06 dezembro 2006

Uma Vida por 5 euros

Li, durante o fim-de-semana, uma pequena notícia que dava conta de um episódio corriqueiro, não fosse o interveniente agente principal e elemento do corpo de Segurança da PSP, destacado ao serviço do Presidente da República.
Resumindo a estória; o dito agente principal, numa visita ao supermercado, trocou o código de barras de uma lata de comida para gato, por uma outra de menor preço, podendo, assim, levar um melhor repasto para o seu felino, poupando cerca de 5 euros.
Tudo calmo, não fosse, desta vez, ter sido apanhado pelas câmaras de vigilância e seria mais uma banal ida ás compras. Resultado, foi parado por seguranças na caixa, e convidado a dirigir-se a um pequeno escritório, onde foi confrontado com a tentativa de burla (é este o nome do crime cometido). Desculpou-se e prontificou-se a pagar a diferença, os tais 5 euros.
Mas, por estar armado, foi obrigado a identificar-se perante os Seguranças do supermercado.
O responsável pela Segurança, por sinal major reformado da GNR, não perdoou tal infracção por parte de um agente da autoridade, e efectuou uma exposição por escrito à direcção da PSP que, de imediato, suspendeu o referido agente por 90 dias, sem direito a vencimento.
Mais, “quando voltar será afastado da segurança do Presidente e muito provavelmente do corpo (de segurança da PSP)”, palavras vindas da direcção nacional da PSP, e que indignaram os colegas do visado.

O agente principal R. (assim identificado na noticia) tem mais de 20 anos de polícia e é segurança de Cavaco Silva desde os dias de primeiro-ministro e homem de confiança pessoal da família presidencial, lê-se na mesma notícia.

Ao ler o sucedido, dei por mim a pensar se esta decisão de suspensão e afastamento do interveniente não seria excessiva, se não seria excesso de zelo.
Também pensei na oportunidade ou não, de alguém próximo do presidente, solicitar um perdão tendo em conta os (eventuais) excelentes serviços prestados pelo dito segurança.

…..ainda estou reflectindo, enquanto penso, gostava de ler as vossas opiniões. PSP, destacado para Segurança do Presidente da Républica

8 comentários:

Rui Rebelo Gamboa disse...

Também não sei o que pensar, por um lado é evidente que como agente da PSP e numa posição de destaque (porque quer ele queira quer não, ao estar destacado para segurança do PR, a sua vida será mais escrutinada, do que fosse um 'mero' agente) ele deveria ter mais atenção e dar o exemplo, a PSP ( e outras forças de segurança)existe para que o caminho da lei seja percorrido sem 'atalhanços' como esse. Neste contexto, penso que uma penalização é obrigatória, ainda mais com a agravante de estar armado nas compras?!? Parece-me que devemos ver esse facto como relvante, não seja esse um dos tipos que pensa como é PSP e, ainda por cima do PR, pode fazer o que quer e quando quer, e quando é apanhado usa da sua influencia (pelo que sei os Polícias raramente passam multas uns aos outros, e quando passam sem saberem penso haver um acordo tácito e retiram sempre).

Não sei se estás a querer dizer que como há rivalidade entre GNR e PSP isso aconteceu. O que sei é que a lei foi cumprida. Ponto.

Se há excesso de zelo na medida punitiva, e penso ser essa a grande questão, porque não duvido que também tu achas bem que ele seja punido, então essa é outra história. Penso que a questão de continuar ao serviço do PR é evidente, o PR não se pode dar ao luxo de o seu segurança ser ladrão...

Por fim há a questão de alguem próximo do PR solicitar um perdão. Faz todo o sentido haver um perdão neste caso.

Talvez queiras dar mais umas achegas...

Pedro Lopes disse...

SEm dúvida, tem de haver punição.
E também não questiono a "queixa" apresentada pelo Chefe da Segurança (o tal ex-major da GNR) à direcção da PSP pois, como dizes e bem, um agente da PSP, ainda mais ao serviço do PR, tem mais deveres do que um cidadão normal. São ossos so óficio.

Não sei se fosse um ex-qualquer coisa da PSP, se "deixava andar" depois de repostos os 5 euros. Se assim fosse, essa é que era uma atitude condenável, de puro compadrio e "camaradagem".

Pedro Lopes disse...

