Existem temas, que por causarem fracturas numa sociedade, e tocarem em valores, por exemplo, pessoais e religiosos, devem merecer da parte de quem Governa um cuidado especial.
Esse cuidado, pode, entre outras formas, incluir a realização de um referendo – como sucedeu com a questão do aborto –, de modo a que a sociedade sinta, que foi o todo, que prevaleceu sobre uma das partes.
A Eutanásia, a meu ver, também merece esse cuidado, pois é um tema muito pessoal, também de cariz religioso, e que aborda directamente a morte, mais do que a vida.
Este tema, quase tabu, começa a merecer atenção por parte de investigadores e cientistas sociais do nosso país, cabendo-lhes a tarefa de ir despertando as consciências á volta de um tema tão delicado.
O aumento da esperança média de vida, não pode afligir somente os Ministros da Economia dos países desenvolvidos, também deve merecer atenção por parte dos Ministros da Saúde e Segurança Social, que têm a obrigação de zelar pela saúde e bem estar dos seus cidadãos. O Welfare State, que é como quem diz, Estado Providência.
Os idosos, serão cada vez mais, e com os avanços da medicina a permitirem um gradual “esticar” de uma vida, tê-los-emos por cá – mesmo que de forma vegetal –, por muitos e bons anos. Por este andar, ainda seremos comparsas de Lar dos nosso pais e, quiçá, avós. !!!
A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, está a desenvolver um projecto que visa traçar um primeiro retrato sobre a questão da Eutanásia e do Suicídio Assistido no nosso país.
Rui Nunes, coordenador do projecto, e presidente da Associação Portuguesa de Bioética, afirma que “é preciso ter dados credíveis para definitivamente discutirmos essa questão (eutanásia e suicídio assistido) em Portugal”, tendo, para tal, já inquirido numa primeira fase, 450 médicos, tendo-se concluído que 40% destes se mostravam favoráveis a essa possibilidade.
Nesta segunda fase foram inquiridos a propósito do mesmo tema, 800 idosos residentes em Instituições/ lares, e sem doenças graves ou crónicas, de todo o país.
As perguntas centrais eram três: saber se estas pessoas pensam na morte; se a eutanásia poderia ser considerada uma solução para o seu caso; e se, mesmo que não pensassem nessa hipótese para si, aceitaria uma legalização que servisse para outras pessoas?
Os resultados, nas palavras de Rui Nunes, “podem ser encarados como perturbadores”, pois os dados iniciais indiciam que uma taxa a rondar os 50%, se mostra favorável á legalização da Eutanásia e Suicídio Assistido.
Este especialista e coordenador do projecto, explica ainda que “se destacam disparidades regionais, possivelmente devido á influência da Igreja católica”. As Regiões Autónomas, alinham ao lado do interior e norte do país – menos receptivos á ideia da eutanásia -, enquanto os mais “liberais” se situam no centro e sul do país.
Penso que são dados que já dão margem para se poder declarar que já há condições para dar início a um debate sério e alargado sobre este assunto, que tem tanto de delicado como de essencial.
Quem não conhece a luta de um galego, Ramón Sampedro, tetraplégico, que reivindicou, durante anos, o direito á eutanásia, tendo-a concretizado, o que acabou retratado no filme, “Mar Adentro”.
Haverá, aqui, lugar a um direito Divino, ou essa decisão é (um direito) individual?
7 comentários:
Caro amigo, sem dúvida um assunto fracturante e na ordem do dia, por via também da jovem italiana.
Sou católico, mas tenho as minhas próprias convicções e não alinho cegamente em tudo o que o Vaticano diz. Há áreas em que claramente a Igreja tem que se renovar e revêr os seus ditames. Dito isto, penso que há casos onde se pode aplicar a eutanásia, se bem que tenha que ser com muita cautela.
Há ainda uma longa discussão a fazer sobre esse assunto, onde os peritos em ética têm uma palavra a dizer.
existe tal coisa: 'direito divino'?
Cara SB, depende do grau de "beatice" ;)
A express�o � trazida para o dom�nio p�blico por Voltaire aquando do terramoto de lisboa, o "direito divino" � a express�o de confronto do homem, fazendo frente a qualquer entidade divina.
Quanto � eutan�sia � morte em primeiro lugar e o confronto com as t�cnicas pode acontecer depois do confronto com os receios. Primeiro � preciso perder o medo de morrer e s� depois de falar das coisas.Vamos reunir-nos daqui a duzentos anos para falar nisto.
Camarada, ninguém tem memória da morte que teve.
Eu, á tua semelhança, Rui, tb, estou aberto á ideia de ser permitida a eutanásia.
Obviamente que em condições extremas, e com o devido aval da medicina, e, se fosse o meu caso, nunca sem antes serem consultados os familiares.
Só espero que a discussão à volta deste assunto não demore , como vaticina o anónimo das 19h24m, 200 anos a ser feita. Aí, será tarde para mim, pois gostaria, ao menos, de ter a possibilidade de escolher.
E, caro anónimo das 21h19, lamento desampontá-lo, do alto da sua certeza, mas existem pessoas que têm memórias da sua morte.
Então quer dizer que ainda estão vivas.E repare camarada, que Lázaro depois de ressuscitado, desaparece.Não teve mais que uma função.A humanidade do processo desaparece para dar lugar a uma manifestação divina, uma transcendalidade.Portanto a ideia que se tem da morte, não é a ideia da morte enquanto tal mas do confronto com a mesma, no sentido da prevalencia da vida. Repare, parece-lhe que no "céu" existe estradas e luzes roxas. E no entanto já as vi, mesmo estando absolutamente vivo. Consumo-me, com uma certeza, Deus está para lá do jogo das apostas e o homem vale demasiado para ir a jogo.
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