Luís Rosa: – Somos uma
sociedade que gosta de viver à custa do Estado. Isso é incompatível com um projecto
liberal.
João Pereira Coutinho: – Esse
é que é o principal problema. Os liberais em Portugal são uma tribo engraçada
porque nos conhecemos todos uns aos outros. Frequentamos os mesmos espaços e
somos uma espécie de extraterrestres, que andamos para aqui meio perdidos. Nós
não temos uma sociedade que seja liberal, aliás, um dos motivos que me causam
particular vexame é uma ditadura que durou quase meio século. Conheço algumas
explicações históricas disso: a polícia política, a censura, o uso da violência,
o apoio do exército e da Igreja, etc. Lamento, mas só é possível ter o regime
iliberal do Dr. Salazar quando a maior parte da população portuguesa é
estruturalmente iliberal e permitiu que o regime durasse quase meio século.
Lamento dizer isto, mas não encontro explicação mais plusível. Não era porque o
Dr. Salazar tinha grandes mecanismos de repressão ou porque isto era um Estado
de cariz fascista ou totalitário. Salazar durou muito porque os portugueses
eram tão iliberais quanto ele. […]
O governo recebeu o país num tal estado de catástrofe em
2011 que nem sequer se pode dar ao luxo de articular uma ideologia ou de se
pensar a si próprio como um governo liberal ou conservador, porque procurou
resolver um problema específico. […] No entanto, não foi capaz de fazer aquilo
que é fundamental para o pensamento conservador e liberal como é a
circunstância de remeter o Estado para o seu específico e limitado papel.
O Estado continua a ter uma presença esmagadora face à
criação de riqueza do país. Veja o caso da reforma a nível autárquico no país,
que é um caso clamoroso da incapacidade reformista demonstrada pelo governo.
Mas, repito, o governo apanhou o país numa situação difícil e teve de lidar com
essa emergência nacional. […]
Entrevista ao jornal i,
17/18.05.2014, por ocasião do lançamento do seu último livro, Conservadorismo, Dom Quixote.
1 comentário:
Caro Luiz
Nada diz sobre o texto que publica, mas suponho que se revê nele, tudo bem, mas terão as conclusões do texto alguma ligação com a realidade Portuguesa?
O Autor diz que a sociedade Portuguesa é não liberal e por isso é que não existe liberalismo em Portugal, mas será que existe alguma sociedade na Europa(pelo menos)que seja Liberal?
O liberalismo, como todas as outras ideologias, não existem na perfeição das teorias que a suportem teoricamente, em nenhuma sociedade no Mundo...
Mas o autor quis ser diferente e descobrir a pólvora e vá de ser tão convicto como Lá Palisse, e diz que Salazar só subsistiu em virtude do Povo Português não ser Liberal e conservador, mas claro que num governo Fascista(como em outro qualquer)existe uma base de apoio que sustenta o Governo(mesmo que esta seja em norma minoritária)mas o liberalismo antes de mais tem que ser entendido nas suas diversas acepções, como doutrina económica, como ideologia de costumes, etc...
Muito havia a dizer sobre o assunto, mas penso não há necessidade, o que fica é a habilidosa tentativa de passar um salvo conduto a este governo, tentando passar a ideia que este governo, no que faz de não liberal é devido ao estado do País e o que faz de liberal é igualmente pelo estado do País, no fundo o autor tenta fazer deste governo um "santo" que tudo o que faz é no bem do Povo e "iluminado pelo espírito Santo"...
Açor
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