Não sei quem foi o praticante de sofá do Ministério da Educação que teve a ideia. No entanto, ela é mais um absurdo do sistema educativo português. Refiro-me, concretamente, à inclusão da disciplina de Educação Física no computo geral para a definição da média valorativa anual do ensino secundário.
Com efeito, sob o pretexto da promoção da saúde, alguém resolveu "igualizar" Educação Física e as restantes disciplinas, como se elas tivessem todas a mesma e primordial importância no acesso ao ensino superior.
Imagine-se alguém que quer entrar em Medicina, tem vocação para para médico, mas é incapaz de andar mais depressa do que uma tartaruga, quanto mais fazer um flique-flaque. Tem média de 19 valores em todas as disciplinas, com excepção dos míseros 10 ou 11 valores na essencial Educação Física. O que é que lhe vai acontecer? Pois!...
O que se está a criar é a possibilidade de alunos brilhantes não entrarem nos cursos universitários para os quais estão vocacionados porque a tal disciplina essencial lhes vem "compor" a média.
Claro que tem sempre a possibilidade de apresentar atestado médico demonstrativo da sua incapacidade e passar a ser avaliado doutra forma, fazendo testes escritos e tirando notas idênticas ou superiores às dos melhores alunos vocacionados para a tal disciplina, contornando, assim, a moral da lei da "saúde escolar".
Esta semana, soube de um aluno ao qual a tal disciplina essencial para o seu curriculum lhe "rouba", só este ano (imagine-se até ao 12º ano), apenas 0,7 valores, que lhe podem ser fatais para o resto da sua vida.
Obviamente, está a pensar em contribuir para a saúde escolar como treinador de bancada.
14 comentários:
A avaliação em Educação Física não tem directamente a ver com nível de performance física do aluno, mas muito mais com o seu esforço e empenhamento.
Na medida em que, para além de incentivar a actividade física, com as consequentes reflexos positivos na saúde do país,a disciplina de educação física também transmite valores importantíssimos como o trabalho de equipa, o respeito desportivo pelo adversário e a valorização do esforço pessoal, acho mesmo muitíssimo bem que Educação Física seja obrigatória até ao 12º ano.
Sim, faz tanta falta como o português ou a matemática.
Onde já se viu um médico que no tempo de escola não conseguia correr mais que uma tartaruga e nem uma flexão conseguia fazer? Um médico primeiro que tudo tem que ser um desportista nato e um incentivador da práctica desportiva, não um entrévado desconcertado. Concordo e bem com a medida curricular.
Uma coisa é ser obrigatória, coisa com a qual concordo, outra coisa é a respectiva nota ser considerada para a média final de um aluno.
No caso concreto, o empenhamento de pouco vale (e acredite que há empenhamento)e a notação comprova-o. Concordando, globalmente, com o que disse sobre os benefícios da prática da dita disciplina, a questão permanece: deverá ser obrigatória a respectiva notação para a média de acesso ao ensino superior?
Caro José,
eu também concordo com o Tiago R., e, já que a disciplina é obrigatória, parece-me sensato que ela entre na média final do secundário.
Tu centras-te no caso de um candidato a medicina. Mas e se for um jovem que queira ir para uma licenciatuta de educação física? Deverá ficar penalizado por isso?
Por essa lógica, se um jovem quisesse ir para economia, por exemplo, poderia dispensar, na sua média de acesso ao ensino superior, as notas das disciplinas de português, geografia, filosofia ou história.
Se a disciplina é obrigatória - como outras que o aluno frequenta, mas que não dizem directamente respeito à licenciatura para a qual concorre -, deve entrar na média de acesso à Universidade.
Um bom médico não é, em meu entender, um simples "marrão" que tira boas notas a tudo, menos a educação física. Pode até haver casos de jovens que dariam óptimos médicos, mas que não atingem as médias de 18 ou 19 valores que dão acesso a esse curso.
O que a meu ver está mal, é a média exagerada de acesso a mediciana, que se deve à falta de faculdades, em Portugal, para os formar. Por isso muitos têm rumado a Espanha, Républica Checa, e tantos outros países, em busca da concretização profissional......e tudo por não terem sido "marrões" o suficiente no secundário. É aqui que reside o problema, no corporativismo que a Ordem dos Médicos fomenta, para continuarmos a ter poucos médicos, e, assim, serem uma elite da qual a nossa saúde e bem-estar dependem. Só assim conseguem manter o status quo.
Abraço
O exemplo do aluno de Medicina é meramente exemplificativo porque o que se passa no acesso a esse curso, bem como em mais um ou dois, é uma vergonha do sistema de ensino em Portugal e do forte lobbie da Ordem dos Médicos. Por isso foi dado como exemplo, embora o caso real a que me refiro não seja de um aluno de Medicina, como se poderá verificar no que escrevi, admitindo que a referência tenha criado a confusão. Independentemente de tudo isso, continuo a entender que tal disciplna não é disciplina para ser incorporada na média de aceeso(e digo-o com à vontade porque sempre tive excelentes notas na dita), exactamente como diz o Pedro porque existe uma área específica para a mesma e só aí é que tal deveria ser logicamente levada em consideração.
