28 maio 2007

"Bullying", Uma Ameaça Real

Correndo o risco de não ser muito rigoroso, pois não vou recorrer a nenhum dicionário ou autor para descrever este fenómeno que parece crescer nas sociedades modernas, posso descrever o “Bullying”, como uma forma de descriminação, intimidação ou rejeição, praticada através de actos ou comportamentos de agressão, perseguição ou coacção, que podem ser de natureza física ou psicológica, praticadas de forma reiterada sobre determinado jovem, em especial, em contexto escolar. São marginalizados, postos de lado e humilhados, quando não mesmo agredidos.

O “Bullying” pode manifesta-se ou “executar-se” de diversas formas, desde uma de “simples” chacota, a roubos ou agressões sistemáticas, que provocam nas suas vítimas, graus de medo e ansiedade que as podem descompensar, levando a esgotamentos ou atitudes de rejeição da escola, que podem ter repercussões futuras, e deixar traumas para toda a vida.

Vi, um destes dias, um documentário que abordava exactamente as possíveis repercussões destes comportamentos sobre as suas vítimas, chegando ao ponto de fazerem a ligação entre o tresloucado massacre do serial-killer da Virgínia Tech, Cho Seung-Hui, com as várias formas de “Bullying” a que vinha sendo sujeito. Nessa “demonstração”, são apresentadas imagens do sul coreano afirmando que tinha sido “levado a cometer tais actos, devido á perseguição de que era alvo por parte dos rapazes ricos” e pelo facto de ser sistematicamente posto de parte e alvo de piadas e descriminação pelos colegas da faculdade. Também documentaram outros casos de crimes idênticos.

Para fortalecer esta tese, os autores do documentário apresentam um senhor que há mais de 40 anos tinha morto um colega de escola, asseverando este, que o tinha feito devido ás constates perseguições e humilhações de que era alvo por parte dos colegas de escola. Uma destas vezes enfureceu-se a tal ponto, que acabou por matar um colega que com ele gozava há muito. Agora, e depois de cumprir castigo por tal acto, alerta para os perigos e potenciais sequelas que esta forma de violência pode gerar nas crianças e jovens.

A mim deu-me que pensar. Reflecti sobre o tema, e analisei as razões e argumentos dos intervenientes, e estou seguro que é uma forma brutal de violência, exercida, por vezes, de maneira reiterada e sub-repticiamente, tendo a vítima de sofrer calada, sempre acompanhada por um medo e pânico constantes, pois nunca sabe quando e onde será, novamente, vítima dos seus perseguidores.

Há uma frase que diz; “as crianças são cruéis”, e outra que desdiz a primeira, pois afirma que “as crianças são o melhor do mundo”. Talvez como na virtude, a verdade aqui esteja no meio.

Em suma, as crianças são do melhor que o mundo tem, mas podem, por vezes, ser cruéis, pois não têm os “sensores afinados”.

É, então, preciso trabalhar esses “sensores”, que são aspectos, tais como, o respeito pelo próximo e pela diferença (física ou mental), o cumprimento de regras de convivência e camaradagem, entre mensagens de rejeição a todas as formas de violência ou descriminação, e a importância de saber respeitar o espaço e decisões de cada um, sem que se deixem influenciar ou fazer algo contra a sua vontade.

É uma medida preventiva, e quase sempre as melhores.

4 comentários:

Rui Rebelo Gamboa disse...

Parece ser algo novo, mas não é: penso que desde sempre que há esse tipo intimdação, entre as crianças. Penso, porém, que estará mais violento, devido à geração da tv e da playstation.

Não posso admitir é que o Cho tenha feito o que fez, porque foi vitima de chacota ou mesmo violência, na escola. Todos ouvimos os seus videos, onde dizia que tinha sido levado a fazer aquilo devido aos meninos ricos que o gozavam, talvez tenha é potenciado uma tendência violenta e louca, que o jovem tinha. Entre os jovens numa escola, talvez metade fazem o bullying e outra metade sofre-o? Ou será ainda menos, ou seja apenas uma pequena percentagem o pratica, sendo a maioria afectada?

Pedro Lopes disse...

Rui, que sempre existiu chacota de uns (alunos) em relação a outros, correctamente designados de "vítimas", disto não creio haver dúvidas.
Mas a proporção e gravidade da brutalidade a que são sujeitas determinadas crianças em recinto escolar, é que tem aumentado drásticamente.
Eu já aqui tinha focado o tema da crescente violência nas escolas protuguesas, aí, apoioado em números oficiais.

Mas esse problema/fenómeno, tem agora uma maior expressão, e como tal há uma maior atenção e estudo, tendo recebido a designação de "Bullying".

A tua referência à TV (os miúdos adoram o reswtling(?)) e aos jogos de computador, cada vez com mais violência, contribuem, seguramente, para uma certa banalização da violência e de comportamentos desviantes nas crianças de hoje.

Aquilo que eu aqui defendo, são as tais medidas preventivas, que devem fazer equilibrar os "sensores" das crianças e jovens, incidindo nos aspectos que foquei, em valores positivos, que contribuam para que o excesso de informação a que têm acesso possa ser "tratado" e explicado, balizando determinados comportamentos e atitudes, e pondo a nú as fronteiras entre os direitos e os deveres de cada um.

O que não podemos é argumentar que sempre foi assim, e que o caso da Virginia Tech, foi uma excepção á regra, levado a cabo por um louco, que até era normal, até começar a sofrer disturbios psicológicos devido a uma falta de adaptação e integração, por via da descriminação dos colegas.

È preciso não esqueçer que as vítimas de hoje se podem comportar de maneira distinta das de outros tempos. Senão como explicar o crescente número de tiroteios em escolas, em especial nos EUA, praticado, sempre, por crianças e jovens inadaptados e posto á margem dos demais?

Podia também "culpar" a sociedade de consumo que vigora nos países do ocidente, como um contributo para um distânciamento dos valores mais humanos; agora é o "ter" em lugar do "ser". Quem não tem o "brinquedo" da moda, não é "in".

Pedro Lopes disse...

E claro, meu caro, tentar compreender e interpretar o que levou Cho o cometer tal loucura, não é, de modo algum, desculpar o indesculpável.

Nem, muito menos, tentar imputar alguma dessa culpa, aos "meninos ricos".

Mas não podemos escamutear a possibilidade do "bullying" potenciar e precipitar certos comportamentos ou atitudes, que não teriam lugar se a pressão sobre a vítima não fosse tão grande.

Rui Rebelo Gamboa disse...

Pois é, tal como escrevi no meu 1º comentário

", talvez tenha é potenciado uma tendência violenta e louca, que o jovem tinha."