17 outubro 2012

Açores 2012



O dia 14 de Outubro poderia ter sido o dia mais importante da história recente dos Açores. As nossas contas públicas não estão controladas e consegue-se claramente ver uma linha descendente da nossa economia. No dia 14 de Outubro foi apresentada aos açorianos uma alternativa, uma solução, um plano bem delineado que tinha como objectivo recuperar a nossa economia e os empregos que entretanto se têm vindo a perder. Mas afinal no dia 14 de Outubro não se fez essa história, e os Açorianos preferiram claramente manter o Partido Socialista no governo por mais 4 anos. A maioria absoluta que os socialistas conseguiram não deixa margem para grandes dúvidas, os Açorianos penalizaram fortemente a governação do PSD nacional e as medidas de austeridade de Pedro Passos Coelho nas urnas da região. 

Talvez seja caso raro, senão mesmo único, uma pessoa estar tão bem preparada para ganhar umas eleições, com tudo a seu favor, como era o caso de Berta Cabral, e ser objectivamente prejudicada por factores externos. Sentia-se que se as eleições tivessem ocorrido há um ou dois meses atrás, os resultados seriam diferentes. Sentiu-se que Passo Coelho a partir de Lisboa com as medidas de austeridade, com os erros e as respectivas emendas, afectaram definitivamente a campanha nos Açores. E isto não é nada que surpreenda, pois por um lado já sabíamos que Passos Coelho se está a lixar para eleições, ele próprio o disse, e também sabíamos e sabemos que em Lisboa, esteja o Partido que estiver no governo, pouca ou nenhuma consideração têm pelos Açorianos. O resultado está à vista e Passos Coelho foi o primeiro a assumir naturalmente a responsabilidade pela derrota do PSD nos Açores.

No entanto, não é só Passos Coelho que explica tamanha hecatombe por parte do PSD Açores nestas eleições. A estratégia interna social-democrata também falhou nalgumas questões essenciais. Quem anda na rua e fala com os Açorianos, sabe o que estes pensam e sentem. Não é preciso nenhum especialista em eleições vindo do continente para nos dizer o que sentimos. Pelo contrário! E os Açorianos há muito tempo que falam e pedem renovação ao PSD Açores. Os Açorianos estão fartos do PSD Açores antigo e do seu bolor que, de forma resiliente, se mantém agarrado às paredes da sede social-democrata. A cara e o trabalho de Berta Cabral, por si só, dificilmente seriam suficientes para obter uma vitória. A renovação foi feita num faz-de-conta. Como sempre, o eu venceu sobre o nós. E os pequenos eus, uns mais que outros, lá ganharam e o nós perdeu. Era previsível e assim aconteceu.

A hora agora é de saber o que o PSD deseja para o seu futuro. Nem o partido pode ver nos seus militantes algo que pode usar durante quatro anos e depois descartar na altura de eleições. Nem os militantes podem ver no partido um meio para atingirem os seus objectivos pessoais. O tempo das jogadas palacianas de corredor, ou melhor de vão de escada, têm que acabar, e destas eleições deve resultar uma grande reflexão interna, que devolva o PSD aos Açorianos. As eleições autárquicas estão já ao virar da esquina e exige-se um PSD pronto para lutar pela vitória em cada freguesia em cada conselho dos Açores.

É que nós não podemos viver num sistema unipartidário para sempre. Nós não somos nem a China nem a Rússia, somos e temos uma cultura democrática que importa manter. A alternância democrática é, pois, essencial. 

O PS tem agora mais 4 anos para governar os Açores. Esperam-se tempos difíceis, porque aquela tal curva descendente que constatamos ao analisar a nossa Economia, não se deverá inverter tão cedo. Vai continuar a faltar dinheiro. Aliás, a falta de dinheiro e o desemprego infelizmente deverão continuar a aumentar nos Açores. Ou isso, ou Vasco Cordeiro terá que ter um ás de trunfo qualquer escondido que nos salve duma ajuda externa que acabará sempre por ser paga com altos juros pelos Açorianos. 

Acima de tudo, e agora, passadas as eleições, o importante é o futuro dos Açores e dos Açorianos. É para esse fim que unidos devemos todos trabalhar.

10 comentários:

Anónimo disse...

