Um destes dias, um amigo, que já não via há algum tempo, interpelou-me, zangado, sobre a história do casamento homossexual, dizendo, basicamente, que estava a pensar em "rasgar" o contrato celebrado com a mulher, há quase nove anos, porque não queria ser confundido com "aquela fauna monocromática", pois se alguém olha para uma instituição secular, com a "leveza de espírito do senhor Sócrates", certamente seria melhor colocar-se num estado em que a mesma já não o afectasse, ainda que, a partir daquelas circunstâncias, tudo passasse a ser relativo.
Procurei apaziguá-lo, apontando-lhe alguns entraves sociais, políticos e jurídicos, mas nem isso lhe causou qualquer comoção mais racional, até ao momento em que, já em desespero argumentativo, recorri ao Direito do Trabalho e lhe disse que deveria olhar para aquilo como fazia com os contratos de trabalho. O secular casamento dele, que o visse como um contrato sem termo; o moderno casamento, que olhasse para ele como um contrato a recibos verdes (mesmo que falsos recibos verdes), no qual os trabalhadores vão estando, com um pé dentro e outro fora, sempre na mira de arranjar melhor empresa ou no desespero de serem sumariamente despedidos.
Mais descansado, mas não convencido, desatou a desfiar um rosário de lamentações sobre os malefícios do mercado paralelo nas economias ocidentais.
Eternamente pessimista, como sempre, este meu amigo.
1 comentário:
Magistral...seja como for no Direito da Família, Menores e Sucessões vão ter uma carga de "trabalhos".
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