26 setembro 2012

PAEF - O Programa de Governo do PS

Fomos governados nos últimos 16 anos pelo mesmo governo socialista, que teve ao seu dispor, e para o efeito, mais de 25 mil milhões de euros. Beneficiamos de avultadas ajudas comunitárias e nacionais que permitiram ao governo socialista deixar obra feita nos Açores. No entanto, os socialistas deixam também uma dívida que ainda não sabe bem qual o montante, mas que nunca será inferior a 3 mil milhões de euros.

No entanto, todas as obras que foram feitas pelos sucessivos governos socialistas incorreram sempre em enormes derrapagens. Basta recordar as SCUT, com valor inicial de anunciado de 320 milhões mas que custarão 1,3 mil milhões de euros. O Hospital de Angra, que foi anunciado por 130 milhões, mas que custará mais de 330 milhões. Além disso, os governos socialistas deixam uma pesada herança em termos de sub-desenvolvimento económico, temos a mais alta taxa de desemprego de sempre da nossa Autonomia, registam-se quebras em praticamente todas as áreas desde o turismo, passando pela agricultura, acabando como é evidente na construção civil, que foi basicamente sentenciada de morte quando o governo decidiu adjudicar a maior obra de sempre, as SCUT, a um consórcio estrangeiro. Aqueles tais 320 milhões que acabaram por ser 1,3 mil milhões de euros que custaram as SCUT nunca deveriam ter saído da região. Deveriam ter ficado cá dentro para gerar e dinamizar a nossa economia. A concessão das SCUT a uma empresa estrangeira foi um erro que a História não vai perdoar a César.

À parte disso, a governação socialista caiu num erro que é normal em quem fica tempo a mais no poder. Os abusos e o amiguismo político marcaram definitivamente esta governação socialista, em particular nos últimos mandatos. Este é, aliás, um problema recorrente nos ciclos políticos muito longos, seja onde for. É um fenómeno político amplamente estudado e analisado ao qual os Açores não fugiram à regra. A recente auditoria do Tribunal de Contas às ajudas de custo de alguns membros do governo veio apenas comprovar aquilo que já todos desconfiávamos. Num momento de crise, como o que vivemos, ficarmos a saber, por exemplo, que um Secretário recebe ajudas de custo só por estar em casa, roça o insulto.

Sendo certo que este governo teve qualidades, a verdade é que também teve defeitos. O problema é que as qualidades foram-se desvanecendo e os defeitos foram-se acentuando. Hoje, tal como em 1996, a alternância democrática será fundamental para a higiene política da nossa sociedade. É imperativo quebrar os vícios e os interesses instalados e reorganizar o modelo político de acordo com as necessidades da população e não, como agora acontece, de acordo com os interesses de quem governa.

E assim podemos perspectivar o que poderá acontecer aos Açores depois destas eleições. A escolha é entre Berta Cabral e Vasco Cordeiro. Com Vasco Cordeiro já sabemos o que nos reserva o futuro. Mais do mesmo, mas com uma grave penalização. É que o PS está preso a um memorando de entendimento (o PAEF) que assinou com o governo da República que prevê, entre outros: cortes em toda a linha de ordenados, despedimentos na função pública e uma perda de Autonomia inédita, que passa pela incapacidade de criar qualquer empresa pública, colocando em risco o futuro da RTP Açores e que passa pela impensável necessidade de vermos o nosso Orçamento ser aprovado previamente por Lisboa antes de ser discutido na Assembleia Legislativa. No fundo, o PS e Vasco Cordeiro entram numa grave contradição nestas eleições, pois candidatam-se a uma Assembleia que estará vazia de poder, devido à sua própria incapacidade política.

Poder-se-á dizer que acontecerá nos Açores o mesmo que aconteceu no continente, ou seja, o PS assina o acordo, mas será o PSD a pô-lo em prática. Nada mais falso. É que no continente, a troika exigiu um amplo entendimento entre todas as forças políticas para assinatura do memorando. Aqui nos Açores a situação é completamente diferente, o governo do PS, o governo ao qual Vasco Cordeiro promete dar continuidade, assinou este acordo com os Açores às escondidas. Nem partidos da oposição, nem Assembleia regional, nem ninguém foi tido ou achado. Por isso, é que é perfeitamente legítimo que o PSD de Berta Cabral queira rever os termos do acordo. Só o Partido Socialista está preso àquele terrível acordo. Mais ninguém. Os restantes açorianos podem, com toda a legitimidade, dizer não e exigir uma renegociação.

