26 agosto 2007

Fajã do Araújo; Mais Uma Agressão à Nossa Natureza

A Fajã do Araújo situa-se no concelho do Nordeste, e creio que faz parte da freguesia da Pedreira. Localiza-se no extremo Oriente da Ilha de S. Miguel, numa zona de fronteira entre a costa Sul e Norte desta Ilha Açoreana.

Posso assegurar da beleza e tranquilidade que se vivência nesta Fajã, o silêncio, só interrompido pelo cantar dos pássaros e pelo bater das ondas nos calhaus que defendem a falésia. É um local bastante escarpado, do tipo “ladeirento”, a geografia desta fajã não favorece a construção de casas, antes uns bons socalcos de vinhedo, mas desde há muito que alguns têm aqui morada. Mas as pequenas casas de madeira dão cada vez mais lugar a casas de blocos e cimento, com mais conforto e tamanho do que os pequenos casebres de fim-de-semana que aqui existiam, também destinados ao apoio das pequenas terras de cultivo aí existentes.

Pois parece que a pacatez deste local faz parte da história, pois “um bulldozer” irrompeu pela montanha adentro e, derrubando tudo o que se lhe opunha, transformou uma paisagem de em verde luxuriante, numa perigosa estrada, ladeada por íngremes paredes de pedra e terra, que nos conduz até um aterro junto ao mar, que será, seguramente, o parque de estacionamento de quem ali se deslocar.

Subsiste o caminho pedestre, aquele que sempre conduziu á fajã, e que parte da Pedreira, pois esta agressão á natureza foi realizada mais adiante, na berma da estrada regional que conduz ao miradouro da ponta da madrugada. Foi cortar por aí abaixo, até chegar perto do mar.

Esta obra de engenharia, que me parece bastante arriscada e de elevadíssimos custos (agora referi-me a euros), não tem, para mim e para outros que conheço, qualquer utilidade pública ou outra, que não a de facilitar o acesso automóvel aos poucos que ali possuem casas e terras. Asseguram-me que o presidente da CM de Nordeste tem lá casa.

Um qualquer local, turista ou pessoa de visita ao Concelho que deseje visitar este bonito local, pode fazê-lo pelo trilho existente, tornando o passeio mais agradável e em comunhão com a natureza. Mas quem o fizer agora, ao chegar lá baixo já não vai encontra o mesmo cenário natural que ali se podia desfrutar, nem o sossego de outros dias, pois o acesso facilitado de carros trás mais gente e mais coisas, logo mais desassossego.

Não defendo que a Fajã do Araújo seja um santuário, mas também entristece-me que alguns dos bucólicos e delicados recantos que ainda existem nesta Ilha, estejam a ser alvo de intervenções abruptas, que ferem a paisagem e alteram as dinâmicas dos eco sistemas a nível a fauna e da flora, indo contra o ideal de preservação da natureza e respeito pelo meio ambiente que queremos fazer passar.

Mas esta intervenção foi ainda mais cruel, pois além de terem rasgado a encosta, procurando chegar ao nível do mar, também feriram de morte aquela costa de calhau rolado, pois a obra estende-se ao longo da costa, ligando, agora, aquela fajã á praia do lombo gordo, através de um aterro que segue por aí adiante, sei lá até onde, desfigurando a costa e as encostas, e destruindo a beleza natural da pequena enseada que dava lugar ao areal da desta praia, pois também foram construídos pequenos aterros que formam uma espécie de pontões.

Esta estrada é perigosa e desnecessária, poderá causar vitimas e custará muitos milhões de euros, e esta obra, no seu todo, representa uma brutal agressão á nossa paisagem e natureza, aquilo que de melhor temos, para nosso deleite, e para oferecer aos outros.

Mas, depois de delapidado, o nosso património ambiental já não servirá, nem a nós, nem a quem nos visita.

Urge parar para pensar e palnear. Confio na Secretaria do Ambiente e Mar para fiscalizar e ordenar a nossa bonita paisagem e orla costeira.

8 comentários:

Rui Rebelo Gamboa disse...

Um crime, uma autentico crime. Como sabes, também conheço a Fajã do Araújo, ou pelo menos conhecia...

Não há qualquer interesse em preservar a nossa costa, ao que parece. Mais um belo exemplo foi aqui na Praia Pequena, onde um privado queria construir um pequno hotel (ou, sei lá o que era), mas a lei prevê que há que ter 50 metros até à costa. O sr. não foi de modas e tratou, ele próprio de deitar pedra à costa até ter a medida necessária. Ainda bem que imperou o bom-senso e conseguiu-se parar a coisa, mas não a tempo, pois as pedras lá estão e lá ficarão. Para mim trata-se de um crime, que neste caso deveria acarretar, além de uma multa, a obrigação de repôr a situação.

Entristece-me, acima de tudo, que as pessoas continuem a pensar nos seus próprios interesses e não naqueles de todos, e até dos seus próprios descendentes. Há que preservar aquilo que temos de melhor e que nos faz diferir e sobressair.

Inacreditável, mas infelizmente, cada vez mais recorrente.

Anónimo disse...

Certas obras, que implicam um gasto exorbitante de dinheiro público e que alteram de a paisagem e dinâmicas locais, deviam ser alvo de uma consulta aos moradores do concelho ou freguesia, ou mesmo uma espécie de referendo.

Afinal os poderes autárquicos são eleitos para fazerem obra em prol do concelho e das gentes que nele habita, por isso os eleitores locais devem ter uma palavra a dizer sobre obras desta envergadura.

