12 abril 2012

A demissão de Vasco Cordeiro

Vasco Cordeiro abandonou o Titanic, saltando para uma balsa fictícia, porque sabe que daqui a dois dias este se afundará. O tempo político não podia ser mais perfeito: aquele que o nomeou sucessor está longe, sob o sol brasileiro, a propósito de uma comemoração sobre a chegada de açorianos (eu teria escolhido o mais distante Hawai, bem mais simbólico, pela precocidade); o congresso do PSD-Açores é já este fim-de-semana e o calendário eleitoral aperta-se para aqueles que preferem uma votação maciça do eleitorado nas eleições regionais.

Vasco Cordeiro sabe que não lhe é confortável a forma como foi nomeado sucessor de Carlos César. Injusto ou não, o facto é que a forma como o “politburo” determinou a sucessão na liderança socialista caiu mal entre os militantes socialistas e é vista pelos açorianos em geral mais ou menos como o Teatro D. Roberto: há sempre um bonecreiro a agitar as marionetes. É disto que Vasco Cordeiro se quer afastar. Por isso, escolheu, tardiamente, o momento brasileiro (pessoalmente creio que em consonância e sob o apadrinhamento do actual líder socialista).

Além disso, Vasco Cordeiro tem-se dedicado a prometer a realização de façanhas que onerarão o próximo Governo Regional, algumas das quais já poderiam ter sido realizadas nestes últimos 16 anos e outras que são impossíveis de concretizar a curto prazo. Se não for quimera, no mínimo serão obras de Santa Engrácia, porque hoje até o mais distraído dos cidadãos sabe qual é a situação económico-financeira nacional e, por arrastamento, regional, ainda que as contas não lhes sejam facultadas. Os votos actualmente já não se caçam com umas quantas promessas, nem, apesar do aumento assustador, com o perverso (no uso) rendimento social de inserção. A realidade social nua e crua será o tema real da campanha eleitoral e, para isto, os genes socialistas não estão preparados.

Com a demissão de Vasco Cordeiro, o congresso do PSD-Açores ganha um novo interesse, não por causa daquela mas porque permitirá que a líder incontestada, e escolhida por todos os militantes, demonstre a sua força, a clareza das suas ideias e, acima de tudo, a sua compreensão da realidade, a sua proximidade aos problemas dos cidadãos e as respectivas respostas, sem artifícios. Se a intenção era lançar fel, a demissão de Vasco Cordeiro é mel no congresso do PSD-Açores.

Finalmente, coloca-se o problema da antecipação das eleições regionais. Ordinariamente, as eleições regionais deverão realizar-se entre 28 de Setembro e 28 de Outubro. Contudo, num cenário de demissão ou dissolução, as mesmas deverão ser marcadas no prazo de 60 ou 55 dias após estes factos. Admitindo-se a hipótese de eleições antecipadas, por qualquer razão, estas ocorrerão, na melhor das hipóteses em finais de Junho ou mais certeiramente em Julho, caindo dentro das férias laborais de muitos eleitores.

É do interesse dos açorianos, enquanto eleitores e no uso do direito de escolha supremo, que este cenário seja o real?

Obviamente que não! Um cenário destes apenas aproveitará a quem tenha interesse e proveito com uma elevada abstenção. Tanto quanto é possível afirmar, este seria um cenário do interesse particular e exclusivo do Partido Socialista, como primeira e, possivelmente, única maneira de se manter no poder. Quanto menor for a abstenção, maior é a possibilidade de o PSD ser o vencedor das eleições regionais e, interesse geral acima de tudo, com forte possibilidade de obter maioria absoluta, factor primordial para a estabilidade governativa. A não ser que se queira continuar a afastar os eleitores açorianos da decisão do seu destino, não tem qualquer sentido a antecipação das eleições regionais. Porém, prevendo-se a turbulência governativa nos estertores que se avizinham, será de todo o interesse que estas se realizem no mais curto tempo possível, dentro do calendário ordinariamente previsto pela lei eleitoral da ALRA, pelo que a data ideal será o próximo dia 30 de Setembro. A quem de Direito!

6 comentários:

Bandeira Açores disse...

