27 abril 2011

37 Primaveras depois...

Assinalámos mais um aniversário do 25 de Abril, com os cada vez mais esbatidos festejos nos centros das principais cidades, ao som das velhinhas canções de intervenção. Mas passados estes 37 anos o que fica realmente da revolução do cravos?

Para nós, que já nascemos e crescemos no pós 1974, esta é uma análise que pode e deve ser feita com outro distanciamento e outra frieza, que nos permitem, talvez, tirar conclusões diversas daquelas a que fomos habituados a ouvir.

O Estado Novo foi um regime ditatorial que dirigiu os destinos de Portugal durante mais de 40 anos. Ao contrário do que muitos dizem, não foi um regime fascista, na verdadeira acepção da palavra. Foi, no entanto, um regime que teve muitos defeitos, entre os quais, obviamente, o facto de limitar as liberdades individuais dos cidadãos e a respectiva repressão. Também foi o regime responsável pela longa e desnecessária guerra no Ultramar, que marcou toda uma geração. Em todo o caso, o Estado Novo também foi bem sucedido nalgumas áreas que importa relevar sem qualquer complexo. Desde logo, e através duma astuta política externa, manteve Portugal fora dos horrores da II Guerra Mundial. Neste contexto, aliás, é fundamental realçar a importância que os Açores tiveram, pois foi a posição geoestratégica das nossas ilhas que deu a Salazar um poderoso trunfo, que soube sempre usar com mestria na relação com Churchill e Roosevelt. Mas é na forma como o Estado Novo geriu as contas públicas que devemos centrar agora as nossas atenções.

Salazar herdou um país sem rei nem roque, um país que conseguiu a proeza de ter tido 45 governos entre 1910 e 1926. Desse marasmo político-social, surgiu a Ditadura que, apesar de tudo, conseguiu equilibrar as contas públicas de Portugal. É certo que o fez à custa de muita austeridade e de sacrifícios da população, mas o que é factual é que se assistiu a um crescimento económico. E é neste contexto que devemos fazer um paralelismo com a situação que se vive hoje. Se o regime de Salazar exagerou na austeridade, o regime de Sócrates exagerou no despesismo. É conveniente fazer uma analogia simples para compreendermos como Sócrates governa o país: uma família antes de entrar em grandes gastos, tenta perceber muito bem até onde pode gastar. É claro que a banca vai apresentar soluções de crédito fácil em que pode gastar agora para pagar depois, mas cabe a essa família perceber se tem ou não capacidade para assumir essa responsabilidade. E foi isso que fizeram os governos socialistas dos últimos anos. Cultivaram uma política de despesismo e irresponsável de gastar o que se tem e o que não se tem.

Precisamente nas comemorações do 25 de Abril de 2003 o então Presidente da Republica, Jorge Sampaio criticava o PSD que governava na altura, com uma frase que ficaria para a História. Dizia Sampaio que há mais vida para além do Orçamento, a propósito da linha que os sociais-democratas estavam a seguir de contenção orçamental. Veio a perceber-se depois que Sampaio tinha já delineado um plano para derrubar o governo do PSD e do CDS de modo a preparar o caminho para o seu camarada Sócrates. Os resultados desse plano maquiavélico estão agora à mostra: um país na bancarrota e uma mão cheia de seguidores de Sócrates muito bem colocados.

37 anos depois, concluímos que os governos do PS retiraram ensinamentos do pior do Estado Novo: mais precisamente na arte de manipulação da comunicação social, ou no descartar de indivíduos contrários aos seus interesses, por exemplo Teixeira dos Santos, ou Ana Gomes. Não aprenderam nada do positivo do regime ditatorial, pelo contrário.

Passados 37 anos sobre o 25 de Abril, encontramos-nos numa situação pior, muito pior do que em 1974. Uma situação, aliás, que muitos comparam ao final do século XIX. Nós não merecíamos isto. Tivemos muitas oportunidades que foram pura e simplesmente desperdiçadas. Não merecíamos ter sido invadidos pelos tecnocratas do FMI e da Comissão Europeia para nos ensinarem como nos devemos governar.

