21 janeiro 2008

"Salas de Chuto", e porque não?

Eu sou favorável à abertura de salas de injecção assistida, vulgo “salas de chuto”, nos Açores.

Dito isto passo a expor os meus argumentos; em primeiro lugar esta medida não significa um baixar de braços, um desistir de lutar contra estas e outras dependências, mas antes uma forma de aproximar os consumidores de técnicos habilitados, que os podem conduzir a um caminho de recuperação.
Depois, mesmo que o toxicodependente não esteja aberto tratamento, pelo menos a sua dose diária é ministrada (pelo próprio, claro, pois o prazer da “agulha” também é parte integrante do ritual) em ambiente “assistido” e com higiene, sem partilha de seringas e suas, eventuais, trágicas consequências.
E o factor mais importante é que o “chuto” é dado longe dos olhares involuntários de quem circula na rua, e a seringa que foi utilizada não fica espalhada pela rua, num qualquer canto, ao alcance de alguma criança que queira “brincar aos doutores”.

O que antes víamos nos telejornais do continente, foi-nos mostrado pela nossa RTP, com várias reportagens em diferentes locais, em que, quem já não sabia o que está à vista de todos, se pôde aperceber da dramática situação que aflige as nossas ilhas, provocada pelo consumo abusivo de drogas duras, e por todas as problemáticas associadas aos toxicodependentes.

Só um exemplo; um comerciante da baixa de Ponta Delgada, dizia aos microfones da RTP – A, “Isto é uma vergonha. Há uns dias atrás, estavam ali três toxicodependentes. Preparam a dose e, depois, com uma só seringa, injectaram-se os três, um a seguir ao outro. E estavam aqui mesmo nas escadas, à vista de todos os que passavam.”

Será melhor deixar assim?

Se eu fosse o Legislador (!), criminalizava duramente o consumo de rua. Quem quisesse injectar ou fumar drogas, ou ia para uma qualquer propriedade privada, ou tinha de fazê-lo nas salas de chuto.
É uma utopia? O.K., é a minha.

15 comentários:

Anónimo disse...

Nota: a frase com que inicío o meu post, para ser esclarecedora foi também generalista.

Ou seja, sou a favor da abertura de salas de chuto nas cidades de PDL, RGD, AH, PV e Horta, por serem os locais onde há (suponho eu) maior tráfico e consumo, e onde se aglomeram, normalmente e em maior número, os toxicodependentes.

Por exemplo, cada autarquia, em parceria com as estruturas governamentais próprias, poderia avaliar a situação do seu concelho e daí aferir da necessidade, ou não, de abrir um destes espaços.

Anónimo disse...

Caro Pedro Lopes
Subscrevo quase integralmente e sem reservas este postal ! Contudo, a irmos por esse caminho mais valia o Estado claudicar e aceitar que : se não pode lutar contra o tráfico, logo, deve então tomar o lugar que lhe compete e comercializar o produto garantindo um preço justo e uma qualidade aceitável ! É este o destino final quando se vai por aí. Em alternativa temos o velho Estado de polícia e um reforço das medidas securitárias...mas o custo social destas medidas não é "popular". Estas meias-tintas em que vivemos é que não servem ninguém.
JNAS

Anónimo disse...

Concordo, am absoluto com o Pedro e com o anónimo.
Em vez do estado estar a tirar dividendos de bolsos já bem depauperados, ficava com os proventos da droga, à semelhança do que faz com as tabaqueiras.
Ninguém começaria a drogar-se ou se drogaria mais por isso, não se metia dinheiro ao bolso de intermediários ( abutres que se alimentam da desgraça alheia ), o produto era puro e o seu consumo restringido a espaços próprios e, como tal, facilmente controláveis, o índice de criminalidade desceria abissalmente e, como já referi, a ter de lucrar alguém, lucraria o estado, ou melhor, os contribuintes.

Rui Rebelo Gamboa disse...

