15 maio 2009

Os Blogues e a Intervenção Política

Injustamente, esqueci-me de incluir nos dados positivos o Movimento Contra a Sorte de Varas, iniciado pelo InConcreto e seguido por, cerca de, 50 blogues (este incluído). Resta saber até que ponto teve influência nas decisões pessoais que cada deputado teve de tomar por si próprio(alegadamente).

Sinceramente e por aquilo que sei, a blogosfera made in Açores é vista por um bom número de deputados e políticos em geral. Aliás, muitos têm o seu próprio blogue, twitter, facebook, etc., nem que seja para seguir a moda. Portanto, será legítimo pensar que sim, que o Movimento Contra a Sorte de Varas e toda argumentação que lhe foi associada, tanto ao nível de posts, como ao nível de comentários, teve influência entre os indecisos e até, quem sabe, entre alguns dos que começaram por ser a favor. Porque, verdade seja dita, alguns dos argumentos a favor da introdução daquela abjecta actividade foram simplesmente patéticos.

Não se tenha dúvida: a internet está a ocupar um espaço cada vez maior na actividade de opinião política, às custas, evidentemente, dos jornais. Nos Açores, esse movimento será ainda mais evidente, dada a letargia a que a comunicação social tradicional está entregue. Além do imediatismo e da rapidez com que a informação/opinião circulam, a internet e os blogues, em particular, têm outras vantagens decisivas, como o debate e troca de ideias e, em muitos casos, a abordagem que os autores têm relativamente à sua intervenção.

Não posso deixar de incluir nestas breves linhas, uma consideração sobre o anonimato: também esta especificidade da internet poderá ser considerada uma vantagem em relação aos media tradicional, porque, em muitos casos, poderá ser a única forma de certos indivíduos colocarem cá fora aquilo que pensam, sem receios de nenhuma espécie. No entanto, receio que o anonimato retire alguma da credibilidade que, com enorme dificuldade, os blogues têm vindo a construir. De resto, o factor anonimato será apenas mais uma razão para que, mais tarde ou mais cedo, se tenha que regular, de alguma forma, a intervenção na net. Simplesmente não podemos ficar ao dispor de ataques vis, ameaças, boatos, plágios, etc. sempre que um qualquer assim o entenda.

A Liberdade, mesmo na net, tem limites.

12 comentários:

Tibério Dinis disse...

Bom post, eu não consigui ainda perceber se teve influência decisiva, muito provavelmente não. Mas, tem pelo menos uma pequena quota parte de influência, pois apesar de o movimento não ter mudado sentidos de voto, foi mais um factor levado em conta nas alterações de voto.

A blogosfera consegue reunir a opinião de meros cidadãos e em tempo útil, é um excelente meio nestas nove ilhas, consegue-se reunir rapidamente pessoas de Santa Maria às Flores.

Fiquei surpreendido pelo nosso nível argumentativo comparado com a ALRA não fomos em nada inferiores. O problema é que a força dos blogues reside nas visitas que tem e nos Açores ainda há pouco volume de visitas. Os dois blogues mais visitados nem devem ter mil visitas únicas diárias.

Outro facto é que a blogosfera escrevendo muito do tema, qualquer pessoa que fosse ao google pesquisar sobre a Sorte de varas, caia logo nos blogues, foi também um factcor forte a nosso favor.

Haja Saúde

Tiago R. disse...

Apesar de menor e com menos visitas, a blogosfera açoriana consegue e em muito boa parte graças ao Planeta Açores (Salvé!), ser mais relacional. Os bloggers, visitam-se, comentam-se e até organizam-se e unem-se mais do que noutras zonas do país. É uma vantagem.

Claro que as opiniões da blogosfera têm um peso superior ao seu peso numérico das pessoas que a compõem e frequentam. Até porque somos leitura indispensável para políticos e jornalistas. Somos, até, em muitos casos, fonte noticiosa para muitos destes últimos.

Por fim, o anonimato. O anonimato faz parte dos padrões desta nova democracia digital que estamos a construir. Porque também há muita gente que, mesmo assinando, não mnerece credibilidade.
Claro que haverá sempre alguns que recorrem ao anonimato pelo prazer do insulto e por cobardia. Mas não confundamos a árvore com a floresta.

Rui Lucas disse...

Infelizmente, Tibério, os dois blogues mais visitados nem sequer atingem os 400 visitantes diários (nos dias úteis).

Não compreendo como se insiste em comentar a influência da nossa blogosfera sem sequer olhar para as estatísticas.

Embora os números não sejam tudo, como refere, e bem, o Tiago.

