A RTP-Açores está neste momento numa
fase cinzenta, numa espécie de terra de ninguém, onde não se sabe
bem como será o futuro.
Há, sensivelmente, um ano atrás a
candidata pelo PSD, Berta Cabral, anunciou que, caso ganhe as
eleições, irá alterar profundamente o modelo organizativo da
RTP-Açores, sugeriu então a criação de uma sociedade anónima,
financiada com capitais públicos do Estado e da região e também
com capitais privados. O PS rapidamente veio com a lengalenga do costume, acusar Berta de estar ao
serviço de Lisboa, porque entendia que o financiamento da RTP-A devia
ser integralmente garantido pelo Estado português. Esta posição de
quase birra do PS era e é consentânea com a posição que o governo
regional sempre teve em relação a este assunto, durante estes
últimos 16 anos: lavar as mãos de quaisquer responsabilidades, remetendo-as para Lisboa, mas ao mesmo tempo
ter o poder para pressionar a informação na RTP-Açores sempre que
lhes fosse conveniente. Para os governos socialistas foi sempre essencial ter uma televisão fragilizada, de modo a estar vulnerável a pressões. Foi esta posição que trouxe a RTP-Açores à
actual situação, onde operam com equipamentos obsoletos que já
deviam estar em museus e em condições físicas deploráveis.
Só que agora, na semana que passou,
Vasco Cordeiro vem surpreender toda a gente e tomar uma posição
contrária àquela que sempre foi a do PS e do governo regional.
Prometeu que, caso ganhe as eleições, a RTP-Açores passará a ser
financiada directamente aqui dos Açores com recurso ao valor da taxa audiovisual
que nós pagamos, mais o financiamento de Lisboa. Uma solução diametralmente oposta àquela que o
seu Partido Socialista sempre defendeu e muito semelhante à que
Berta Cabral já tinha apresentado.
Vasco Cordeiro deve ter finalmente
percebido que de nada vale continuar sob o diktat doutrinário que
César impõe e que todos os socialistas repetem até à exaustão.
Concluiu que de nada vale manter aquela posição de birra e bater o
pé a exigir sempre que Lisboa pague tudo, mesmo perante a evidência
que Lisboa não vai pagar mais nada e que, pelo contrário, vai é
cortar, com os efeitos negativos que andamos a constatar, há anos, para a qualidade da RTP-Açores. Por isso, Vasco Cordeiro pensou pela sua cabeça (ou terá sido?) e
apresentou a única solução que é viável para a manutenção da
nossa televisão: sermos nós aqui a assegurar o seu funcionamento na íntegra, sem dependermos de Lisboa.
Vasco Cordeiro esteve bem a sua solução é positiva, só que Berta
Cabral já tinha pensando nisso antes. Ou seja, Vasco Cordeiro acabou
por colocar-se contra o PS e do lado de Berta Cabral, a sua opositora
em Outubro.
Esta situação coloca os actuais
responsáveis da RTP-Açores numa situação bastante desconfortável
e que passa facilmente para o telespectador. A actual direcção e
respectivas chefias estão a por em marcha o plano de contenção de
custos ordenado por Lisboa, de “concentração da produção
regional à noite”. Só que, como foram e penso que ainda são,
contra a opção da janela de 4 horas, encontraram uma solução que
não é nem carne nem peixe. Mantêm a RTP-Açores no ar durante o
dia todo, apesar de intercalada com grandes blocos dos canais
nacionais e não têm nada para por no ar à noite, que era quando
devíamos ter a produção regional. A actual direcção e
respectivas chefias estão numa situação muito delicada, porque já
sabem que em Outubro toda a estrutura da RTP-Açores, tal como a
conhecemos, e esse trabalho sem rumo que estão a realizar não vai
servir de nada, pois uma nova televisão vai surgir, seja com Berta
Cabral, seja com Vasco Cordeiro. A nova RTP Açores vai ter que ter o
centro da decisão final aqui, nos Açores. E os actuais profissionais da actual RTP-Açores terão que ser, necessariamente, a massa humana do novo canal.