Também concordo, como bem sabes, Pedro. Não há dúvida que a forma que o Estado tem encarado o problema tem sido "enfiar a cabeça na areia", o que permite quea conteçam situações verdadeiramente preocupantes, como a descrita no post e aquela que acontece no Avião (a Sul do Liceu).

Ninguém segue o caminho da droga obrigado, ou sendo vitíma de qualquer situação. Quem entra no vício da droga dura, fá-lo ao longo do tempo, sabendo naquilo que se está a meter. Isso é garantido, qualquer outra forma de analisar o problema, será sempre querer desculpar os toxicodependentes. Sendo assim, quem deve ser primeiramente protegido desta triste situação, são os comuns cidadãos que andam nos espaços públicos. Esse tem que ser o principal objectivo. Depois, só depois, é que se pode pensar em ajudar os toxicodependetes. E, para sorte de todos, a solução que o Pedro apresenta permite que os dois lados do problema sejam atendidos de forma muito melhor do que actualmente.

E, caro JNAS, o Estado tem que reconhecer o problema, é esse o caminho. Agora, não pode "comercializar" de forma aberta a todos. Teria de ser algo regulamentado e muito bem fiscalizado. É que a outra solução que apresentas, já não é solução. O Estado vai gastar em medidas securitárias, mas o traficante estará sempre à frente e arranjará sempre formas de "furar" a segurança. Não se pense com isto que sou a favor da desresponsabilização, antes pelo contrário. Quem quisesse, nas ditas salas, ser ajudado, óptimo, se não quisesse seria colocado num local onde não incomodasse o resto da sociedade sendo-lhe providenciado aquilo que quer e mais nada. Chocante? Eu não acho. Chocante é o que se vê nas ruas agora.

Nestum disse...

Este é um tema que, por mais que seja discutido, dificilmente encontraremos uma resposta final acertada. Na minha opinião, as salas de chuto devem existir, mas não num sitio fixo. Senão, coloquem-se na pele dos vizinhos. Podia por exemplo ser uma carrinha preparada para o efeito, correndo os locais de habitual consumo. Seria a "carrina do chuto" ehehe
Acho que as vantagens de se acompanhar esse acto são indiscutivelmente vantajosas. A questão das doenças, o facto de se dar alguma dignidade ao acto, ou até mesmo o ttrabalho de técnicos junto dos dependentes, são algumas das vantagens a enumerar.
Indiscutivelmente, é algo a ponderar.
É caso pra dizer que quando não os podemos vencer, juntamo-nos a eles.

Cumps

Anónimo disse...

Não me agrada a perspectiva de ver os toxicodepndentes tão bem tratados enquanto os fumadores são escorraçados!

Pedro Lopes disse...

Meus caros, JNAS, Anónimo das 0:28, Rui e Sérgio, muito me agrada saber que esta – que eu pensava minha –, utopia, afinal é partilhada por outros.

(percebo a indignação do anónimo das 18:09, afinal falamos de duas drogas mas em lados opostos da legalidade ;)

Na realidade eu, neste post, não me refiro a uma solução de legalização das (outras) drogas, embora eu defenda esta ideia. A implementação de “salas de chuto” poderá ser seguramente um primeiro passo, uma espécie de incubadora de uma solução semelhante à que já existe na Suiça. Ou seja, o dependente de drogas duras (cocaína e heroína) recorre, de manhã e ao fim do dia, a uma unidade de saúde onde se encontra registado e onde lhe é fornecida a dose, normalmente intravenosa. A par disto, pode ter uma actividade profissional e uma vida longe da criminalidade, que normalmente é usada (criminalidade) como forma de obtenção de dinheiro para manter o vício. Isto não dá tempo e espaço para mais nada, é uma dedicação total e direccionada a um único objectivo; ter dinheiro para mais um chuto.