Não colhe a ideia de afastar curricularmente disciplinas que não sejam específicas de uma determinada área e nessas cabem com toda a certeza o português ou a filosofia, na exacta medida em que se trata de criar um tronco comum (ideia louvável) que perpassa por todos os cursos universitários. Daí a seriação de tais disciplinas, o que não acontece com a Educação Física. Que diriam se se exigisse Matemática ao nível do 12º ano para ir cursar Direito, por exemplo? Teria alguma lógica?
Mais ainda, se a Educação Física é assim tão fundamental porque não inseri-la como cadeira obrigatória em todos os cursos superiores? Afinal a lógica é a mesma...
Saudações
este artigo é uma pérola do século passado
Concordo com o anónimo. é uma pérola do século passado centrada na actualidade da visão sobre a educação que o Socrates tem.
Prezado José,
não creio que a lógica seja a mesma. Incluir a disciplina de Educação física nos cursos superiores, não é comparável a tê-la como disciplina fundamental até ao 12º ano.
Tu dás - e bem - o exemplo da matemática que não é obrigatória na àrea de humanísticas entre o 10º e o 12º ano.
Pois bem, o português e outras disciplinas como a filosofia, não fazem parte dos curriculos de variadíssimas licenciaturas e são - e bem -, em teu entender, disciplinas que formam o tal "troco comum", mas só até ao 12º ano.
Depois, no ensimo universitário, tem de se afunilar as cadeiras para àreas mais específica da licenciatura escolhida. Não há espaço para tudo, e ai têm de surgir novas competências, apreendidas através de outras cadeiras.
E, caro amigo, o sistema em vigor, obriga a que todas as disciplinas até ao 12º ano (a excepção era a educação física)entrem na ponderação da média. Abrir uma excepção para incluir essa disciplina para aqueles que querem ir para o curso de educação Física, abriria um precedente, pois o aluno pode não conseguir entrar nesse curso, e a sua média já engloba essa disciplina. Se assim for origina situações complicadas, e podem outros alunos também querer prescindir de certas disciplinas (ou incluir a educação física se não fosse obrigatória e tivessem boa nota) nas suas médias do secundário.
Por vezes não há situações ideais.
E a nossa educação tem outras falhas bem mais graves.
Abraço.
Caro Pedro
Não há qualquer precedente. O que temos é que alguém entendeu, em mais uma das milhentas reformas educativas, tornar Educação Física disciplina obrigatória em todas as menções do ensino secundário, entre outras razões " em nome da sáúde".
Incentivar a prática desportiva é salutar; inseri-la num quadro curricular que se começa a especializar, como é o caso do 10º ano, é outra. É aqui que acho que é errado a tal disciplina entrar para a média. E não me parece descabida a ideia, exactamente pelo que já disse mas também tu e o Tiago R. o disseram, na medida em que apenas assentam a vossa premissa (se bem compreendi) no facto de ser boa para a saude e de fazer parte do curriculo.
A especialização curricular que se inicia no 10º ano aponta para aquilo que cada um pretende fazer profissionalmente. Ser bom ou muito bom em tudo o que diz respeito a essa especialização e ver-se prejudicado por causa daquilo que não só não não faz parte da mesma como também é, à falta de melhor expressão, uma disciplina sem qualquer interesse para tal, não só roça o ridiculo como revela um ministério da Educação obtuso.
A prática desportiva ou da criação de hábitos mais saudáveis deve ser inserida na sociedade recorrendo a outros modos que não só a sua inserção no curriculo escolar, até porque, como é do conhecimento geral, a maior parte das escolas portuguesas não tem condições mínimas para ministrar tal disciplina.
Não me oponho à obrigatoriedade, oponho-me à respectiva notação.
Quanto aos alunos que pretendem o curso de Educação Física parece-me óbvio que a mesma faz parte do respectivo curriculo como obrigatória e como "contando" para a média, como é lógico e não podia deixar de ser, sendo que sempre assim foi. Não vejo, caro amigo, onde esteja a discriminação. Ou melhor, vejo-a mas em relação aos outros.
Abraço
Caro José,
quando me refiro aos alunos que pretendam concorrer ao curso de educação física, refiro-me ao facto de tal entrada não estar garantida.
Ou seja, pode ser a primeira opção, mas ele terá de colocar outras opções para o caso de não conseguir - por média insuficiente -, entrar no dita licenciatura.
Mas se essa média já incluir (e incluí por ser obrigatória) a disciplina de educação física, no caso de ela não ter que entrar nessa média (por não ser obrigatória), isto originaria uma situação de potencial vantagem caso esse aluno não conseguisse entrar na sua 1ª opção (educação física e desporto), pois elevaria a sua média e poderia passar à frente de um outro candidato a um outro curso que ele tenha colocado como 2ª ou 3ª opção e que não seja da àrea do desporto.
E, meu caro, se as escolas não têm condições para ministrar a referida disciplina, então o que dizer das Universidades....