O PS deixou os Açores numa situação económica desastrosa. A solução não pode passar por tirar mais a quem trabalha, como prevê o acordo que o PS assinou com Lisboa, mas sim tirar da classe política e dirigente, para devolver aos que mais precisam e à classe média trabalhadora. De resto, toda e qualquer promessa feita por Vasco Cordeiro, desde a redução dos preços das passagens aéreas, à criação de emprego, soa sempre engodo, pois se ele próprio esteve no governo nestes últimos 16 anos, porque não fez nada do que agora promete? A resposta é simples, porque não consegue.

A alternância é fundamental para as democracias. Só assim se evitam e se quebram vícios e dependências que minam e corroem de uma boa governança. O governo regional que iremos eleger no dia 14 não pode existir para servir uma minoria do partido que o elege, o governo regional que iremos eleger no dia 14 tem que existir para servir todos Açorianos.

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro Rui Gamboa
Governo para todos os Açorianos, não é o slogan que todos os Governos, desde Mota Amaral, apregoam?
E depois de estarem no Governo o que fazem?
Será que Berta Cabra, se comportou como Governanta de todos os munícipes de Ponta Delgada?
Que o Governo Açoriano tem que se adequar ao memorando entre Lisboa e Açores, é perfeitamente normal, agora só nos resta saber se é mais fácil, reagir tendo negociado ou sendo correlegionário de Passos Coelho e tendo tido uma subserviência a toda a prova, à sua politica mormente no que concerne ás medidas lesivas dos Açorianos(como foi o caso de Berta Cabral)?
Teimar em persistir nesta receita bipolar entre PS e PSD é omitir a necessidade de fazer um balanço entre a Governação PS/PSD e encontrar novas perspectivas, que podem passar até por esses Partidos, mas sobre outras politicas.
Nesta conjuntura é necessário, ir muito mais além, deste folhetim, entre Berta e César, é necessário preparar o futuro dos Açores, unindo a sociedade e encontrando respostas para o atraso nos índices de escolaridade e desenvolvimento e buscando outros rumos económicos e sociais para os Açores e para os Açorianos.

Anónimo disse...

Alguém pode explicar o que faz um jovem de 20 anos com profissão de estudante e outra de 34 estudante universitária nas listas de candidatos do PSD a deputados para a Assembleia LEGISLATIVA Regional, para além de outros que nunca leram um decreto lei?
Que aquele semi círculo já não representava nada já se sabia, agora chega mais uma prova do interesse e respeito que o PSD tem por ele ; ou será que eles fazem parte daqueles que a Berta Cabral quer cortas nas mordomias?

Contribuinte disse...

A anedota socialista chega ao ponto de apresentar o filho do Carlos César como trabalhador/estudante. Estudante ainda vá mas trabalhador?! Alguém sabe onde e quando o filho do Carlos César trabalhou (exercer uma profissão a sério)? O que todos sabemos é que o filho do Carlos césar é deputado por mérito de ser filho. é um insulto para os açoreanos que o filho do Carlos Césat invoque que trabalha. 16 anos de poder dá nisto. Reve-se a vida e a história como faziam nas ditaduras ao sabor dos interesses.

Anónimo disse...

caro Rui Gamboa
Que alternância defende?
A de dividir entre PS e PSD a governação,permanecendo a mesma politica que nos conduziu até aqui?
Ou um debate amplo na sociedade Açoriana sobre o passado presente e futuro dos Açores?
A situação em que estamos não se compadece com resultados eleitorais nem em apresentação de pseudo programas eleitorais cozinhados nas costas dos açorianos e completamente desviados da prática e dos próprios militantes dos partidos em causa...
É ou não verdade que os partidos mormente o PSD regional, não tem vida própria nem actividade e militância, fora dos partidos eleitorais?
Que ideia e que estudos foram feitos da exacta realidade social económica e politica dos Açores?
Como é possível ser completamente, inconsciente sobre a terrível situação, económica, social e mesmo civilizacional dos Açores e dos Açorianos?
Querer ligar a realidade somente ao Governo de César é um erro oportunista mas que facilmente(caso desse a vitória a Berta Cabral)se iria reverter contra esta...
Enfim sem me alongar não me canso de avisar que este período negro de Portugal exige maior preocupação de análise e acção politica para ser resolvido a contento, senão será mais uma manobra oportunista com consequências imprevisíveis para a realidade Açoriana.