O Congresso, deste fim-de-semana, do CDS-PP serviu apenas para confirmar aquilo que já se sabia: o Partido está dividido em dois, CDS e PP, ou Direcção e deputados da A.R.. A partir da altura em que Paulo Portas entrou para o CDS percebeu-se que tinha uma visão nova, que não era aquela dos antigos líderes como Freitas do Amaral ou Adriano Moreira, era anti-europeísta, conservador e liberal de mais para os ideais centristas. Muitas destas formas de encarar a política mantiveram-se menos, como se sabe, a visão anti-Europa porque Portas acabou por aprovar a Constituição Europeia.
A divisão no CDS/PP é reconhecida pelos próprios membros, Maria José Nogueira Pinto disse-o na sua intervenção no Congresso deste fim-de-semana. As razões dessa divisão é que são mais difíceis de perceber. Alguns dizem que Paulo Portas usou o CDS para criar um novo partido, mais à direita e acabar com a posição centrista, que tinha desde a sua fundação e que, a partir daí, os dois blocos separaram-se de vez. Não sei se a intenção de Portas era acabar com a ala mais ao centro, até porque só com os votantes das duas partes é que o CDS/PP teria alguma hipótese quando fosse a eleições. Os próprios recuos de Portas, como na questão da Constituição europeia, mostram que ele não quer a fractura. Portanto não parece que esta divisão seja tanto de natureza ideológica, como se diz, mas sim algo mais superficial, a prova é que neste Congresso não houve discussão de ideas concretas de governação, mas apenas a politíca de acusação mutua.
A verdade é que Ribeiro e Castro sai diminuído do Congresso do CDS/PP, mesmo que a sua moção tenha sido a mais votada. É um líder a prazo e deverá sair antes das próximas eleições legislativas. A sua posição de eurodeputado não é favorável, por muito que a evolução tecnológica o permita, nunca será a mesma coisa do que estar perto da acção e o Partido sente a falta da presença do seu lider. A agravar esta situação, está o facto de Paulo Portas passar a sua mensagem, semanalmente, na TV.
Como em quase tudo em Portugal, o CDS/PP está à espera do seu D. Sebastião, mas é certo que o sucesso eleitoral do CDS/PP passa, obrigatóriamente, por uma aliança. Como Portas, no fundo, é um politíco coerente esta aliança só pode ser com o PSD e porque Marques Mendes não parece estar muito virado para essa ideia, o futuro do CDS/PP não se afigura nada bom. E pior ficou com o resultado que Marques Mendes conseguiu, o facto de não ter aparecido nenhum oponente faz pensar que Marques Mendes, afinal, vai ser o líder do PSD até, pelo menos, às eleições legislativas.
Portanto, no fim este Congresso não trouxe nada de bom para o CDS e nem mesmo para o PP, o problema fica adiado por mais algum tempo, é a chamada "fuga para a frente".
24 comentários:
"...liberal de mais.."
Caro Rui,
não insultes os liberais ao confundir o neoliberalismo económico (redutor) com o liberalismo político-filosófico...
Quando o CDS for verdadeiramente liberal...eu serei o primeiro a juntar-me ao partido
Pires de Lima, Liberal? Talvez.
Concordo com a tua perspectiva. O CDS está dividido entre duas tendencias.
eu acho que Portas é liberal de mais, porque quase entra no extremismo e sim eu devia ter feito a diferenciação, porque não o queria comparar ao liberalismo político clássico, é sem dúvida neo-liberalismo e extremo
Ezequiel,
Tinha-me esquecido do post que falamos sobre o trabalho, por isso peço desculpa, já respondi lá.
É muita coisa em que pensar e que fazer...
Caro Rui,
Por favor diz-me o que entendes por "liberal"? Em portugal o liberalismo foi reduzido a uma doutrina meramente economica quando, na realidade, é muuuuito mais vasta e complexa. O liberalismo de John Stuart Mill não é, decididamente, o "liberalismo" de Hayek e de Friedman, que inspira os neo-liberais reformistas (ou, melhor, revolucionários). São coisas muito diferentes. (mais recentemente, o pensador liberal mais influente do liberalismo contemporaneo, o John Rawls, não se identificaria com nenhum dos postulados do neo-liberalismo economicista)
Um excelente livro que aborda as duas (de muitas) caras do liberalismo é o Two Faces of Liberalism, de John Gray. O Brian Barry, outro liberal contempo., tb não subscreve o neo-lib economicista...e muitos outros. abraço, ezequiel
isto talvez te interesse...
http://www.ucl.ac.uk/spp/seminars/0506/lsp.php
http://www.ucl.ac.uk/spp/seminars/0506/pt.php
este, do Prof Thomas Pogge, homem absolutamente brihante...recomendo vivamente....(é da tua area: relações internacionais)
http://www.ucl.ac.uk/spp/download/seminars/0506/Paper-Thomas-Pogge.doc
O problema é que em Portugal e na grande maioria dos países, o pensamento político raramente é aplicado pelos politicos. Estão todos misturados, só o BE, por um lado e o "portismo", por outro é que se diferenciam.
