05 outubro 2009

A ética republicana e a verdade

Já o disse no comentário ao post do Rui sobre o 5 de Outubro, mas repito, para que as coisas fiquem claras: há gente com responsabilidades políticas que julga que o tempo é um factor legitimador e se refugia, como Sócrates, em "tremoços linguísticos", alegando que a democracia e a liberdade são elementos da República, como se as mesmas não fossem características intrínsecas da Monarquia Constitucional. Conclusão certamente extraída da leitura atenta do artigo 288º, alíneas b) e i) em conjugação com o artigo 46º da Constituição da República Portuguesa.





Só por pura ignorância histórica ou por demagogia, ou ambas, se podem afirmar coisas destas.


Em qualquer dos casos, bastava-lhe pedir conselho ao Dr. Rosas, membro do respectivo partido e especialista em Estado Novo, uma parte da História onde o princípio republicano de democracia é exemplar (e, já agora, ao Dr. Soares que, devido às costumadas piruetas, ficou confundido com a classificação do regime), para obter explicações verdadeiras (a não ser que só mesmo Ele seja a Verdade).



Para esclarecimento, eis alguns dos muitos exemplos de liberdade e democracia da I República (ética, como gostam de lhe chamar):


1910


Outubro, 8 - São promulgados os decretos que expulsam os Jesuítas e encerram os conventos, tanto os masculinos como os femininos.


Outubro, 10 - As perseguições religiosas, durante a primeira semana de governo republicano, fazem com que nas prisões de Lisboa estejam encarcerados 128 padres e 233 freiras, tendo sido assassinados dois padres lazaristas.

- As perseguições políticas em Lisboa produzem a destruição dos jornais Liberal, do partido progressista, e Portugal, católico.


Outubro, 14 - O jornal a República Portugueza começa a circular, defendendo a instauração de uma ditadura revolucionária.



Dezembro, 6 - O direito à greve e ao lock-out é severamente restringido, por um decreto que ficará conhecido pelo decreto burla.



1911



Janeiro, 7 - Greve geral dos ferroviários, que termina o movimento grevista iniciado em 15 de Novembro de 1910. A resposta da GNR aos piquetes e manifestações sindicais é normalmente violenta.


Janeiro, 8 - Continuação das perseguições políticas com assalto às redacções dos jornais monárquicos de Lisboa, Correio da Manhã, O Liberal e Diário Ilustrado.


Fevereiro, 1 - Continuação da repressão política, com a destruição do Centro Académico de Democracia Cristã.

Fevereiro, 17 - Continuam as perseguições políticas, com ameaças a Sampaio Bruno, que o levou a suster a publicação do Diário da Tarde, jornal que tinha fundado no Porto, e começado a sua publicação em 2 de Janeiro. Sampaio Bruno partiu para o exílio em Paris, depois de ter sido ameaçado pelo novo governador civil republicano do Porto.

Março, 14 - Promulgação da Lei eleitoral. O sufrágio universal, uma das principais bandeiras do partido republicano, não é estabelecido.

1912

14 de Janeiro - A perseguição anti-clerical continua, com a proibição dos bispos de Coimbra e Viseu residirem no distritos das suas dioceses.


28 a 30 de Janeiro - Greve geral em Lisboa de apoio aos trabalhadores do Alentejo. A resposta do governo levou ao encerramento de todas as sedes sindicais, declaração do estado de sítio e suspensão de todas as garantias constitucionais no distrito de Lisboa.

31 de Janeiro - Forças militares e da carbonária tomam de assalto a União dos Sindicatos. Os presos são enviados para bordo da fragata D. Fernando e do transporte Pêro de Alenquer.



Etc, etc, etc...




Obviamente, tudo isto não passa de mais uma invenção fantasiosa do Paiva Couceiro, devidamente acolitado pela direita reaccionária.

4 comentários:

Adepto do Soarismo disse...

E aquela atitude ética, republicana e socialista do António costa prometer aumentos de vencimento aos funcionários da CML que votarem nele?

Adepto do Cesarismo disse...

E aquela do Lello a falar de ética e a ser suspeito de trocar favores?

João Cunha disse...

E eu a pensar que fazia posts longos no meu blog... :)

De qualquer maneira, gostei do post pela boa argumentação do mesmo.

Reaccionário de Direita disse...

Pelo menos é mais curto do que a ética republicana... :)