03 julho 2015

Há panteão e há O Panteão

O panteão é num qualquer lugar, podendo nem ter existência física, porque o ilustre imortal a tal se sobrepõe, arreigado que está na memória de um povo.

O Panteão é atávico local de regime político, datado no critério, obscuro na pretensão, incongruente na escolha, pertinente na incoerência.

O Panteão é escolho da perenidade.

Não sou incondicional de panteões e, muito menos, do Panteão. Prefiro o recato da memória e o respeito singular por aqueles que por obras valerosas se vão da lei da Morte libertando, sobretudo quando um qualquer Panteão alberga alguma gente pouco recomendável nas acções da vida.

Hoje, trasladado para lúgubre sítio, mataram Eusébio, o nosso Eusébio.

O Eusébio que desbaratou o Real Madrid em 62, o Eusébio do Mundial de 66, o Eusébio de qualquer tarde de domingo ou das quartas-feiras europeias, o Eusébio de puras Bola de Ouro e Botas de Ouro, o Eusébio que arrastava multidões quando o marketing não era milagreiro, o Eusébio que não necessitava de mostrar passaporte no tempo das fronteiras, o Eusébio-povo e do povo, o Eusébio de Portugal, esse Eusébio estará sempre noutro lugar, em qualquer lugar, menos naquele.


Se físico panteão lhe quiserem fazer, reze-se pela alma, recordem-se os feitos, eternize-se-lhe a memória junto da estátua, no Estádio da Luz, o verdadeiro cenotáfio da sua arte, em paz, entre os seus.   

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