Caro Rui Gamboa
Não obstante alguns avanços no entendimento da politica em geral e do seu afloramento nos Açores em particular,continua com erros( diria infantis)na compreensão dos fenómenos políticos.
Diz que "...não podemos continuar a viver num sistema uni-partidário para sempre..." mesmo em sentido figurado a sua consideração é completamente anedótica, pois considera que o sistema é uni- partidário, pela razão do seu partido não vencer as eleições e depois confunde este facto à realidade da China e da Rússia(julgo por não serem permitidos outros partidos)mas pelo que sei, nem o PSD foi impedido de concorrer, nem lhe faltou(ao contrário dos pequenos partidos)meios para divulgar as suas ideias(embora elas fossem limitadas.)
A sua ideia peregrina é que defender a democracia é exclusivamente defender que o seu partido possa ganhar as eleições, mesmo que os eleitores não queiram e que esta democracia deve, quanto muito, ser extensível ao PS e a mais ninguém, aí se consubstanciaria a sua noção de alternância democrática...
Você engana-se também na consideração dos factores essenciais da derrota do PSD, considerando que eles são essencialmente externos, mas independentemente dos factores ligados ao desnorte de Passos Coelho serem importantes, será que você nunca ouviu falar que nunca são os factores externos, os mais importantes, você já viu um ovo não galado dar pinto, por maior calor que apanhe?
Com certeza que não e isto é porque os factores internos são os decisivos, o mesmo acontece com as eleições, se Berta Cabral não tivesse cometido erros(desde logo em não se demarcar atempadamente de Passos Coelho, ou da sua politica)se tivesse a confiança do eleitorado, podia haver todos os factores externos negativos que ela ganhava mesmo.
Você põe a tónica nos problemas de governação do PS nos Açores, mas esquece-se que eles serão influenciados pela politica de austeridade do Governo Central do PSD(se ele se aguentar)e como tal eles até poderão ser uma mais valia do PS, desde que Cordeiro saiba reverter a seu favor o descontentamento com Lisboa.
A questão também não é que o governo de Lisboa não queira saber dos Açorianos, ou pelo menos não quer saber mais dos Portugueses (ou "continentais")do que dos Açorianos, a questão é das politicas erradas do seu Partido "mãe" em Lisboa(será que o filho é muito diferente?).
Continua a pensar na politica como um jogo de futebol(embora tenha tido alguns avanços)em que interessa é ganhar mesmo com a mão de "Maradona"...
Não, a politica é a arte ou o saber de gerir a coisa pública em prol das pessoas...
Para isso estávamos numa altura ideal de repensar tudo e tentar de forma global ajustar a prática á teoria politica consentânea com o interesse dos Açorianos.
Enfim, ficarão algumas ideias cabe aos Sociais democratas dos Açores decidirem se querem aproveitar esta oportunidade para mudarem, ou se pelo contrário querem continuar a ser um "saco de gatos" prontos para fugirem e tentarem arranhar-se uns aos outros na fuga.
Saudações

José Gonçalves disse...

Subscrevo integralmente o conteúdo do texto. Acrescento, apenas, que quase não tenho dúvidas relativamente à ajuda externa. Assentes no gasto público cesariano, e caso Vasco Cordeiro se apresente na mesma linha governativa, os Açores vão precisar dela mais do que nunca, a não ser que, por sorte do destino, Lisboa, no seu Alcácer-Quibir, lhes traga um D. Sebastião que os proteja.

Anónimo disse...

Não concordo com “os Açorianos preferiram claramente manter o Partido Socialista no governo por mais 4 anos. A maioria absoluta que os socialistas conseguiram não deixa margem para grandes dúvidas…”
A única maioria absoluta foi a da abstenção! em particular em Ponta Delgada que me chocou verdadeiramente. Talvez para a abstenção concorde com “os Açorianos penalizaram fortemente a governação do PSD nacional e as medidas de austeridade de Pedro Passos Coelho nas urnas da região.”, mas, sobre esta matéria, muito mais terá que ser dito e analisado. A classe Politica Portuguesa está, de um modo geral, muito mal!

Anónimo disse...

Caro Rui Gamboa

o seu colega Gonçalves mandou uma boca ao guru. Percebe-se agora que o guru nao era socialista. Já está em Lisboa com a missao cumprida. Viva os Açores

Rui Rebelo Gamboa disse...

Ao 1º anónimo,
Antes demais, pedia-lhe para assumir a identidade. Sinceramente não sei porque não o faz. Garanto-lhe que teria outro feedback meu e até para a sua própria auto-estima seria bom.

Depois agradecer as suas simpáticas palavras. Estou a progredir. Muito obrigado.

