05 dezembro 2012

Mário Soares e o seu FMI

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Em Agosto de 1983, o Governo do Bloco Central PS-PSD, assinou um memorando de entendimento com o Fundo Monetário Internacional. Os impostos subiram, os preços dispararam, a moeda desvalorizou, o crédito acabou, o desemprego e os salários em atraso tornaram-se numa chaga social e havia bolsas de fome por todo o país. O primeiro-ministro era Mário Soares. Veja-se como o homem que hoje quer rasgar o acordo com a troika defendia os sacrifícios pedidos aos portugueses.

Os problemas económicos em Portugal são fáceis de explicar e a única coisa a fazer é apertar o cinto”. DN, 27 de Maio de 1984

“Não se fazem omoletas sem ovos. Evidentemente teremos de partir alguns”. DN, 01 de Maio de 1984
Quem vê, do estrangeiro, este esforço e a coragem com que estamos a aplicar as medidas impopulares aprecia e louva o esforço feito por este governo.” JN, 28 de Abril de 1984
“Quando nos reunimos com os macroeconomistas, todos reconhecem com gradações subtis ou simples nuances que a política que está a ser seguida é a necessária para Portugal”. Idem
Fomos obrigados a fazer, sem contemplações, o diagnóstico dos nossos males colectivos e a indicar a terapêutica possível” RTP, 1 de Junho de 1984. Idem, ibidem
A terapêutica de choque não é diferente, aliás, da que estão a aplicar outros países da Europa bem mais ricos do que nós” RTP, 1 de Junho de 1984
Portugal habituara-se a viver, demasiado tempo, acima dos seus meios e recursos”. Idem
O importante é saber se invertemos ou não a corrida para o abismo em que nos instalámos irresponsavelmente”. Idem, ibidem
“[O desemprego e os salário em atraso], isso é uma questão das empresas e não do Estado. Isso é uma questão que faz parte do livre jogo das empresas e dos trabalhadores (…). O Estado só deve garantir o subsídio de desemprego”. JN, 28 de Abril de 1984
O que sucede é que uma empresa quando entra em falência… deve pura e simplesmente falir. (…) Só uma concepção estatal e colectivista da sociedade é que atribui ao Estado essa responsabilidade. Idem
“Anunciámos medidas de rigor e dissemos em que consistia a política de austeridade, dura mas necessária, para readquirirmos o controlo da situação financeira, reduzirmos os défices e nos pormos ao abrigo de humilhantes dependências exteriores, sem que o pais caminharia, necessariamente para a bancarrota e o desastre”. RTP, 1 de Junho de 1984
Pedi que com imaginação e capacidade criadora o Ministério das Finanças criasse um novo tipo de receitas, daí surgiram estes novos impostos”. 1ª Página, 6 de Dezembro de 1983
“Posso garantir que não irá faltar aos portugueses nem trabalho nem salários”. DN, 19 de Fevereiro de 1984
A CGTP concentra-se em reivindicações políticas com menosprezo dos interesses dos trabalhadores que pretende representar” RTP, 1 de Junho de1984
A imprensa portuguesa ainda não se habituou suficientemente à democracia e é completamente irresponsável. Ela dá uma imagem completamente falsa.” Der Spiegel, 21 de Abril de 1984
Basta circular pelo País e atentar nas inscrições nas paredes. Uma verdadeira agressão quotidiana que é intolerável que não seja punida na lei. Sê-lo-á”. RTP, 31 de Maio de 1984
A Associação 25 de Abril é qualquer coisa que não devia ser permitida a militares em serviço” La Republica, 28 de Abril de 1984
“As finanças públicas são como uma manta que, puxada para a cabeça deixa os pés de fora e, puxada para os pés deixa a cabeça descoberta”. Correio da Manhã, 29 de Outubro de 1984
“Não foi, de facto, com alegria no coração que aceitei ser primeiro-ministro. Não é agradável para a imagem de um politico sê-lo nas condições actuais” JN, 28 de Abril de 1984
Temos pronta a Lei das Rendas, já depois de submetida a discussão pública, devidamente corrigida”. RTP, 1 de Junho de 1984
Dentro de seis meses o país vai considerar-me um herói”. 6 de Junho de 1984

E o país considerou-o um herói: hoje tem uma Fundação.

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro José Gonçalves
Só posso aplaudir o seu perspicaz, incisivo e pertinaz texto se ele corresponder a um claro não, a todas as práticas que tenham os fundamentos, as praticas e os resultados da situação vivida por Mário Soares, como Primeiro Ministro, mas que se podia estender a Passos Coelho como primeiro ministro, com todas as agravantes que facilmente se descortinam.
Assim quer se goste ou não, Portugal em 83, tinha vindo duma alteração politica económica, resultado do 25 de Abril, da descolonização, da incorporação de um milhão de "retornados".
A situação de sermos um País com moeda própria(pode ser entendida hoje como uma mais valia)era muito mais dificil, em relação a desvalorização do escudo à importância que tínhamos no concerto dos mercados e na falta de um escudo protector e avalista que é a Comunidade Europeia.
Não obstante tudo isto(e a critica que aquilo que cita nos cria)a situação hoje é muito mais desequilibrada não só no que já se conhece mas na certeza que a procissão ainda vai no adro.
Seja como for, e mesmo considerando que o valor retirado pelo fisco foi só ao sector publico, e no valor de 2,8 por cento do 13 mês(mesmo assim inconstitucional como hoje) só podemos retirar da experiência histórica um lição para atacarmos com mais força estas medidas de Passos e companhia.
Não desconsiderando que o PSD como o PS agora, apoiaram estas medidas, elas são erradas independentemente das razões que possam levar a distinguir os momentos e as razões históricas, eles são no essencial uma forma discriminatória de fazer pagar aos trabalhadores os desmandos que a classe governante e seus apaniguados todo poderosos financeiros ou não,fizeram em beneficio da sua classe.
Nestes parâmetros posso e devo aplaudir o seu texto lembrando que ele é uma homenagem à luta contra a propotencia e o engano das classes poderosas e governantes, quer elas sejam do PSD/CDS ou do PS/PSD.
Açor