A solução repressiva, essa, está perdida há muito. Nem me refiro ao país mais rico do Mundo, com mais meios humanos e tecnológicos, os EUA, e da sua batalha perdida contra os grandes cartéis de coca da Colômbia.

Vou antes abordar o consumo, mais que assumido, até pelos responsáveis estatais, de drogas duras dentro dos nossos estabelecimentos prisionais. Se nem num espaço destes - onde o fiscalização e as regras são tão apertadas e rígidas, um espaço de “controlo” por natureza, de “privação da liberdade” -, o Estado consegue evitar que lá entrem e se consumam drogas, injectáveis inclusive, como poderá, sequer, ousar pensar que conseguirá controlar o tráfico, e consequente consumo, das drogas actualmente criminalizadas nas ruas que se querem livres??? Não foi esse mesmo “Estado” que pensou criar “salas de chuto” nas Cadeias??

Por isso, tal como alguns aqui já o disseram, se a “guerra” contra o tráfico (e consumo) não está já perdida, pelos menos não lhe conheço evolução positiva. Desconheço as estatísticas, mas há muitos anos que lutamos contra este flagelo sem o conseguir conter, quanto mais controlar.

Claro que uma solução de legalização, ou algo semelhante, tem de ser feito a uma escala, se não global, pelo menos a nível Continental. Não há soluções fáceis para problemas tão complexos, mas deixar como está não augura nada de bom….

N.B.- o álcool, a droga porventura mais “dura” de todas, aquela que mais males sociais provoca, é legal, e está acessível a quem tenha uns míseros trocos. (não será descabido lembrar aqui o período da “lei seca” nos EUA, e o descalabro que a proibição causou)

Anónimo disse...

Camarada.É começar bem. Começar por dizer aquilo que é a nossa opinião. A "Utopia" era uma ilha e esta ilha também é sua.

Rui Rebelo Gamboa disse...

...e o futuro do Thomas More foi aquilo que se viu...

Pedro Rocha disse...

Concordo plenamente, se não é possível erradicar o mal, pelo menos temos que tentar minorá-lo.
Não é perfeito, mas é um começo.

Blueminerva disse...

Não podemos ignorar o que nos rodeia. Eu também sou a favor da criação de salas de chuto.
Aquele abraço

Unknown disse...

bom post. já era hora de acabar com as hipocrisias, mas infelizmente nem toda a gente quer andar para a frente.

Anónimo disse...

E para quando uma sala, ainda que modesta, para os fumadores?!?
Já agora, podia ser que passassem a não nos olhar com tanta intolerância e,por vezes, até rancor!

É que já tenho saudades de fumar o meu cigarro em paz!
Ok, concordo, é desagradável para os não fumadores, respeito isso, mas que eu saiba não há notícia de assaltos e violência para poder comprar o cigarrito.
Quanto aos maleficíos do fumo para os passivos...salvaguardando aqueles que convivem com o fumo diáriamente, nomeadamente os profissionais de restauração e divertimento nocturno, não me parece que seja um fumozito de passagem que faça assim tanto mal, mas já agora gostaria de dizer que nunca vi ninguém insurgir-se contra certos veículos, alguns pertencentes a transportes públicos, que emitem tanto mas tanto fumo, que eu, que até sou fumadora, tenho que suster a respiração quando eles passam!
Engraçado, nunca vi ninguém denunciar este tipo de coisas, mas o cigarro...ai o cigarro!


PS:quando fôr grande, quero ter um blog assim! :)

Unknown disse...

Hum...interessante ainda há algum tempo atrás coloquei no meu blogue um post semelhante ao teu.
Gostei de ler-te, visita-me...
Bjinho

Anónimo disse...

Cara "i just can´t get enough",

tentei visitá-la, mas deparei-me com uma "serpente". Não vi qualquer ligação ao seu Blog, pelo que não pude ler o texto a que se refere.

Gostaria que deixa-se a "morada" do Blog.

Cumprimentos.