24 dezembro 2012

A bênção e o esquecimento







Amigos,
          Bacalhau a lascar, polvo tipo creme, batata farinhuda, raba macia, azeite do ano, alho polpudo, vinho já aprovado pelo S. Martinho, dióspiros tal mel, colgalho de uva de rei, já passota, rabanada húmida, filhó fofa, café preto e quente, um gole de jeropiga adamada, e a rematar um cálice da fina, – tudo por baixo de um dossel de fumeiro com varas da loura alheira, da esperta linguiça e do impante salpicão, entre o reverendo palaio e o botelo anafado, e diante do lume de achas de carvalho, assistido por um podengo meditabundo. Entretanto, o cordeiro cuscúcio e o buliçoso cabrito impacientam-se na fila, aguardando a vez. E a ver vamos no que dá a espera nocturna ao irmão javali.           
Que mais quer um cristão?
A bênção de Deus e o esquecimento dos governos, responde-me minha avó Georgina.
          Boas festas. 



7 comentários:

Simão Faial disse...

Luiz André,

Obrigado pela tua partipação neste forum de discussão, que é uma referência no panorama açoriano.

Conheço o Luiz André desde 68,ainda no tempo que usava calça piugeira, e cabelo estufado.

O Luiz distinguia-se na escola como o mais audaz, não necessariamente o mais eloquente, derrotando sempre o Artur nos jogos florais.

Foste dos poucos corajosos que nunca deixou que a boina de fuzileiro ficar quedada perante um ataque ao nosso Portugal.

Como recordar a tua ajuda à reconstrução da escola primária em Vila Carmona? Como recordar a tua atitude abnegada de salvamento do merceeiro perneta na incêndio da palhota?
Como recordar aquela vitória moral em que foste à praia onde os terroristas tomavam banho passear de calções com uma piuga na algibeira?

Um abraço ou um cachuço, como dizíamos em Angola

Tó Ricardo disse...

Caro Luiz de Mont André

Desde já aproveito para mandar um abraço ao Luiz e dar os meus parabéns por esta grande aquisição do Blog. Gostaria apenas de fazer um apelo a quem gere o Blog para que inclua alguma informação relativa à Casa dos Segredos.

Obrigado. Abraço

Anónimo disse...

Eu, em 68, se usava alguma coisa, seria bibe, quando muito. Mas não deve coactar a imaginativa e hermenêutica do leitor ou comentador pio.
L d M

Anónimo disse...

Aliás: «não se deve coarctar»,leia-se.
L d M

Anónimo disse...

Mas, caro Artur, muito me entristece a sua falta de pontaria. Hoje, teria eu com uma peúga a relação que Proust desenvolveu com uma madalena...
L d M

Anónimo disse...

Junta-lhe uns peixinhos do rio!

Anónimo disse...

Já que o meu amigo é apreciador da boa mesa e do Sul, junte-lhe umas migas e uma carninha de porco preto, encerrado por um queijinho de Serpa, tudo devidamente acompanhado pelo vinho regional.