8 comentários:

Reaccionario disse...

Digam isso ao pessoal que nos «governou» desde o 25 de Abril.

Digam isso ao PSD e o ao PS que durante estas décadas gozaram com o povo português e «encheram-se» bem!

Justina da Carreira do Tiro disse...

No meio deste post há uma frase que merece um cometário.
"Veio a perceber-se depois que Sampaio tinha já delineado um plano para derrubar o governo do PSD e do CDS de modo a preparar o caminho para o seu camarada Sócrates. Os resultados desse plano maquiavélico estão agora à mostra: um país na bancarrota e uma mão cheia de seguidores de Sócrates muito bem colocados."
Acha que Santana e Portas estavam governar como deviam? Nunca chegaremos a saber onde aquele desgoverno nos iria levar, assim o presidente fez o que lhe competia.
Será que Cavaco tem feito o que lhe compete?!

Anónimo disse...

Estamos piores? Mas onde é que essa cabeça estava em 24 de Abril de 1974?
Quandos analfabetos? Emigrantes? Gerra Colonial? Servidão? Falta de liberdade?Saúde?Comunicações?PIDE/DGS?
Diz-lhe alguma coisa?
Valeu a pena o 25 de Abril. Cometeram-se erros? Certamente. Mas o saldo é francamente positivo.

Rui Rebelo Gamboa disse...

Eu gostava de ter o seu nome para poder contra-argumentar.
Está bem claro que estou a falar em termos económicos. Em termos de contas públicas estamos piores do que em 1974. Sem mais.

De resto, o seu comentário é altamente demagógico. Qualquer país evoluiu nos últimos 40 anos. É a ordem natural das coisas. A falta de liberdade e respectiva repressão estão devidamente assinaladas no texto.

De resto, analfabetismo, pobreza extrema, falta de condições minimas de vida, eram muito piores em 1926 do que em 1974, tal como hoje são melhores do que em 1974. É a ordem natural das coisas.

Anónimo disse...

E a referência à PIDE. Esqueceu-se? Eu não. Por isso prefiro ficar anónimo.Não venha aí um Governo de direita e obrigue ao silêncio com penalização rectroactiva.

Teu Justino Até Amanhã disse...

ó Jutsina, não se escreve "cometário", é comentário mulher, c-o-m-e-n-t-á-r-i-o
quando me vais atender o tlm?

Anónimo disse...

Caro Rui
Desde quando é que é necessário o nome para contraditar as ideias?
Só se for para oprimir o pensamento com algum controlo social, é que formalmente há liberdade de expressão mas materialmente ela acaba aí, e posso dizer que PS e PSD nesta sua senda de sucessivos governos têm refinado os métodos de limitar a livre expressão(muito mais a organização).
A questão de saber se Salazar foi Fascista ou não pode ser uma questão doutrinal, agora não afasta o problema de Salazar ter estagnado a economia e Portugal mais não era que a vergonha da Europa, por pior que tenha sido os seus amigos Franco, Mussolini ou Hitler...
Isto não retira a vergonha de PS e PSD terem desaproveitado em termos do País a oportunidade criada com o 25 de Abril.
E a responsabilidade é antes de mais daqueles que são os seus militantes.

Rui Rebelo Gamboa disse...

É claro que para mim, pessoalmente, é importante saber com quem estou a falar. Não tem nada que ver com partidos políticos. Tem que ver com a minha maneira de discutir e debater assuntos. Faço-o com anónimos, mas evidentemente preferia se dessem a cara e os nomes. Há uma diferença enorme. Como posso eu distinguir você de outro qualquer anónimo? Porque é importante fazer essa distinção, de modo a se poder estabelecer uma linha de pensamento coerente com o nosso interlocutor. Da minha parte, sabem bem o que penso o que escrevo.