Eu só posso tentar compreender o pensamento polítco do Portas pelas suas palavras, que me dizem que é conservador em matérias como a imigração, a segurança interna, a defesa nacional, etc. e que é liberal, apenas, sentido económico e só segundo as suas palavras.
Sinceramente, penso que devias fazer um blog, porque consegues aprofundar este tipo de matérias, e dessa forma tentarias explicar e aplicar à nossa realidade os diferentes pensamentos políticos e aua forma de encarar a organização estatal e, aquilo a que tudo se resume, no fundo, que é o uso do poder, embora isto pareça um pouco reducionista, mas o poder e o seu uso é que acabam por destinguir, o pensamento e neste sentido o Portas não é liberal, de facto.
Concordo com tudo o que escreveste sobre o Portas. Tens toda a razão em invocar o que o Portas diz e faz como critério da tua definição da sua orientação política (por vezes, as posturas são bastante mais importantes do que as teorias ou ideologias).
Obrigado pela sugestão. Já tive alguns blogs. Todos eles acabaram na miséria do abandono, por assim dizer. Prefiro ler e comentar, rapidamente. Eu passo quase todos os dias a ler-escrever ou, na parlance mais chic da coisa, a "pesquisar." (que petulância da merda) Ando a preparar, há mais de 3 anos, um livro de filosofia-psicologia política (sobre modelos de análise) que ainda vai dar comigo em doido. Concluí, mais recentemente, uma tese de dout (que ainda tenho que defender). Por outras palavras, estou FARTO, até às pontas dos cabelos (sou careca), de escrever. Qualquer dia enfio-me num barco, sem livros, e parto para a Islândia ou para a América do sul. De qq forma, mt obrigado pela sugestão!!
Além disso, Caro Rui, eu gosto de escrever sobre assuntos que conheço bem. Eu saí dos Açores com 17 anos (tenho 37). Embora passe mt tempo cá, não conheço bem a história política recente da nossa terra nem do nosso país. Há muita coisa que eu simplesmente desconheço... infelizmente. Presentemente não disponho de tempo para explorar estes assuntos. Seria intelectualmente pretensioso e desonesto começar a debitar teses sobre a realidade açoriana ou portuguesa. Tenho que aprofundar cada vez mais a minha especialização...vivemos em tempos muito muito competitivos...
Mas não tem que ser sobre a realidade açoreana, eu também não me pronuncio muito sobre esse assunto, mas pronto, eu compreendo.
Gostaria muito de ler o teu livro, quando tiver pronto. Onde vais defender o doutoramento?
Bem, eu também gostaria muito de ler o meu livro!!! Estou a fazer tudo por tudo para o acabar até ao fim deste ano. Depois terei que estar sujeito às "sugestões" dos editores e dos especialistas (contratados) da editora. É um processo infernal. Terei muito gosto em enviar-te uma cópia quando o publicar. Poderás visitar-me num sanitorium e dizer o que pensas!! Devo defender a tese em setembro ou outubro, no LSE ou em Oxford, não sei ainda!!! Tudo depende dos meus orientadores de tese. (que são muito lentos e CHATOS)
Excelente! É uma honra, para mim, poder trocar impressões com alguém que vai defender uma tese de doutoramento numa universidade tão prestigiada.
Its the same shit everywhere mate!! Aqui entre nós, que ninguém nos ouve, sim é verdade que oxford e o lse são instituições muito prestigiadas, sem dúvida, mas, acredita que já encontrei muito imbecil por lá (que me perdoem a arrogância). Para ser franco contigo, como disse antes, a New School, em NYC, a Northwestern em Chicago (dept de filosofia), ou a Universidade de Essex (o dept de ciência politica-govt deles é considerado o melhor da Inglaterra nas avaliações estatais do Research Assessment Exercise-RAE) são bastante mais inovadores e interessantes. Sinceramente, se pudesse, transferia o meu dout para uma destas universidades. Foi um grande erro ficar no LSE. Tive probs com a minha orientadora, montes de burocracia, egos inflacionados, dramas, resistência à tudo o que é novo, tradicionalistas arcaicos etc.