Quanto à questão que coloca, eu não percebo como não consegue observar os vícios que se instalam quando um único partido fica demasiado tempo no poder. Não tem nada que ver com a obrigatoriedade do partido A, B ou C ganharem. Não, nada disso. Defender a democracia, como o faço, não é defender o meu partido. É a necessidade de higienizar o espaço político. Aliás, isto é algo já amplamente discutido e penso que é unânime, que a alternância não só é saudável, como deve ser o próprio sistema a implementar medidas para que ela ocorra, daí se ter aprovado a lei da limitação de mandatos.

No mais, ponho a tónica na governação do PS Açores, porque é disso que se trata agora. Claro que para si, os factores externos não contam para nada quando se trata da derrota do PSD, mas já são fundamentais quando se trata dos problemas económicos estruturais que os Açores têm.

Subscrevo, no entanto, esta sua ideia "Não, a politica é a arte ou o saber de gerir a coisa pública em prol das pessoas..." Claro que sim! Pelo contrário, a política não é, nem pode ser, uma feira de vaidades, ou um veículo para ganhar notoriedade, ou para se ir com a mão ao do pote. E eu digo isto de um ponto de vista completamente equidistante a nível partidário, ou seja, serve para uns como para outros. Mas, como quem está no poder há 16 anos é o PS, são os militantes/simpatizantes socialistas que mais têm beneficiado desse lado terrível da política.

Vá lá, assuma-se de vez. Talvez, quem sabe, podemos vir a ter boas trocas de ideias aqui. Com anónimos, já criei a minha regra há muito tempo, recuso-me a entrar em discussão. Fiz esta excepção por si. Devolva-me lá o favor e assuma-se :))

Cumprimentos

Rui Rebelo Gamboa disse...

Já agora, que abro excepção para um, tenho que o fazer para o outro anónimo. Acho que está enganado. A abstenção não foi assim tão alta. Como sabe, o que acontece é que continua a haver um enorme desfasamento entre a realidade e os cadernos eleitorais.

Café Puro disse...

Em termos de análises eleitorais, sugiro também as do blog "o arrastão" e do "Faial o dia seguinte" no facebook

Anónimo disse...

Caro Rui Gamboa
Não é pelo facto de ter uma identidade que altero a minha maneira de comentar, aja alguém que só por uma vez, tenha sido injustamente criticado, com termos ou afirmações que não sejam dignas dum contraditório saudável...
Comecei no lugar de Ponta Delgada a comentar sobre um pseudónimo que mantenho até hoje, já tinha pensado estender este meu pseudónimo ao vosso blog, (nem eu sei, talvez por facilidade,) comentei como anónimo aqui, mas penso, não por ter colocado como condição dialogar comigo(como sabe, o interesse ou é comum ou não vale a pena)mas por já ter esta ideia, o meu pseudónimo é Açor,
e assim vou continuar a comentar independentemente da sua vontade.
Dito isto e agora que pode ligar os meus comentários ao pseudónimo, poderá saber que fui dos mais firmes críticos do Sócrates em frutuosos debates com o digníssimo JNAS, seu camarada no PSD, que tanta falta faz, nestes meios.
Outra questão que não coloco, a minha identidade é perfeitamente pela razão que não pretendo protagonismos, e tão só quero vincular as minhas ideias de forma o mais independente possível e só na presunção que elas possam contribuir para o debate...
Como lhe disse não apoio o PS regional, muito menos o de Lisboa, e posso até lhe dizer que apesar de não ser contra os partidos e considerar que eles são necessários, não nutro especial simpatia pela prática de todos eles, na medida que eles não têm sabido ter uma prática de acordo com a saudável gestão da politica e da parcimónia com que deviam selar pela utilização dos dinheiros públicos.
Apelei ao voto nos pequenos partidos para alargar a possibilidade do confronto democrático na região.
Não tenho qualquer problema com a justa aspiração em ganhar eleições e ocupar os cargos públicos, limitei-me a contraria-lo na ideia que esta alternância estava como que reservada aos dois partidos PS e PSD, como se eles fossem uma acção Nacional mais alargada...
Eu penso e é isto que tenho lutado, é que há que alargar horizontes, sobre as saídas politicas para os problemas Açorianos que se situam no campo da demografia, economia, ensino, saúde e cultura dos Açores e nos Açores.
É muito pouco preocupar-se exclusivamente com o resultado eleitoral de quatro em quatro anos, como se fosse um jogo entre Benfica e Sporting que o que interessa(para o comum adepto) é a vitória.
A derrota eleitoral devia servir como já comentei para arrumar a casa e entender os verdadeiros problemas do PSD e dos Açores e não para embarcar no desatino de próximas eleições e vitórias, sem que elas estejam alicerçadas na correcção dos erros detectados,não exclusivamente do ponto de vista de resultados imediatos mas na mensagem e no trabalho pro-activo na sociedade que possa ser o pilar desta vitória.
É claro que estou a desconsiderar as diferenças ideológicas que nos separam, e estou a fixar-me só na mesma vontade de servir os Açorianos, não tenho a ideia que tudo no PSD é mau, mas para que não seja, é necessário denunciar o Governo de Passos, Portas, relvas e Borges e a politica que lhe está subjacente, ao seu programa de austeridade, estou convicto que o facto de Berta Cabral não se ter demarcado a seu devido tempo de Passos, contribuiu bastante para isso.
Não leu nos meus comentários que as razões exteriores não tinham importância, certamente que tiveram o que disse(o que é valido para toda a realidade)é que os factores internos é que são os decisivos...
Em situações normais estaria consigo na mudança do governo nas situações de desgaste deste, mas pelos motivos que escrevi, acho que foi melhor assim, independentemente de considerar que o PS necessita de repensar a sua prática e de se autonomizar dos disparates que fez, mesmo que não seja fácil o facto de ser outro líder é uma oportunidade a aproveitar...
Seja como for e desde a autonomia os Açores não se repensaram, apesar dos avanços da autonomia, ela copiou os erros de Lisboa e neste desiderato, julgo ser urgente um debate alargado sobre o passado, presente e futuro dos Açores.
Saudações
Açor

