Eu
não queria escrever sobre o assunto, tal a pequenez da coisa, mas estou
estupefacto! Já lá vai o terceiro dia e, como a coisa se mantém, repito, estou
estupefacto! Bom, estou a ser exagerado. Pouco ou nada existe que me deixe
estupefacto. Crispado, sim; irritado, também; horrorizado, obviamente.
Estupefacto é hiperbólico. Ajuda a perceber a situação.
A
estória
conta-se breve: dois clubes que, alto e bom som pela boca dos seus altos dirigentes e
dos apaniguados, desprezam uma Taça, para uns, a Lucílio Baptista e, para os outros, a da Cerveja, jogaram
com as suas melhores equipas, apesar do tal desprezo, para, daqui a dois jogos, tentarem ganhar a
dita, tendo, previamente de levar
de vencida opositores de monta (assim mesmo, à Gabriel Alves). E
não é que ambos ganharam?! Arreganharam-se e esforçaram-se, muito para além da Taprobana (desculpa a
mistura, Camões!), no almejo de vencerem a tal Taça que, sublinhe-se, ambos desprezam
visceralmente, de tal sorte que, na sanha, ganhando os dois, empataram. Empataram nos
"penalties",
empataram nos pontos, empataram na diferença de golos, dizem que até empataram
em outros jogos nos foras-de-jogo e em compensação por tempo perdido. Dizem.
E
pegou fogo. Não! Desta feita não foi o Estádio da Luz. Foram só os ânimos
- às vezes acontece, mesmo entre amigos -, pois, ninguém pode olvidar que eles
estão unidos numa cruzada contra a tal Taça, da Cerveja Lucílio Baptista, que nunca ganharam e que desprezam,
apesar de jogarem com as suas melhores equipas, e que hão-de desprezar até... a
ganharem!
Ora,
é aqui, e mesmo por isso, que a porca torce o rabo, como diz o sábio povo.
Logo,
veio um e clamou: SISTEMA!. Troco directo, SISTEMA!, ripostou o outro.
Animus
rem sibi habendi?!
Daí
a referida hiperbólica estupefacção. SISTEMA?! Que SISTEMA?! De rega, ironizará
o paciente leitor, se ainda aqui me lê, perante a minha ignorância.
Não,
não, que os relvados estão ensopados de tanta chuva, tal o Inverno continental.
É verdade que exige medições temporais e superficiais; é verdade que pede
régua, esquadro, anemómetro, teodolito, até!, mas não, nada disso.
Parece
que, com aqueles específicos clamores, a comunicação social descobriu que há um
SISTEMA (e com SISTEMA quer dizer algo sinistro, oculto, que actua na sombra,
à margem das leis e dos bons costumes) que, helás!, na noite do segredo,
mandará no futebol português.
Ao
que parece, do que se vai percebendo entre audições, visões e leituras, aquilo
que o catapulta até ao sétimo céu é o animómetro, coisa
que, no futebolês, girará à volta de uns quantos cartões, para os outros, de uns quantos
invisíveis foras-de-jogo, contra os outros, de patadas, cotoveladas e chapadas,
nos outros, de uns quantos convenientes minutos de atraso, para ou contra os outros,
ou de uma qualquer intensidade
em penalties,
para eles, que
só uns quantos presdestinados sabem medir, e que até cursaram para o efeito,
tal a ciência que impende sobre a arte de interpretar o acto.
Só
não percebi era se o tal SISTEMA funcionaria a favor de um ou de outro ou de
ambos, em função das conveniências, mas isso é uma minudência divagativa de ígnaro.
O facto é que interessa e o facto é simples.
Segundo afiança a fiel, fidedigna e sagaz comunicação social, sempre à frente
da notícia, sempre de olhos e ouvidos espertos para a novidade, isto, ou seja,
e melhor, este tal SISTEMA terá nascido de parto artificial no passado sábado,
25 de Janeiro de 2014, a horas mais ou menos incertas, mas algures entre as 20
e as 23 horas, foi assistido por parteiro, tem núncios, mas desconhecem-se-lhe
pai e mãe. Está pronto para ser co-adoptado.
Há por aí dois pombinhos
arrulhadores?
2 comentários:
Ironicamente falando ((a ironia do ""outro"" pelos vistos também é rasca, assim como o tal ""sistema""))) bem esgalhado.
De nada disto se falaria se os árbitros não tivessem inventado um penalty para cada uma das equipas. Boa malha. pode ser que se lembrem do outro "sistema".
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