No ensino básico e secundário, podem dar-se os prmeiros passos para que os jovens se sintam motivados a praticar desporto, conhecendo as regras de cada actividade, compreendendo a importância do trabalho em equipa, da camaradagem, do respeito pelas regras, e do espiríto competitivo numa vertente de respeito pelo adversário. Depois, podem escolher de qual/quais actividades gostam mais, e praticá-las em clubes ou assossiações extra escolares.
Também pode acontecer ser outra disciplina, que não a educação física, a prejudicar a média curricular de um jovem. Por vezes não gostam ou têm menos apetência por outros ensinamentos, tais como filosofia, ou outra.
não sendo obrigatória para a ponderação da média, então mais valia que a retirassem do curriculo escolar do secundário, e oferecenssem condições para que os jovens que quisessem praticar uma qualquer actividade desportiva a pudesse praticar fora da escola. Também me parece uma solução viável.
abraço
Não percebo tanta indignação contra a nota de Educação Física na média, a não ser que quem a manifesta tenha tido problemas com a prática desportiva, que todos sabermos trazer mais benefícios do que a saúde, como referiu inclusive o comentário do Pedro Lopes.
Em tempos idos um selecionador açoriano de basquetebol disse num estágio uma coisa que guardei para a vida: qualquer bom desportista tem obrigação de ser um bom aluno, porque tem as competências básicas para isso. Ele não falava do talento inato, mas da inteligência que é necessária para aplicar o talento na prática desportiva.
A capacidade de aplicar a inteligência na prática desportiva pode ser aplicada em qualquer outra actividade, desde que o atleta se esforçe para isso. Da mesma forma que qualquer aluno inteligente pode ser um excelente desportista desde que se aplique minimamente.
O talento sem treino não faz campeões. Da mesma forma que a inteligência sem estudo não faz alunos brilhantes. O problema é que muitos nem se dão ao trabalho de se esforçar, como provam muitos marrões enferrujados e outros tantos excelentes jogadores de futebol afamados pela sua cultura de ignorantes.
A desculpa da falta de jeito que os alunos marrões usam para não não se esforçarem minimamente na realização de exercícios físicos obrigatórios é a mesma que outros usam para a matemática. Mas isso não impede a sua avaliação.
Os alunos que beneficiaram da nota de Educação Física estarão, porventura, melhor preparados para lidar com as dificuldades futuras e os stresses da competição académica, independentemente da área que seguem. E isso é tudo menos mau!
A Ilha dentro de mim não percebeu a discussão.
Vamos lá: seguindo a teoria desse seu professor, se um bom desportista tem de ser um bom aluno então o Eusébio é o maior sábio português. Logo, nem uma coisa leva à outra ou vice versa.
Obviamente, na sua teorização confunde e mistura o talento dos desportistas e o dos estudiosos, pelo que é melhor reformular a questão.
Aos marrões que não quiserem praticar desporto, basta-lhes meter o atestado médico. Àqueles marrões que querem ser eticamente correctos, praticando desporto, basta-lhes a nota de Educação Física para os chutar para fora.
Daí que, concedendo,ter educação física é bom mas sem a nota entrar na média final, ainda que seja admissivel que não transite para o ensino superior sem notação positiva.
Essa teoria de aguentar melhor o stress provavelmente só é aplicável a cobaias.
Caro Zé Medalhas,
Se ler novamente o meu comentário verá que não falo de talento mas de inteligência, e sem qualquer confusão. O seleccionador que, por lapso, referi como sendo açoriano é simplesmente um seleccionador nacional com formação académica e experiência reconhecida, sabendo por isso do que fala.
Casos como o de Eusébio ou de Cristiano Ronaldo só provam o que referi quando falei de futebolistas afamados. Eusébio pode não ter tido oportunidade de estudar e Cristiano Ronaldo provavelmente nenhuma vontade. Mas ser pouco culto não significa ser pouco inteligente, como muitas vezes se confunde.
Todos conhecemos alunos menos inteligentes com melhores médias do que alunos reconhecidos como muito inteligentes. A razão: maior esforço e aplicação no estudo. A falta de jeito não é desculpa para a Educação Física, como não pode ser para a Matemática, que todos sabemos precisar de muito treino e aplicação fora da escola.
Se a Educação Física é reconhecida como sendo tão importante como a Matemática e o Português, por todas as competências que desenvolve - como o espírito competitivo e o espírito de equipa, fundamentais em qualquer mercado de trabalho - então não há razão para não entrar na média final, dando a ideia aos alunos de que não precisam esforçar-se porque não serve para nada.
Se 0,7 a menos pode fazer diferença aos alunos de Medicina, 0,7 a mais também pode fazer diferença a todos os outros que se esforçaram em Educação Física e que são, seguramente, muitos mais do que a grande minoria que procura Medicina sem se ter esforçado naquela disciplina. A aplicação na Educação Física, tal como na Matemática e no Português, não pode começar só a partir do 10º ano. E é isso que faz toda a diferença.
E se fossem trabalhar ...
Enviar um comentário