Mas anda tudo bêbado ou quê.
Mas quem é que quer o PSD a governar seja o que for...
Vejamos o que se passa a nível nacional. Incompetências, incongruências e afins... e o que temos por aqui no PSD Açores não é muito melhor.
Sócrates fez muito mal ao país, mas ainda antes dele andaram uns tipos coligados (PSD e CDS/PP) que tiverem que ser postos a andar senão tinham afundado isto em menos de um piscar de olhos, e actualmente lá está novamente PSD e CDS/PP a (des)governar o país.
A Berta ganhar o quê, para os Açorianos serem capachos de Passos Coelho, nem pensar.

Anónimo disse...

ouvi varias intervencoes do congresso e o que voçe escreveu está lá. hoje no açoriano oriental o joaquim machado tambem escreveu texto identico ao seu. voçes no psd nao tem ideias novas? É tudo cassete?

Anónimo disse...

Eu, que sempre votei PSD, depois de ouvir e ver alguns cromos no Congresso, vou simplesmeste abster-me.

Como é possível que o PSD, outrora campeão das autonomias, agora esteja transformado num peluchinho de Lisboa?

Ao menos o Alberto João Jardim dá luta a Lisboa e defende a sua Região!

O que é que está a passar.se com o PSD da Drª Berta, Sr. José Gonçalves?

Bandeira Açores disse...

Berta Cabral já anunciou quando irá "abandonar" a CMPD. Depois verifiquei a data no calendário e percebi o porquê de Berta Cabral "abandonar" a CMDP em Julho. É que assim ainda dá tempo para ir a algumas procissões dos impérios do Espírito Santo. Claro que depois há que pôr os pés de molho, resta saber se é de vez...

Anónimo disse...

Anónimo das 15:39

Se houve ideia que ficou muito bem explícita no discurso da presidente do PSD Açores e dita olhos nos olhos, sem qualquer tibieza ou dúvida interpretativa, ap 1º ministro ali presente é que para o PSD-Açores em primeiro lugar estão os Açores. Basicamente, amigos, amigos, negócios, à parte. Com o devido respeito, se procura um argumento para a abstenção terá de ir buscá-lo a outro lado. Mas, pegando nessa sua ideia, se analisar bem o que têm sido estes 16 anos, é mais do que certo que encontrará muitos e diversos pretexots para não se abster e, acima de tudo, em consciência, penalizar aqueles que têm exercido o poder. Obviamente, se por acaso conhecer os meus escritos, saberá que nessa matéria jamais me intrometo na "obrigatoriedade do voto". Pelo contrário, defendi neste blogue, contra uma ideia de Carlos César, o direito de cada um fazer o que bem entender sobre o mesmo. Não posso, claro, deixar de apelar a que vote e que o faça consciente e livremente. Mas só.
JG

Anónimo disse...

Caro JG
Quem quer ser ingénuo está no seu direito, o que não pode é evitar o contraditório que lhe diz que se Berta Cabral fosse coerente com a defesa dos Açorianos(e por que não com os Portugueses)contra as medidas do Passos Coelho era ter-lhe dito, que não concordava com elas e não que não iria aplicar aos Açorianos as medidas que apoia para os Portugueses, se for eleita irá dar o dito por não dito, como fez o Passos Coelho quando da Campanhã eleitoral jurou, chorou e pediu perdão, por tudo e por nada, para depois fazer tudo ao contrário, não acabou com as gorduras do Estado, acabou com os subsídios só para os trabalhadores, aumentando as subvenções para os Patrões e sobretudo para os estrangeiros, Angolanos(outrora "perigosos comunistas")e Chineses(ainda ditos Comunistas) como no BPN e EDP.
Aumentou os impostos e mexeu na saúde e nas reformas ETC, ETC,
e tudo isto com a evidencia de aumentar a carga fiscal e diminuir os resultados de equilíbrio orçamental.
Outra questão é a ingenuidade de pensar de pensar que Berta Cabral, será mais firme na relação com o governo que o é João Jardim, que apesar de ser o "infante terrível" lá aceitou a receita quando necessitou de pedir dinheiro ao Passos Coelho,(não é o PSD Açores, que diz que o orçamento regional necessita de ser equilibrado?).