05 maio 2010

Harakiri político

Portugal é um país voyeur. Gosta de se intrometer na vida alheia, sobretudo vive de e para os factos da vida alheia. A comunicação social sabe disso e aproveita-se de tal, para os seus fins. Por seu lado, as figuras públicas, entre as quais os políticos, sabem disso e aproveitam-se de tal, para os seus fins. Aliás, nesse âmbito, conseguem sobrepor os respectivos interesses às suas divergências.
Pessoalmente, não me interessa a vida privada das pessoas, mesmo que, por força da interacção social, não me possa alhear da informação que me é fornecida. Doutra maneira, é-me completamente indiferente aquilo que o cidadão anónimo ou o mais colunável faça da e na sua vida privada ou, mais profundamente, na sua intimidade.
Abro, porém, excepções, nelas cabendo a prática de crimes, em geral, e o favorecimento pessoal usando a causa pública, em particular. Entre outras, estas situações deverão ser denunciadas nos locais próprios.
Qualquer cidadão que não tenha sido acusado ou condenado pela prática de qualquer um dos crimes acima referidos tem, pois, todo o direito a manifestar a sua indignação e, caso se sinta atingido na sua honorabilidade, a recorrer aos Tribunais.
Eis uma coisa que Ricardo Rodrigues, sobretudo ele, quer por profissão quer pelas funções actualmente exercidas, sabe especialmente.
Desconheço a razão que levou a revista Sábado a querer entrevistar Ricardo Rodrigues e este aceitar ser entrevistado. No entanto, seria ingénuo da minha parte não admitir o interesse mútuo, próprio das respectivas actividades. E é aqui que o deputado Ricardo Rodrigues terá, eventualmente, feito uma análise mais apressada daquilo que poderia ser a temática duma entrevista dada a revistas como a Sábado que, na linha da Visão ou da Focus, por exemplo, se limitam, na maioria das vezes, a inocuidades. Desta vez, calhou mal e calhou-lhe a ele.
Assim sendo, percebo a irritação pessoal de Ricardo Rodrigues. Porém, é inadmissível a atitude do deputado Ricardo Rodrigues. Politicamente, invocar a acção directa e a violência psicológica para justificar um acto absolutamente condenável, é um paliativo sem esperança. Resta-lhe tomar a única atitude digna.

4 comentários:

Unknown disse...

Embora de outras formas ou maneiras, o "nosso" Primeiro e outras Figuras deste "Jardim à beira-mar plantado", incluindo os arredores (Ilhas adjacentes), já contam, penso eu, e pelo que agora me lembro, com 4-quatro ou 5-cinco "harakiri`s", políticos e pessoais.
Pena é que não respeitem o Código dos Samurais e não fassam o que eles faziam, no que respeita ao "harakiri", obviamente.
É só mais um "caso" a que a (des)Justiça tem dado azo e variadíssimas oportunidades.
Como por cá se diz:
"Tás te safando?"
Haja Saúde. (e Bofes para a ter)

Serrote da Vila

Floribela Acores disse...

"Resta-lhe tomar a única atitude digna"

Talvez devolver os gravadores, depois de limpar as gravações, seja uma das hipóteses.

Floribela

Flávio Gonçalves disse...

"Insanidade temporária" seria uma desculpa muito mais adequada.

Toupeira Real disse...

Creio que o termo jurídico é "incapacidade acidental".