Não nos podemos dar mais ao luxo de remeter para Lisboa todas as principais decisões; seja de gestão, seja de meios, seja de pessoal ou conflitos internos, seja do que for. Porque Lisboa, como já se viu, simplesmente não quer saber da RTP-Açores há muito tempo. Sempre que são confrontados com uma tomada de decisão que envolva financiamento, a decisão de Lisboa é sempre “corte-se”. Se forem confrontados com outras questões, como decisões de funcionamento hierárquico, ou problemas internos, abstêm-se. E foi isso que o governo regional assistiu impávido e sereno durante todos estes anos, a cortes e mais cortes e a esta morte agonizante e lenta da RTP-Açores.
Não nos podemos dar mais ao luxo de remeter para Lisboa todas as principais decisões; seja de gestão, seja de meios, seja de pessoal ou conflitos internos, seja do que for. Porque Lisboa, como já se viu, simplesmente não quer saber da RTP-Açores há muito tempo. Sempre que são confrontados com uma tomada de decisão que envolva financiamento, a decisão de Lisboa é sempre “corte-se”. Se forem confrontados com outras questões, como decisões de funcionamento hierárquico, ou problemas internos, abstêm-se. E foi isso que o governo regional assistiu impávido e sereno durante todos estes anos, a cortes e mais cortes e a esta morte agonizante e lenta da RTP-Açores.
Em
Outubro, a nossa televisão vai mudar para melhor. De certeza!
4 comentários:
Caro Rui Rebelo
Eu quero, tu queres ele quer, mas quem manda é Lisboa e o resto é paisagem!...
Esta coisa das eleições é um "fartote de vilanagem", todos dizem o que é conveniente para enganarem o Povo e conseguirem o seu voto, mas ninguém diz a verdade.
Todos sabem que Miguel Relvas do Governo PSD de Portugal, quer alienar a televisão publica(e tudo o resto a preços de saldo)e por isso esta tentativa de colocar a televisão RTPA nos privados, não é novidade nenhuma, resta saber, por um lado se é aceite por Lisboa e se tem viabilidade económica, ou é antes de mais uma parceria público privada, para entregar os lucros e responder pelos prejuízos.
A televisão regional poderia ser interessante, no caso da autonomia ser exercida de forma mais adequada, mas há sempre o risco de ser desviada para uma maior partidarização, e se perder o conteúdo informativo e cultural, livre e independente.
Não é segredo para ninguém que Mota Amaral e César,(mais o primeiro que o segundo, sejamos sinceros) usaram e abusaram da televisão, onde ditaram as suas leis e influencias, não será Berta Cabral(excepção, se for eleita).
Que se pense numa RTP, Açores, adequada aos tempos e as necessidades dos Açores, tudo bem, mas só terá efeito se for um debate independente dos interesses da Governação, dos partidos ou de tudo o que não tenha a região e o seu Povo como centro da sua preocupação.
Para melhor não tenho a certeza...
Não seria mais simples e infinitamente mais honesto afirmar que a RTP de cá e de lá é um perfeito asilo de incompetentes que há muito deveriam ter sido postos no olho da rua????
Caro Anonimo
A incompetência e a competência é um chavão que é usada para esconder interesses muitas vezes obscuros.
Será que as outras televisões privadas(incluindo as de cabo)serão mais competentes que a RTP?
Se elas são incompetentes não seria mais adequado torna-las competentes do que simplesmente, passa-las a privadas?
Ideias como competência e incompetências são ideias genéricas e indeterminadas que necessitam de serem trocadas por miúdos, isto é caracterizadas, desde logo porque incompetência e o seu reverso é sempre relativa, tem que ser comparado com outro padrão neste caso de competência, depois esta eficácia pretendida será qualitativa ou quantitativa?
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