What distinguishes you is the WORK YOU DO! Nothing else!
muitos imbecis...(hoje estou atrasado mental)
Caro Ezequiel, só hoje com mais tempo abri estes comentários e pude ler a vossa troca de impressões. Não há dúvidas que concordo quando o Rui o felicita pelo seu Doutoramento, também eu o faço e desejo-lhe cabeço fresca (porque o resta está dentro dela) no dia da defesa.
Pelo que percebi o Ezequiel emigrou, talvez para os EUA, presumo, e cursou ciências políticas. Se ler o comentário que escrevi, penso que no Tema Carrilho, verá que também eu me interesso pelo pensamento político. Bom, mas agora que conheço o seu curriculum, fico um pouco embaraçado em discutir esta temática consigo. Digo-o com sériedade, mas com um toque de humor, pois percebi claramente que o Ezequiel é uma pessoa livre de vaidades, simples e humilde, na melhor acessão dos termos.
Espero que continuémos a comunicarmo-nos via Máquina de Lavar, pois assim, mesmo sem mais ninguém, temos a mais valia de ser "comandados" pelo Rui.
Lavar os pensamentos até os ter sem nódoas...nem que tenha de vir o Tide
Caro PP
O prazer é meu, caro PP. Comecei na psicologia mas acabei na ciência política, mais partic na filosofia política...no Canadá e na Inglaterra. Embaraçado porquê? Estas coisas dialógicas não tem nada a ver com currículos etc. Por isso é que eu gosto dos blogs. Acredite que, frequentemente, leio posts e comentários que são bastante mais interessantes do que aquilo que ouvi, e continuarei a ouvir, de alguns dos meus "colegas" e alunos. A inteligencia tem categorias proprias! Não me felicite antes do tempo. Muito obrigado pelo elogio (ser simples) Lá isso sou, without a doubt! Não há paciencia para tretas. Como dizem os Yanks, "Life is too short for bulshit"
Um grande abraço,
ezequiel
e, claro, cumprimentos para o Comandante Rui!! Fine Commander, indeed! A good mate! :)
Pois é carissímo Ezequiel a inteligência reina em todos (quase) os cérebros, cabe primeiramente aos pais, e posteriormente a nós próprios estimulá-la.
Claro que o conhecimento exige esforço e dedicação, algo a que nem todos estão dispostos, ou algo que alguns nunca chegam a ter consciência.
Quanto às felicitações, a persistência vencerá!
Saudações centrifugas
Quem procura informar-se, pesquisar, conhecer melhor certa àrea ou tema, tem essa conciência de procurar o conhecimento.
Esssa procura tem por base os nossos interesses individuais, e a nossa capacidade de perceber que só conhecendo mais podemos perceber todas as vertentes dessas temáticas.
Isto é válido para todas as áreas da jardinagem à teologia,da construção cívil à astrologia, da história à música, etc, etc...
Por isso concordo em pleno quando dizes que "a inteligência tem categorias próprias.".
É isso que nos enriqueçe enquanto sociedade, essa diversidade de conhecimentos.
Quanto ás felicitações, a persistência vencerá.
"Hasta la vitória, siempre!"
Só me resta agradecer a parte que me toca. O facto de saber que o que escrevo aqu tem isto como resultado, é muito reconfortante e faz-me continuar, apesar da falta de tempo.
Rui conheces o(s) Bloge(s) do Nuno Barata? Penso que sim.
ès tu o Corisco?
Claro que só respondes se quiseres.
Rui não respondas.
A pergunta parece-me inconveniente para quem tem um Bloge em nome próprio, presumo.
Se vossemeçê se quisesse identificar no supra referido Bloge tê-lo-ia feito.
Um abraço e adiante
Todos nós, e eu aqui me incluo, temos direito a opinar sem nos mostrarmos.
Talvez um dia!
Atenção, quando digo "sem nos mostrarmos." refiro-me tão somente a dizer o nome próprio, o BI.
A honestidade intelectual e a franqueza são, para mim, condição vital para participar neste Bloge, em particular, e noutros em geral.
Não tenho medo de admitir o que penso ou dizer como vejo as coisas, no entanto abstenho-me de dar "um nome", faço como o poeta, dou um pseudónimo.
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