18 julho 2012

O eleitor e a data das eleições regionais


Escrevi a frase acima em 12 de Abril, num texto sobre a demissão de Vasco Cordeiro, reflectindo sobre a hipótese de haver eleições antecipadas, que rebati.

Hoje é actual e, sobretudo, mantêm-se as premissas da proposta. 30 de Setembro deveria ser o dia das eleições regionais.

Com efeito, além das razões ali referidas, constata-se que a classe política não terá percebido o sentimento geral dos eleitores e o seu desalento perante o que se lhes apresenta.

E o que pensa o eleitor?

A política, no puro sentido de bom governo da polis, está mortiça e, como tal, corre os perigos inerentes a esse facto, por causa dos políticos. Credibilidade, seriedade, vontade de realizar o bem comum cada vez estão mais afastadas da percepção popular, por incapacidade daqueles ou ineficaz comunicação.

Actualmente, com ou sem culpa, a classe política transmite a ideia de que está afastada da realidade. Com ou sem culpa, para ela, na (in)consciência do cargo, o eleitor é, parece que é (ou aparenta que é) mero instrumento para a realização de fins que não se adequam à vontade primária. Repete-se, com ou sem culpa dos intervenientes, com muitos flancos dados para o efeito e, mais importante do que a verdade ou mentira de tudo isso, essa é a crença do eleitor, logo, dificilmente contrariável.

Não se afasta de tal, a discussão à volta da data para as próximas eleições regionais. Qualquer que seja a data escolhida por quem de direito, a decisão deverá assentar em pressupostos claros e certos, atendendo à vontade geral, não dos representantes, uma vez que não se entendem, mas dos representados.

 Os representados já se deram conta de que vai haver mudanças no poder.

Os representados pressentem que tais mudanças serão radicais: não se tratará de um mero legado entre amigos, mas antes da afirmação de uma nova realidade, totalmente diferente. E isso muda tudo. Requer bom senso na decisão e rapidez na execução.

Desde logo, os representados não querem que o tempo cronológico arraste indefinidamente o tempo dos beijinhos e da profusão de abraços. Estão fartos das promessas que ouvem e nas quais fingem acreditar. Os representados querem realidade; os representados querem saber com o que contar, sem quimeras ou incontáveis promessas irrealizáveis. Esse é o mundo que já conhecem e no qual não acreditam.

Os representados querem a verdade. A verdade jamais lhes será transmitida na corda esticada do novo arruamento, do novo fontanário ou da nova rotunda sem utilidade alguma no meio de uma estrada.

Os representados estão fartos das caudas em leque de pavões anafados. São belas mas inúteis, por não correspondência.

Os representados sabem que isso sucederá no dia 5 de Outubro, a propósito de mais uma comemoração de um acontecimento que não lhes interessa, que não os beneficia, que alguns desconhecem e no qual muitos não se revêem. Contudo, será dia de fontanários para alagar o dia 7 de Outubro.

Será um dia de fontanários, como foi a súbita religiosidade que atacou os autarcas socialistas do concelho de Vila Franca do Campo para acompanharem a caminhada de fé processional de Carlos César no passado dia 15 na modesta, mas genuinamente popular, festa da Ribeira das Taínhas. Porque popular, os representados não apreciaram. Porque modesta, os representados criticaram. Um pavão ou dois ainda vá, é costume, fica bem, abrilhanta e não incomoda,  mas todos em peso?!      

Além do mais, os representados já perceberam que não resulta bem para a vida comunitária que aqueles que vão sair elaborem e determinem, sem grandes margens de manobra, a forma como os recursos públicos devem ter destino. É desperdício de tempo, de meios e de dinheiro. Afinal, isso vai constranger durante um ano a governação daqueles que pensam diferente, agem diferente e querem realizar diferente.

Sem necessidade de grandes elucubrações, os eleitores não querem eleições no mês de Outubro.

Quanto mais depressa, melhor, os representados querem que os seus representantes assumam funções sem alardes nem festança. Apenas trabalho. Trabalho sério, realizado por aqueles que os sintam e que os conheçam, saídos do seu meio. Renovação feita com e por gente simples, comum, mas capaz.    

Tal aconselha o senso comum que é uma coisa tramada quando é cristalino ou, como diria Sherlock Holmes, "não há tolos mais incómodos do que aqueles que têm espírito".

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro José Gonçalves
Um texto aparentemente cristalino, independente e cheio de boas intenções democráticas sobre a melhor gestão da coisa pública, mas porque será que fico em dúvida das boas intenções?
Fico porque todo este repentino espírito independente e bem intencionado sobre a governação, assenta numa pobre ideia,antecipar o mais rápido possível as eleições Regionais(é claro que o PS, quer exactamente o contrário)...
Antecipar as eleições tem necessariamente uma intenção reduzir o desgaste do PSD em função do governo PSD/CDS de Lisboa!
Seria bem melhor que o PSD e o autor, propusesse um debate sobre uma melhor governação(que envolve-se os erros de uns e de outros, tanto nos respectivos governos, como nas autarquias, ou tão só enumera-se um conjunto de erros e a forma de os esconjurar) mas em vez disso se fica numa forma mais ao menos "esperta" de conseguir o Poder, sem cuidar de ter outro estilo de governação.
Assim é vira-se o disco e toca-se o mesmo.

Anónimo disse...

Anónimo
Como diria Fernando Pessoa "não sou ninguém" e apenas sofro de senso comum. Só dei a conhecer a opinião que a população em geral manifesta, e que vou ouvindo largamente por aí. Tal mais não é do que cuidar do interesse público mostrando aos políticos o sentido da vontade geral. A decisão cabe-lhes a eles. A sua teoria falece perante mim, por não ser político.

JG

Anónimo disse...

Caro JG
Ser ou não ser politico, será a questão?
Temos o politico profissional e o homem politico comum, sou eu é você e todos os homens e mulheres(para elas não se zangarem) que têm consciência e participação cívica, o que é o seu caso.
A vontade geral, mais do que a data das eleições é uma vida pública mais saudável e mais de acordo com o interesse geral.
Que me importa que as eleições sejam amanhã, se tudo ficar na mesma(ou pior)?
Se esperássemos que os ditos políticos alterassem a nosso favor a gestão da coisa pública, bem poderíamos esperar deitados...
Será que não ouviu a população a clamar por outra actividade politica?
Bastava, não só juntar uma a outra coisa e se calhar juntar algo de novo da sua autoria e tinha um post digno e apreciável, eu sei que é capaz, ponha as mãos à obra.
Saudações

Anónimo disse...

diz se para ai que o PSD vai meter o joel neto a deputado ou dar lhe uma pastinha tipo importante de uma diretoria regional. até andou nas jornadas da juventude. gosto muito de pessoas que estao sempre do lado do poder. é sinal que sao imprescindiveis