A influência não é facilmente mensurável. Mas as estatísticas já dão boa uma ajuda.

Rui Rebelo Gamboa disse...

Rui Lucas, o universo que deve ser contrastado com essas 4000 visitas diárias, não é o universo dos 250 mil habitantes dos Açores, mas sim o universo de deputados, políticos e qualquer pessoa que esteja envolvida na decisão política. E aí, 400 visitas já é muita coisa.

Como disse no post, o facto de todos, ou quase todos os deputados consultarem os blogues, poderá ter sido vital. É ali que se decide e não entre os 250 mil hab.

Rui Rebelo Gamboa disse...

Onde se lê, 4000 visitas no comentário anterior, deve-se ler 400, que é o número que o Rui Lucas apresentou.

Rui Lucas disse...

Caro Rui, por alguma razão escrevi que a influência não é facilmente mensurável.

Na ilha de São Miguel, por exemplo, a rádio Horizonte é mais ouvida que a RDP, mas não tem a influência desta última.

Não se pode é concluir que um movimento de algumas dezenas de bloggers contra a sorte de varas foi decisivo para o desfecho final.

Até porque a larga maioria dos intervenientes pouco mais fez, e apenas nos últimos dias, do que afirmar que era contra aquela prática.

O único que vi apresentar argumentos dignos desse nome foi o Tibério. Ele agiu, os outros reagiram.

Tibério Dinis disse...

Acho interessante o debate da importância dos blogues, depois deste movimento. Como diz o Rui Lucas ainda não há visitantes suficientes para determinar o quer que seja, mas pode influenciar nem que seja uma minima parte ou ser mais um factor a ser levado em conta.

Voltando aos 2 maiores blogues da região, 400 visitas acaba por ser pouco se tivermos em conta que são mantidos por pessoas com actividade pública.

Mas, apesar disso, acho o número de visitas bom para a nossa realidade. As velocidade de ligação à net, a cobertura 3g e o nº de utilizadores de net. P.e. num hora em Lx vejo do dobro dos blogues que vejo nos Açores.

Também temos que analisar os blogues, muito poucos tem uma actividade diária, e temos poucos blogues colectivos que garantam forte publicação - eu tenho uma lista de blogues que visito diariamente e outra semanalmente, fruto da actividade de publicação de cada um.

A blogosfera podia ser utilizada pelos ocs para projectos inovadores, estilo um blogue com pessoas de cada ilha e de cada concelho. A blogosfera na nossa realidade torna-se fortissima se for bem utilizada.

Quanto ao crédito e anonimato, depende da forma como é utilizado o anonimato, p.e. o Fiat apesar de anónimo merece-me mais crédito do que alguns blogues não anónimos. Porque o prestigio de um blogue não depende do nome ou anonimato, mas da forma como utilizamos quer o nome, quer o anonimato.

Haja Saúde

Fiat Lux disse...

1. Sobre o anonimato

Antes de mais um obrigado ao
Rui e ao Tibério por não entrarem nesse jogo primário de meter os anónimos todos no mesmo saco.

Como diz o Tibério, e muito bem, há muita coisa assinada em blogs ou artigos de jornal sem qualquer credibilidade e com ofensas graves e gratuitas à honra de muita gente.

Apesar de ter optado pelo anonimato, num ano que levo de Fiat Lux acho que quem passa lá já me conhece muito bem.

Até hoje, que me lembre, nunca
usei o blog para caluniar ninguém, com acusações infundadas.
(Chamei cabrão ao Salazar,mas acho que fundamentei devidamente).
Estou de consciência perfeitamente tranquila.
Amanhã, se quisesse ou fosse "obrigado" a isso, poderia revelar a minha identidade sem ir preso e sem me envergonhar de nada.
Há outros, que assinam, que não poderão dizer o mesmo.
E não são mais honestos do que eu, apenas por essa assinatura.
Aliás há muitos que assinam que eu não conheço.
Eu "conheci" o Tibério, o Rui Gamboa e o Jordão apenas nos blogs.
E posso dizer que os "conheço".
Que os respeito. Mas não os conheço, nao sei onde moram, onde trabalham, de que partido são...
Para mim isso não tem importância.
Há por exemplo um tal de Edgardo que assina, e acho que é mesmo o nome do fulano e isso não faz dele um cidadão exemplar.Dali só saem atoardas. Não me lembro de um comentário (ele, que saiba não tem blog, ou se tem é desconhecido, e por isso parasita os blogs onde pensa ter mais visibilidade para a sua pesporrência).

