28 janeiro 2011

Para se saber de quem é tem de se saber a quem pertence

Extraordinária a prestação do ex-presidente Sampaio como testemunha no julgamento do camarada Penedos. "As prendas de Natal não cabiam em três salas [...] Nunca comprei uma caneta ou um relógio, mas nunca me senti minorado na minha honestidade por causa disso.".

Não percebendo que não está em causa a sua inquestionável honestidade, nem sequer a eventual bondade desinteressada dos ofertantes, o camarada Sampaio, tal e qual como Mário Soares, já agora, que encheu a sua Fundação com ofertas destinadas ao Presidente da República, confunde a sua pessoa e o cargo que ocupou. Para ele, a distinção não releva. E a aceitação de presentes ao Presidente da República e posterior pública inversão da posse, para a sua esfera privada, enquanto cidadão, legitimam, sem qualquer rebuço ético-moral, a usucapião.

Se se considerar que as palavras do ex-presidente Sampaio foram proferidas num contexto judicial em que estão em causa, entre outras coisas, uns quantos alegados favores alegadamente pagos com uns quantos milhares de euros ou com umas alegadas cristaleiras da Vista Alegre, o que resulta inquietante para o cidadão comum é a ligeireza de costumes, ou respectiva análise, por quem, atenta a exposição pública e o facto de ter exercido o mais alto cargo político da Nação, deveria, pelo permanente escrutínio a que está sujeito, saber conjugar os pronomes possessivos e, sobretudo, compreender que as ofertas podem ser inofensivas mas têm destinatários concretos que não se encerram no próprio ego. Me, myself and I, não deveria ser o código de conduta de um político.

"Esta caneta que uso foi-me oferecida. Mas não sei dizer quem ma deu", legitima qualquer cidadão a dar boleto a uma qualquer liberalidade, por mais excêntrica que esta possa ser.

Mutatis mutandis, e passe o exagero, se alguém, que não conhecemos de lado algum, nos depositar uns milhões de euros na conta bancária e os começarmos a gastar, aceitando a benesse, também poderemos dizer que nos foram oferecidos, por desconhecermos o depositante? Segundo o precedente, sim e estaremos de consciência tranquila.

Perante exemplos destes, poder-se-à apontar o dedo e atirar a primeira pedra?

E, depois, queixam-se da abstenção...


6 comentários:

Ladrões com Ética disse...

Ainda bem que não lhe «ofereceram» uma casinha de férias...

Anónimo disse...

Não atire pedras quanto tem telhados de vidro. Havia de ver a "casinha" de férias do Sampaio e a polémicia à volta dela.

Ética dos Ladrões disse...

Que mal faz um presidente receber como ofertas canetas e calendários da Pirelli?

Anónimo disse...

Da mesma forma que a vida para além do défice conduziu à bancarrota

Anónimo disse...

Um exemplo para todos os companheiros:
Jorge Nuno Sá, 33 anos, presidente da Juventude Social Democrata entre 2002 e 2005, actual conselheiro nacional do PSD, casa hoje com o seu companheiro. Quanto se sabe, é o primeiro político português a casar com uma pessoa do mesmo sexo. Jorge Nuno Fernandes Traila Monteiro de Sá foi deputado (2002-2009) do PSD pelo círculo de Viana do Castelo. Recentemente, distinguiu-se por ter sido o único membro do Conselho Nacional do PSD a votar contra o apoio à recandidatura de Cavaco Silva. Parabéns. À esquerda não há registo de precedente. É pena.

burns disse...

que se podia esperar o de um inútil como o sampaio senão imbecilidades?
a alegada superioridade moral permite tudo,incluindo trocas de favores e presentes sem que se ponha em causa o elevado valor cívico desses cavalheiros
ser de esquerda em portugal dá para tudo