Já o disse no comentário ao post do Rui sobre o 5 de Outubro, mas repito, para que as coisas fiquem claras: há gente com responsabilidades políticas que julga que o tempo é um factor legitimador e se refugia, como Sócrates, em "tremoços linguísticos", alegando que a democracia e a liberdade são elementos da República, como se as mesmas não fossem características intrínsecas da Monarquia Constitucional. Conclusão certamente extraída da leitura atenta do artigo 288º, alíneas b) e i) em conjugação com o artigo 46º da Constituição da República Portuguesa.
Por outro lado, entre outras patacoadas carnavalescas, o Pregador Laico (protótipo político do Princípio de Peter) que, como sabemos, não fala com "peixeiras", afirmou, com aquela convicção que todos lhe conhecemos de que Ele é a Verdade e a Verdade é Ele, que «República e democracia são uma e a mesma coisa» e sentenciou que «Na monarquia há súbditos, o poder não é eleito, o poder do chefe de Estado passa dentro da família, por linhagem familiar e não pela responsabilidade da escolha democrática e o país está dividido em duas classes, os soberanos que têm o poder e os súbditos que têm de obedecer aos soberanos, a monarquia é o contrário da democracia».
Só por pura ignorância histórica ou por demagogia, ou ambas, se podem afirmar coisas destas.
Em qualquer dos casos, bastava-lhe pedir conselho ao Dr. Rosas, membro do respectivo partido e especialista em Estado Novo, uma parte da História onde o princípio republicano de democracia é exemplar (e, já agora, ao Dr. Soares que, devido às costumadas piruetas, ficou confundido com a classificação do regime), para obter explicações verdadeiras (a não ser que só mesmo Ele seja a Verdade).
Para esclarecimento, eis alguns dos muitos exemplos de liberdade e democracia da I República (ética, como gostam de lhe chamar):
1910
Outubro, 8 - São promulgados os decretos que expulsam os Jesuítas e encerram os conventos, tanto os masculinos como os femininos.
Outubro, 10 - As perseguições religiosas, durante a primeira semana de governo republicano, fazem com que nas prisões de Lisboa estejam encarcerados 128 padres e 233 freiras, tendo sido assassinados dois padres lazaristas.
- As perseguições políticas em Lisboa produzem a destruição dos jornais Liberal, do partido progressista, e Portugal, católico.
Outubro, 14 - O jornal a República Portugueza começa a circular, defendendo a instauração de uma ditadura revolucionária.
Dezembro, 6 - O direito à greve e ao lock-out é severamente restringido, por um decreto que ficará conhecido pelo decreto burla.
1911
Janeiro, 7 - Greve geral dos ferroviários, que termina o movimento grevista iniciado em 15 de Novembro de 1910. A resposta da GNR aos piquetes e manifestações sindicais é normalmente violenta.
Janeiro, 8 - Continuação das perseguições políticas com assalto às redacções dos jornais monárquicos de Lisboa, Correio da Manhã, O Liberal e Diário Ilustrado.
Fevereiro, 1 - Continuação da repressão política, com a destruição do Centro Académico de Democracia Cristã.
Fevereiro, 17 - Continuam as perseguições políticas, com ameaças a Sampaio Bruno, que o levou a suster a publicação do Diário da Tarde, jornal que tinha fundado no Porto, e começado a sua publicação em 2 de Janeiro. Sampaio Bruno partiu para o exílio em Paris, depois de ter sido ameaçado pelo novo governador civil republicano do Porto.
Fevereiro, 17 - Continuam as perseguições políticas, com ameaças a Sampaio Bruno, que o levou a suster a publicação do Diário da Tarde, jornal que tinha fundado no Porto, e começado a sua publicação em 2 de Janeiro. Sampaio Bruno partiu para o exílio em Paris, depois de ter sido ameaçado pelo novo governador civil republicano do Porto.
Março, 14 - Promulgação da Lei eleitoral. O sufrágio universal, uma das principais bandeiras do partido republicano, não é estabelecido.
1912
14 de Janeiro - A perseguição anti-clerical continua, com a proibição dos bispos de Coimbra e Viseu residirem no distritos das suas dioceses.
1912
14 de Janeiro - A perseguição anti-clerical continua, com a proibição dos bispos de Coimbra e Viseu residirem no distritos das suas dioceses.
28 a 30 de Janeiro - Greve geral em Lisboa de apoio aos trabalhadores do Alentejo. A resposta do governo levou ao encerramento de todas as sedes sindicais, declaração do estado de sítio e suspensão de todas as garantias constitucionais no distrito de Lisboa.
31 de Janeiro - Forças militares e da carbonária tomam de assalto a União dos Sindicatos. Os presos são enviados para bordo da fragata D. Fernando e do transporte Pêro de Alenquer.
Etc, etc, etc...
Obviamente, tudo isto não passa de mais uma invenção fantasiosa do Paiva Couceiro, devidamente acolitado pela direita reaccionária.
4 comentários:
E aquela atitude ética, republicana e socialista do António costa prometer aumentos de vencimento aos funcionários da CML que votarem nele?
E aquela do Lello a falar de ética e a ser suspeito de trocar favores?
E eu a pensar que fazia posts longos no meu blog... :)
De qualquer maneira, gostei do post pela boa argumentação do mesmo.
Pelo menos é mais curto do que a ética republicana... :)
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