2.Sobre o Movimento Contra a Sorte de Varas

Os que aderiram ao Movimento sabem muito bem que não podem cantar vitória. E não o estão a fazer.
Mas presumem (e bem) que os inúmeros, sustentados e variados posts e comentários nestes dias podem muito bem ter influenciado algum dos deputados.
E, equilibrada como foi a votação, basta que tenham influenciado o sentido de voto de dois deputados para terem tido, afinal, uma influência a não desprezar.
Ou não será assim?
O Rui Lucas pode garantir o contrário?
Talvez saiba em pormenor o que se passou no PSD.
Mas não acredito que saiba ao pormenor tudo o que se passou no PS.
Estamos obviamente no reino das suposições.
Mas não são assim tão absurdas.

Em síntese: os bloggers aderentes a este Movimento não podem armar-se em heróis.
E os outros, do outro lado da barricada, não podem dizer que os blogs não tiveram nenhuma influência nesta história.
Que tal um meio termo?
Afinal não somos todos estúpidos.

P.S.
Sem querer assumir qualquer protagonismo (se quisesse naturalmente não optava pelo anonimato) presumo ter algumas "culpas no cartório".
A experiência do Dia F contra o crime ambiental na Fajã do Calhau, serviu de algum modo de "inspiração" para este Movimento iniciado pelo Tibério.
Aliás já me têm feito inúmeras sugestões para outros "Dias F".
Como a iniciativa foi desvalorizada apenas por ter partido de um anónimo, sempre disse que qualquer outro movimento do mesmo género deveria ser iniciado por alguém que assinasse.
O Tibério tomou a iniciativa e desde a primeira hora desejei que ela fosse coroada de êxito.
E foi. E teve a influência que teve. Ninguém alguma vez saberá quantificá-la. Nem o Rui Lucas, que a "olhómetro" acha que foi pouca ou nenhuma.

Cumprimentos

Tibério Dinis disse...

Fiat,
ninguém leva a mal chamar cabrão a Salazar:)

Quanto ao Dia F foi o inicio de uma blogosfera mais activa e dai eu próprio ter pedido a sua opinião antes de avançar.

Acho irrevelante discutir-mos a importância do movimento, aliás foram muitos blogues que condenaram a SV que não aderiram ao movimento. Podemos é discutir o poder da blogosfera enquanto um todo e não apenas este movimento.

Haja Saúde

Anónimo disse...

o mal do rui é que os blogues quase que tem mais força que os jornalistas e então que os jornais nem se fala.
viram o anuncio dos resultados e o acompanhamento do debate, foi impossivel os ocs acompanharem os blogues.
há mal estar ai em algumas cabecinhas, os blogues conhecidos antes eram de figuras publicas, hoje são pessoas normais a escreverem nestes açores fora.

pedro lopes disse...

A Blogosfera começa a ser um local onde se discutem assuntos com mais liberdade e à-vontade do que nos OCS.

Todos podemos ter um Blog e expressar as nossas opiniões, sem, com isso, ter a obrigação que têm os OCS. Sim, pois a estes últimos, cabe - pelo facto de o fazerem a tempo inteiro e de forma profissional e ao coberto de ética e deontologia prórpria -, uma função importante: que é a de informar o público em geral, sobre assuntos que a todos dizem respeito, e sem tomar posição, mostrando antes os prós e os contras das questões abordadas, tendo, para isso, a obrigação de houvirem todas as partes envolvidas.

Mas não podemos ignorar o importante e crescente papel que os Blogges começam a ter um pouco por todo o mundo.

Estes (blogs) têm uma grande vantagem em relação aos OCS, que é o facto de poder haver troca de ideias e argumentos, nas caixas de comentários, henriquecendo o debate em beneficio dos que nele participam.

Quanto ao anónimato, eu sou contra o "anónimo crónico", que é aquele que assina sempre como "anónimo". Sou mais favorável à frontalidade de dar o seu nome, ou criar uma identidade (tipo colega Fiat Lux), que nos permite construir uma "imagem" sobre este, e acompanhar as suas ideias e coerência das possições tomadas.
Neste aspecto, refiro-me tanto a quem tem blogues, como aos que optam por somente comentar.

Basta reparar que, na maior parte das vezes, o "anónimo crónico" tem tendência em ser mais rude e ofensivo nos seus comentários.

cumprs a todos.

Fiat Lux disse...

Muito bem dito Pedro.
Directo ao assunto.
Tocaste nos pontos todos.
Só quem não quiser é que não percebe.
Infelizmente haverá sempre uns quantos que gostam é de desconversar.
Fazer o quê?
Há casos que são mesmo casos perdidos.
O melhor é reconhecer que essa é a realidade.