26 janeiro 2015

José San-Bento, SATA e Carlos César

José San-Bento é o antónimo caligráfico da ideia que grassa popularmente sobre a esquivança da deputação regional ou nacional. É fluído na exposição e directo na opinião. Merece, sem reserva, o respeito e os encómios.

Fazendo jus a tal, em artigo de opinião publicado no Açoriano Oriental, no pretérito dia 23, José San-Bento ofereceu-nos, com a frontalidade esperada, uma perspectiva sobre a SATA, e nele assumiu, sem qualquer resquício de calculismo político (muito típico dos seus pares, como “syriza” o povo), uma crítica à governação de Carlos César, quando apôs várias perguntas que, não sendo originais, vindas de alguém com a sua posição têm impacto e deverão merecer melhor meditação e ampla discussão – já agora, algo que até ao momento não aconteceu -. Transcrevo, porque mais fiel:

Pode uma pequena empresa pública regional de transporte aéreo prosperar com o atual modelo de negócios que a indústria da aviação instituiu e com a regulação comunitária em vigor? Pode ao menos resistir e manter a sua atividade? Em que termos? Com que frota, modelo logístico, meios técnicos e quadro de pessoal? Com que estrutura, suporte financeiro e modelo de gestão? Com que parcerias e alianças? E com que posicionamento comercial face à concorrência?

Com estas interrogações, José San-Bento lembra-nos cristalinamente (a nós, simples mortais, ignaros nestas coisas mais complexas e demasiado mediáticos para termos memória perene) a inércia e a incapacidade manifestas do accionista único da companhia aérea regional em dar-lhes resposta adequada.

Mas se, por si só, as interrogações e a falta de resposta às mesmas demonstravam já a falência do modelo escolhido e da política gizada pelo accionista único, o Governo Regional dos Açores, José San-Bento vai mais longe e aprofunda a inoperância governativa ao transportar-nos para 2008, ano em que, pelo menos e segundo ele, já se saberia da gravidade da situação e era possível apontar um diagnóstico. Cito:

A situação difícil que a SATA atravessa só surpreende os distraídos. A indústria da aviação vive um processo permanente de consolidação global que gerou mega alianças planetárias como a Star Alliance e a Oneworld. O cenário pós 2008 precipitou um modelo de negócios do transporte aéreo em que coexistem grandes companhias consagradas, dedicadas sobretudo à alimentação dos grandes aeroportos internacionais e ao longo curso, com as transportadoras low-cost, focadas nas ligações ponto a ponto de médio curso.

Distraídos! Os governantes em 2008 andavam distraídos! O governo de Carlos César, pelo que nos é dado a entender, estava alheado daquilo que se passava no mundo real. Aplaudo! Não o alheamento, mas a coragem de escrever com todas as letras e sem rebuço em nome e defesa dos Açores, seja contra quem for. Não é para todos, muito menos para um socialista.

É que, recuando no tempo, para os mais distraídos, ou dando a conhecer, para os que não o sabem, José San-Bento é socialista e, mais do que isso, deputado socialista. Além de que o seu partido ainda governa e, sob a presidência de Carlos César, governou a Região Autónoma dos Açores desde 1996 até 2012, bem como, nesse período, Portugal teve 13 anos de governos socialistas. Portanto, tudo factores básicos, segundo os teoremas politicológicos, para que a comunhão ideológica conjugasse esforços para não prejudicar os Açores e os açorianos.

Mas não! Atentando ao artigo de opinião, porque o socialismo sofre muito de défice de atenção, olhou para o que se passava no planeta Terra e deve ter entendido que aquilo estava a acontecer em Marte. Se os governos de Carlos César e de José Sócrates tivessem, ao menos, ouvido os seus atómos, hoje, teríamos uma SATA moderna, pujante, dominadora de rotas lucrativas e, no decurso, melhores Açores e açorianos orgulhosos da sua companhia aérea!
               
Daí que compreenda o que José San-Bento nos ofereceu:

Confrontados com o desafio de ajudar uma empresa estratégica a vencer no futuro, toda a oposição optou por proclamar banalidades - e tontices - e propor uma comissão de inquérito para apurar o que consta nos relatórios anuais de atividade do grupo SATA. A proposta é uma confissão pública da desatenção e da incapacidade política da oposição.

Para quê a oposição perder tempo com aquilo que todos já sabiam há muito tempo e que, tão bem e em curto espaço, José San-Bento retratou?! Se lerem o artigo de opinião, o axioma está lá:

Neste mundo selvagem, dominado pelos grandes e fortes, uma pequena companhia regional só tem uma opção: consolidar a sua vocação de génese e explorar nichos de mercado. É este o futuro que a SATA tentará perseguir.

Assim sendo, bastando aplicar tal, não será melhor os partidos, os cidadãos e o parlamento regional dedicarem-se a coisas mais prementes?

Termino como comecei: ao não ter qualquer pejo em apontar os erros dos governos de Carlos César, José San-Bento é um exemplo raro que faz o mais céptico e renitente dos cidadãos ter esperança na política e nos políticos. É probo. E esta qualidade insofismável fá-lo presidenciável.

4 comentários:

Anónimo disse...

Calado há muito tempo lá vem o sr. Gonçalves lançar confusão politica. Acha que o nosso José é candidato a que lugar? Eu lhe digo a presidente da camara. E será um grande presidente. Se quer protejer o seu amigo Bolieiro diga-lhe para olhar melhor para o que se passa no deserto que é a cidade á noite ou para as ruas sujas e cheias de buracos. A Sata é nossa e vai ter o apoio do governo para ter a rotas atuais, mudar os preços e comprar novos avioes. Se nao sabe o que é serviço publico está aqui nestas coisas. A sata levanos daqui para fora. Se nao fosse ela como era?

Anónimo disse...

caro Gonçalves

Não há duvida de que o seu partido começa a cerrar fileiras. Hoje o Soares Marinho retoma o tema e aponta o dedo à incapacidade socialista para arranjar soluçoes e por isso esconder-se atrás do PSD. o que eu digo é simples . Sao fainha do mesmo saco. Pensam nos seus partidos e nao nos açorianos. E depois ficam todos muito admirados por o Siriza ganhar na Grecia. Nao seria melhor o Bloco ganhar em Portugal? Gostaria que abordasse o tema.

Anónimo disse...

Para ser presidenciavel só lhe falta ir a Évora. é chique por em causa a independencia dos orgaos de soberania quando nao agradam ao PS.

Anónimo disse...

ah, ah, ah, grande Gonçalves, a sua capacidade de com ironia voltar o feitiço contra o feiticeiro é um gozo que devia por mais ao serviço dos Açores para que nao houvesse medo de falar e denunciar a fraqueza que temos como politicos regionais. Quando nos dá uma visão do grande deputado Moura?