Rui Rebelo Gamboa disse...

Pois, eu ia-lhe sugerir que, caso entendesse não usar a sua verdadeira identidade, ao menos usasse um pseudónimo, de modo a podermos identifica-lo com uma linha de pensamento.

De resto, continua a interpretar-me erradamente, eu não vejo a democracia como um jogo entre o sporting e o benfica. Vejo é que um partido estando muito tempo no poder, corrompe-se, cria vícios dentro da sociedade e do sector empresarial, escolhe uns em detrimento de outros, afasta a meritocracia.

Quanto ao debate alargado sobre passado, presente e futuro dos Açores, concordo plenamente.

E só lhe aponto no seu comentário o facto de que no PSD não existem "camaradas", mas sim "companheiros".

Cumprimentos

Anónimo disse...

Caro Rui Rebelo Gamboa
Sabia que lhe iria fazer uma certa urticaria, ao falar em termo camaradas,(eu uso alternadamente vários, como para lhe retirar a carga depreciativa) mas a verdade é que o termo camarada, era e é usado em várias profissões nomeadamente nas profissões marítimas, seja como for há que respeitar os costumes das organizações, a mim não considero certos termos ofensivos e julgo que a sociedade devia se alargar no conceito democrático de aceitar a divulgação das ideias, mesmo quando elas sejam negativas como as fascistas etc(combatidas no contraditório respectivo)mas separando sempre as ideias das respectivas práticas erradas.
Aproveito o ensejo para fazer um reparo ás minhas afirmações que como são ao correr do teclado e com o calor da dialéctica, nem sempre são as mais acertadas, assim foi errado ter dado alguma ideia de superioridade do meu entendimento da politica em relação à sua análise, elas são somente de acordo com as ideias de um e de outro e no debate podemos e devemos aproveitar tudo o que for possível aproveitar do outro, assim devia ser o dialogo, ouvir, digerir e afastar o errado e aproveitar o certo, sem tabus ou ideias feitas.
Eu estou de acordo que um longo período do mesmo Partido no governo, pode criar problemas de democracia que podem ser resolvidos com novos "inquilinos", mas esta solução não é automática e deve deparar-se sempre, com o ditado"...para pior, já basta assim..."
Fico contente por entender a minha mensagem de promover um debate sobre a realidade económica, politica e social nos Açores, e dai colher ideias e resultados para a transformação dos Açores, já tinha lançado este repto na blogosfera, mas com excepção de si ninguém ainda tinha reconhecido o alcance da ideia.
Fico contente por ter atendido a mensagem, o que confirma que mesmo com ideias diferentes, podemos e devemos beneficiar do debate.
Saudações
Açor