E devo afirmar com toda a certeza que o pequeno sismo sentido esta manhã em S. Miguel, fez cair muita pedra e terra na estrada agora construída. Um perigo............e sem aviso prévio.

Anónimo disse...

“Oh migo” parece que vossemecê está insatisfeito com a actual política ambiental cá da região, dirija-se às entidades competentes, saia à noite, vá beber uns copos, identifique-se, confraternize

Pedro Lopes disse...

Caro anónimo, por acaso está enganado, pois confio muito na Secretária do AMbiente e Mar, Dr.ª Ana Paula Marques, por quem tenho grande apreço e consideração.

O que sei, é que há coisas que não podem ser travadas, por mais boa vontade que haja......

Quanto ao BI.....deixei-o em casa, lamento senhor guarda ;)

Anónimo disse...

Esta srªSecretária do Ambiente e Mar, Dr.ª Ana Paula Marques, está muito preocupada com a fajã do araujo pois cá no nordeste somos maioria laranja não é??. Mas em relação á fajã do calhau (água retorta) com maior impacto ou diria destruição total da paisagem, está tudo calado, pois lá nessa fajã "moram" os senhores doutores e Engºs amigos desta srªSecretária do Ambiente e do governo. Já na fajã do araujo o impacto foi menor, e contra a vontade dos "meninos da cidade" que só vêem cá deitar lixo, nós os nordestenses estámos muito satisfeitos com esta obra. Em relação ao Ambiente, não se preocupem porque daqui a 2/3 anos estará tudo verde outra vez. Quanto ao caminho perigoso??? será que eu li bém??? Quem escreveu este artigo deve de estar acostumado a conduzir só em autoestradas(são bém mais perigosas), e á muitas mais estradas perigosas do que esta na ilha de s.miguel.

Este caminho possibilitou que donos de casas com mais de 70 anos voltassem á origens, e desde modo mostrar aos netos como se vivia nesta fajã, também com este novo caminho, pessoas que tinham os seus prédio com silvas, conteiras, canas, voltassem a ser trabalhados quer com vinha e batata etc, e isso sim é que embeleza a fajã e o "Ambiente". No caso de acidentes graves ( e aconteceu um em junho) há a possibilidade de a ambulância socorrer a tempo e horas, neste caso "o caminho já salvou uma vida".
Não tenho casa na fajã do araujo, mas como todo bom nordestense gostaria de ter, ainda para mais com bons acessos.Mas fico contente por todos aqueles que as teêm( não tenho dor de cotovelo como muitos aqui)!!!

Anónimo disse...

Com o passar dos anos, as "cantigas de embalar e maldizer" ambientalistas começam a maçar.

Quem não é do local (Nordeste), não tem casa sua ou de familiares na fajã, não cresceu usando aquele espaço, não conhece a dificuldade extrema de manter construções e quintas naquela zona, que escolha outro sitio para exercitar os seus dotes de deitar abaixo. Escolha, por exemplo, o caminho (o novo) de acesso à Fajã do Calháu - Agua Retorta. E mesmo no que toca a este ultimo, o que poderá estar em causa, na minha opinião, é o traçado e custo da via e não a pertinencia da sua construção.

Estas zonas foram ocupadas durante séculos pela população local. Gaspar Frutuoso já dá conta disso, de forma circunstanciada, no sec. XVI.

Quem não notou o abandono a que foram sujeitas, nos ultimos anos da "era do plástico e TV", onde se tornou quase impossivel suportar os custos de manutenção do que lá existe? Esta via vem restituir a possibilidade de manter o uso daquela zona que, durante meio milénio, foi predominante para agricultura e lazer da população local.

Quem não é da zona, não tem lá propriedade, é funcionário publico ou de empresa monopolista, passa férias numa qualquer "Tunísia" e foi apenas "duas" vezes e esta fajã, procure outra zona para exercitar as suas aptidões de "Neo-Ambientalista".

Com todo o respeito devido a todas as opiniões (genuínas, papagueadas ou mal intencionadas), acho que a população urbana (PDL, LG, VFC e AH) tem matéria de sobra para se debruçar e opinar no que toca à desconsideração pelos valores ambientais da sua vizinhança.

Lembrem-se do ambiente do Nordeste na proporção directa da consideração que para com ele tem os Governos na distribuição do Orçamento Regional.

Anónimo disse...

Passado tanto tempo e tudo mais calmo, não é hora de acabar o que foi começado, eu penso que já que se começou deve-se acabar, pelo menos o risco de acidentes ou queda de pedras seria menor, estão á espera que haja vitimas.
Deixem de se preocupar com a vida dos outros e com o que eles teem a vossa não vos dá que fazer.
Sejam felizes a vida são 2 dias.
Alma Nordestence.
21-06-2010

Joao rebelo disse...

O pó assentou. O caminho está aberto para a faja do Araujo e muito capaz,relativamente barato, sem danos de monta no impacto visual/ ambiente ao contrario da coisa horrorosa que fizeram na Agua Retorta, com aquela ferida na costa para dar acesso ao calhau , isto é, a uns poucos com as costas quentes do poder.Quanto as refrencias à sra. Ana Paula marques , dá vontade de rir Fui colega dela numa escola secundária e sei o que vale...Toca a "chupar" ajudas de custa pras procissoes, e pôr os familiares em tachos e capelinhas
João Rebelo