falo em valores materiais mesmo.

Foi-me dado a conhecer, por um independente das listas socialistas às passadas legislativas regionais, que houve valores em dinheiro a serem distribuídos no Domingo passado. Esta pessoa começou por falar em 20€ e depois em 15€ e depois quando tentei saber mais sobre o assunto, refugiou-se num comprometedor "é preciso denunciar essas situações", sendo que o próprio falhou em perceber que ele é que lançou a insinuação e não soube concretizar (ou não quis).

Seja como for, penso que, mesmo com essas "más práticas", há vitórias claras, que não merecem constatação, como serão os casos da Praia da Vitória e, evidentemente, de Ponta Delgada, concelho que merece uma análise cuidada dos resultados.

Mas ambos esses assuntos ficarão para outra altura, para deixar o teu post respirar um pouco.

Anónimo disse...

Camaradas,

As fotos que têm surgido da sede do PSD na hora da derrota, assemelham-se em tudo a uma casa mortuária. Áliás um cenário que não mudou muito nos últimos dez anos, muda o líder, mais brilhante atrás, mais andrade à esquerda, mais maurício à direita. Mas ontem era mesmo o cenário de uma casa mortuária. Eu sou PSD de alma e coração, mas o resultado ontem redundou na porcaria em que se transformou o partido. Como disse um blogger: privatizaram o partido só para si, querem viver eternamente desta grande mama, como deputados, assessores, vereadores, falsos engenheiros competentes, falsos arquitectos competentes, gestores sem qualificações, vereadores incompetentes. Puta que os pariu a todos.

Diógenes Sousa disse...

que raio de social-democrata é que usa a palavra "camaradas"?

Estes chuchialistas, realmente, usam todo o tipo de estratagema para chegarem aos seus objectivos.

Ética é palavra proibida nas hostes cesarianas.

Anónimo disse...

ó diógenes que és um grã asno, todos sabemos. camaradas sim, porque não, sentes-te inferiorizado?

João Cunha disse...

Não penso que as eleições autárquicas sejam uma representação real de intenções de voto politico-partidárias mais abrangentes.

Como o post refere, e bem, a figura de Presidente de Câmara não é nada mais do que um "prestador de serviços", independente de cor partidária, o voto do constituinte está ligada à intervenção altamente localizada do edil na vida dos constituintes.

Se do partido A, B, ou C, votarei na pessoa que garantiu um emprego ao meu filho, me deu um jeito quando submeti um projecto à aprovação... ou construiu aquele belo campo de futebol onde eu possa fazer figuras tristes a cada fim de semana.