17 fevereiro 2008

Onze Lições de McNamara


Não temos o hábito de fazer ligações a sítios deste género, mas neste caso abre-se uma excepção. Aqui há a possibilidade de descarregar o filme The Fog of War – Eleven Lessions on the Life of Robert S. McNamara (neste caso as legendas são em turco).

Já falei sobre este filme/documentário aqui, mas ao revê-lo sinto a necessidade de tecer mais algumas considerações. Interrotron foi o sistema utilizado pelo realizador, Errol Morris, que consiste num mecanismo que obriga o entrevistado a manter contacto visual com a máquina de filmar e com os espectadores. Este facto amplia infinitamente o impacto do filme.

Estamos a ouvir a história de vida de um homem que começa no final da I Guerra Mundial. Um homem nascido numa família com poucas posses, mas que devido à sua grande capacidade de trabalho e inteligência, levou-o a Harvard com uma bolsa de estudo. Um homem que foi o primeiro presidente da Ford, que não membros da família de Henry. Um homem que ao fim de cinco semanas nessa posição, demitiu-se e ocupou o cargo de Secretário de Defesa a convite do recém-empossado John Kennedy.

Depois de concluir os estudos em Harvard, os EUA entram na II Guerra Mundial e McNamara vai trabalhar para o Gabinete de Controlo Estatístico da Força Aérea, que aconselha o General LeMay a bombardear cidades japonesas que levou à morte de 1 milhão de civis, antes de Hiroxima e Nagasaky. É brutal o impacto das suas palavras, ao mesmo tempo que vê imagens do resultado desses bombardeamentos, McNamara acaba dizendo que ele e Lemay portaram-se como criminosos de guerra e que se os EUA tivessem perdido a guerra, teriam sido julgados como tal, rematando com a questão “Porque razão é imoral, se perdemos, e não, se ganhamos?”

O filme avança para os anos ’60. Entre 1960 e 1967, McNamara foi o Secretário de Defesa dos EUA. Assim, fornece-nos um relato inquietante relativo à Guerra Fria. Durante este tempo, McNamara viveu a Crise dos Mísseis de Cuba, o assassinato de Kennedy (de que não fala) e o escalar da Guerra do Vietname. Os registos telefónicos apresentados no filme mostram como era intenção de Kennedy e McNamara retirar do Vietname até 1965 e mostram como Johnson tinha uma visão diferente, que acabou por levar à saída de McNamara.

Apesar de (aparentemente) McNamara ser contra o aumento do número de soldados no Vietname, a verdade é que foi leal a Johnson enquanto foi Secretário de Defesa. Assim, foi ele quem ordenou o Agente Laranja e o progressivo aumento de soldados para o Vietname. Durante esse período, 25 mil americanos morreram no Sudeste asiático. As manifestações em Washington contra a guerra foram muitas, mas McNamara realça Norman Morrison que se encharcou com gasolina e, com a filha pequena ao colo, incendiou-se por baixo da sua janela no Pentágono, para protestar contra a Guerra.

Sinceramente, depois de ver este filme duas vezes, não sei que pensar deste homem com 85 anos. A pergunta que serviu de título ao post que escrevi da primeira vez que vi o filme mantém-se: McNamara: herói ou vilão. A verdade é que ele foi co-responsável pela morte de milhares, ou centenas de milhar, ou se contarmos com o Japão, com mais de um milhão de pessoas. Mas em nome de quê? De uma lealdade e patriotismo que já não conhecemos, que se esbateu depois do fim da Guerra Fria? As perguntas persistem…

1 comentário:

Pedro Lopes disse...

Rui,

se o documentário sobre a vida deste homem, por si só, já me desperta interesse, depois da persistência das tuas inquietações fico ainda mais tentado a v^-lo.....não fossem as legendas em Turco, ía já descarregá-lo ao dito site ;)

Uma coisa é certa, poucos admitem o mal que, conscientemente, praticaram. Só isso já é nobre. A interrogação que McNamara faz (final do 4º parágrafo do teu post), demonstra isso mesmo.

para ver um destes dias.