A Europa (alimentada pela realpolitik económica) não percebe que o Hamas decretou que não existiria qualquer Estado judaico independente entre o rio Jordão e o Mediterrâneo e que o Hezbollah, além de tomar o Líbano, pretende destruir Israel.
Por outro lado, os europeus não perceberam, ou fingem não perceber, que o “mainstream intelectual”, órfão desde 1991, pressente as novas causas “de explorados contra exploradores”, agudizando o discurso anti-israelita e alimentando o extremismo islâmico, que poderá fragilizar a segurança europeia.
Hoje, os europeus, porque receiam enfrentar os fantasmas do passado bélico, do confronto com o inimigo, ainda por cima invisível e imprevisível, preferem, em nome da bondade civilizacional, não definir os limites da recepção de muçulmanos que pretende ter dentro das suas fronteiras.
Na realidade, a Europa terá de perceber que em vez de lançar “achas para a fogueira”, deverá, antes, exercer diplomaticamente a sua influência, apresentando-se como exemplo a seguir, realçando os valores intrínsecos mais proeminentes que motivam a atracção do resto do mundo e as consequentes migrações para o seu interior. Como diz Joseph Nye “ In nations, it rests upon culture (where it is attractive to others), values (when they are applied without hypocrisy), and policies (when they are inclusive and seen as legitimate in the eyes of others.)".
Por tudo isto, os europeus têm de compreender que só mantendo e reforçando a sua cultura, a sua estabilidade, a sua prosperidade, os seus valores, poderão ser o elo para paz e, para isso, é fundamental perceberem que têm dentro das suas fronteiras cerca de 20 milhões de muçulmanos, nem todos pacíficos nem todos extremistas, mas em larga maioria susceptíveis, e que a sua presença é um desafio constante à harmonia social, levantando questões que os europeus já tinham vivido, discutido, assimilado e encerrado, entre as quais a liberdade religiosa (e por arrastamento, a própria Liberdade, no sentido que Isaiah Berlin definiu como ausência de coerção intencional de terceiros) e a sua identidade.
Esta susceptibilidade é ambivalente, uma vez que a sua integração ou a sua “guetização” dependerão da forma como a Europa transmite os valores essenciais da sua civilização.
Hoje, os europeus, porque receiam enfrentar os fantasmas do passado bélico, do confronto com o inimigo, ainda por cima invisível e imprevisível, preferem, em nome da bondade civilizacional, não definir os limites da recepção de quem e de quantos pretendem ter dentro das suas fronteiras.
Prudência na aceitação, clarividência na convivência, firmeza na integração, mais dos que “chavões políticos”, terão de ser as atitudes básicas na recepção dos emigrantes, afinal os limites essenciais para o tão pretendido multiculturalismo europeu.
No mais, a Europa enfrenta desafios novos como a redefinição das suas fronteiras, com a eventual integração de novas unidades políticas, cuja matriz cultural é objectivamente diversa e que constitui um desafio para os pilares fundamentais da civilização europeia.
No seguimento, a Europa conhece as suas vulnerabilidades: uma política de defesa incipiente, uma dependência energética extrema, um acentuado decréscimo demográfico e uma pressão migratória elevada, o que terá de a levar a redefinir o seu posicionamento geoestratégico perante os vizinhos, por ser essencial para a sua sobrevivência.
E se conhecer as suas fragilidades, já é um passo, maximizar as oportunidades para demonstrar o seu poder dentro e fora das suas fronteiras, será a própria sobrevivência.
5 comentários:
Aos poucos, o José Gonçalves que conheço, pessoa com um conhecimento invejável e, mais, com capacidade de articulação desse conhecimento. Mas, basta de elogios ;)
A interpretação do soft power do Nye é excelente e é onde, de facto, a Europa deve apontar a sua política externa ... nem que seja porque não tem mais nada [poder bélico, leia-se]. Quero crer que ainda há alguma linha de pensamento europeu que coloca a sobrevivência deste modelo civilizacional acima de qualquer complexo que o passado persiste em manter vivo. Quero crer que essa linha de pensamento não vê nos muçulmanos, ou noutro qualquer povo um risco, mas sim uma oportunidade de utilizar apenas e só aquilo que faz falta dentro das fronteiras da UE.
Sobre este assunto, quero deixar um breve relato sobre uma reunião que tive em Bruxelas com diplomatas da América LAtina sobre migração. Tratava-se, no fundo, dos direitos dos imigrantes ilegais, discussão que aqui não vou abordar. Quero só dizer que apenas a Holanda afirmou uma política de imigração que entra nessa linha: aceitam imigrantes para colmatar as falhas que o seu tecido populacional tem, além disso têm uma política de recrutar nas universdidades de países terceiros as melhores mentes. Em troca, dão auxilios à investigação nos países de origem e afins. Para alguns isto poderá parecer uma autentico atentado a tudo, mas para mim, não.