A minha questão prende-se, essencialmente, com a suspensão de 90 dias (3 meses) sem vencimento. Talvez bastassem 15 a 30 dias sem vencimento e o afastamento de segurança do PR. Talvez nem fosse necessário retirá-lo do Corpo de Segurança da PSP, conforme a sua folha de serviço (que deve ser exemplar, de outro modo não estaria com Cabvaco Silva) e manifestação de arrependimento.

Quanto ao pedido de perdão do PR, só Cavaco e familia, poderão ponderar sobre a validade, lealdade e serviços prestados pelo agente principal R., para defenir que tipo de perdão seria pedido.

A questão do rótulo de ladrão é um grande peso, mas poderia sugeri-lo a outro Governante (com menos visibilidade pública e responsabilidade)de modo a não perder o nível de vida que detinha (que já não devia ser grande coisa, a avaliar pela troca dos rótulos) pelo facto de pertencer ao corpo de segurança de PSP, ainda mais destacado a serviço do PR.

Pedro Lopes disse...

Quem nunca cometeu pequenos erros, e até delitos, que atire a primeira pedra.

Esta frase não pretende desculpar tal atitude, ainda mais com as funções do visado, mas é para que ponderemos sobre como uma "pequena" falha pode alterar toda uma vida e carreira exemplar.

Do rótulo de ladrão já não se livra....e nem era para ele, era para o bichaninho.......

"oohhhhh, coitadinho do senhor policia, até foi um querido, só queria o melhor para o seu gatinho", dizem as Associações de Defesa dos Animais.

Claudio Almeida disse...

É claro que a punição é demasiado excessiva!

Agora que ele merece, isso merece!

Talvez se o gajo não fosse um reformado da GNR, e fosse PSP deixaria passar, ou vice-versa

Rui Rebelo Gamboa disse...

Pensando um pouco masi no assunto, cheguei à conclusão que a punição é justa.

O problema é exacatmente "quem nunca cometeu erros ou mesmo delitos que atire a 1ª pedra" porque a ser assim, se partirmos do principio que todos já fizeram algo de mal, então achamos que podemos também fazer algo de mal porque não há ninguém que tenha autoridade moral para nos condenar.

Parece-me não ter qualquer imprtancia o valor, se foram 5 euros ou se foram 5000, é o acto que conta e as razões: eu até consigo perceber quem 'roube' para comer ou para alimentar os filhos, em situações de desepero, não entendo alguem que ganha muito bem e sente a necessidade de poupar 5 euros para comprar comida de luxo para o seu gato.

Parece também que não podemos dizer que foi 'uma pequena falha' estou cero que este é um acto pensado e premeditado e que revela muito da personalidade: é o exemplo acabado da cultura do 'xico-esperto' que corrói esta nossa sociedade há anos ou mesmo séculos, e que eu abomino.

Salta-me muito à atenção, neste caso, o facto de ir armado comprar comida para o gato. Sinto, como já referi acima, que este é um daqueles agentes que acha que pode fazer tudo o que quiser com total impunidade.

Em última análise, existem duas formas de resolver este caso:

- ou "fechamos os olhos", e aí podemos arranjar as mais variadas desculpas: é um agente com excelente folha de serviços; foram só 5 euros; quem é que nunca fez algo semelhante? etc, etc...

- ou então trata-se do assunto exemplarmente, criando um precedente, mostrando que não há ninguém acima da lei independentemente dos serviços que se presta, aliás os exemplos estão a ser dados a nível mais alto basta ver a 'operação furacão', que no fundo é a mesma coisa...

Se a punição é excessiva essa é uma questão técnica legal, do foro interno da PSP. Estou certo que existe uma especie de 'código penal' interno para resolver casos como este, se o há e se a punição é essa então tudo bem, o problema é se o há e esses casos acontecem e as punições não são aplicadas.

Não devia ser notícia quando a lei é aplicada, como foi o caso, deveria ser notícia os inúmeros casos ao contrário...

Pedro Lopes disse...

Concordo contigo no essencial.
Perfiro uma punição (algo) exagerada, num caso provado, a um "fechar de olhos e assobiar para o lado".

Sem dúvida que esta punição tem o "condão" de criar, em especial nos agentes da autoridade, uma sensação de que os delitos não são contabilizados em euros, mas antes pelo acto em si.
Como dizes e bem, sejam 5 euros sejam 5000 euros, a atitude é semelhnate....e a presença da arma também diz alguma coisa sobre a personaldade do mesmo.

Em suma um caso exemplar.(ponto final)

Pedro Lopes disse...

E até é bom que tenha sido noticiada. Assim chega a mais gente e cria um precedente.