Caro José,
O problema a cada dia que passa é maior e logo para começar porque os muçulmanos europeus têm em média três vezes mais filhos do que as famílias de raízes europeias tradicionais e, como tal, a população muçulmana na europa triplicou nos últimos 30 anos (neste momento estima-se que já sejam 23 milhões) e os especialistas prevêem que ela possa duplicar até 2020.
O preâmbulo do novo Tratado Constitucional da União Europeia não faz menção à herança cristã da Europa, logo, na minha opinião uma forma de apaziguar o crescente número de muçulmanos europeus. Vivemos numa época de tensão e medo, basta olhar para alguns episódios do quotidiano europeu nos últimos anos:
- O assassinato, em Novembro de 2004, de um cineasta que criticava o islamismo motivou vários ataques, por incendiários, contra mesquitas holandesas.
- Também em 2004, e face ao número crescente de estudantes muçulmanos na França, fez com que o governo francês proibisse o uso do véu nas escolas, sob a alegação de que esse tipo de hábito religioso é incompatível com a tradição secular do país.
- Desde os ataques de 11 de setembro de 2001, as autoridades descobriram células da Al Qaeda em vários países europeus, incluindo Reino Unido, Espanha e Alemanha, fazendo com que a questão dos imigrantes muçulmanos, aos olhos de certas pessoas, passasse a ser não só uma questão social, mas também de segurança.
- Cidades como Marselha e Roterdão, possuem atualmente populações muçulmanas que chegam a 25% do total de habitantes. Em Paris, Londres e Copenhaga, esse número chega a mais de 10%.
- Nos últimos anos, partidos da dita extrema-direita, e que apoiavam medidas severas contra a imigração tiveram um desempenho extremamente positivo nas eleições de vários países europeus, incluindo aqueles com uma tradicional reputação de tolerância.
No entanto, a europa necessita desesperadamente de imigrantes, pois a sua população envelhece de ano para ano, necessitando os sistemas de segurança social europeus de uma força de trabalho suficientemente grande para garantir os beneficios dos aposentados.
Assim, não prevejo grandes evoluções, bem pelo contrário, na politica externa da europa para o problema Israel-Árabe.
Saudações
Caro José,
este é um tema que nos acompanha hà décadas, embora conheça, de quando em vez, altos e baixos.
(até um extremista judaico assassinou Isaac Rabin - então primeiro ministro de Israel -, por este tentar promover a Paz entre estes dois povos)
Não há presidente americano que não faça questão de tentar resolver, durante a sua legislatura, esta questão das fronteiras. São eles que têm tido o protagonismo....a Europa, por via das vulnerabilidades que bem apresentas, tem-se mantido um pouco á margem. Insensato, até porque é aqui, nesta nossa Europa, que os muçulmanos se têm instalado e multiplicado.
O Voto Branco toca em questões pertinentes, tanto mais que os atentados de Londres tiveram a mão, não só de radicais islâmicos que ali se instalaram, mas também por Ingleses filhos de emigrantes muçulmanos. E alguns deles com formação superior, e, aparentemente, bem integrados na sociedade Inglesa e que cresceram "bebendo" da cultura do Ocidente.
Neste capitulo, há um líder radical islâmico, que reside em Londres, um tal de capitão gancho, de nome Abu Hamza al Masri (que tem no currículo uma mão amputada, por experiências com engenhos explosivos - embora alguns digam que lhe foi amputada na Arábia saudita por ter roubado) que se aproveita de alguns muçulmanos mais voláteis, desesperados ou influenciáveis, para fazer a sua "jihad" em plena capital Inglesa. Neste campo, já apreciam a liberdade de expressão que se respira no Ocidente.
E O Líbano, como bem dizes, caro José, aos poucos vai sendo território do Hezbollah. Mas quando Israel lá entrou para os eliminar, logo vieram alguns falar de soberania e prudência.
Eu odeio, abomino as Guerras, mas contra o terrorismo - islãmico ou de outra espécie - prefiro que sejam os que o promovem a morrer, do que o cidadão inocente que nada fez/faz para promover o ódio.
Aliás, neste século, deveriamos acabar, de vez, com esta choque cultural. A adesão de que falamos na primeira parte deste post, poderá ser um importante passo. Mas, por ora, não creio que haja condições para se abrir essa fronteira.
Voto Branco,
A questão que fala do preâmbulo do Tratado Europeu é um exemplo acabado da linha de cedências que não devemos seguir. Nem que seja porque esse tipo de linha alimenta a extrema-direita. Depois, com a crise, emigrantes que têm trabalho e "locais" que estão no desemprego e outro tipo de situações análogas e temos as condições para partidos daquela área se fortalecerem.
Caro Rui,
Será que conseguiremos "trava-los"? Com ou sem Turquia? É a dúvida que se me coloca!
Saudações
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