22 setembro 2010

Eu, pai indignado, o que digo à minha descendência?

O melhor aluno do país não tem o liceu completo e entrou na Universidade. Tomás Bacelos, chapeau!

Parecendo um feito de Vasco da Gama, afinal, segundo o próprio: "Para mim, foi ótimo. Mas é claro que é bastante injusto porque os outros passam anos a esforçar-se para terem boas médias. Com o Novas Oportunidades, uma pessoa que só tem o 7.º ano pode fazer o 9.º em seis meses e a seguir, em ano e meio, consegue tirar o 12.º. Se tiver sorte, pode passar à frente e tirar o lugar às pessoas que fizeram esse esforço. Conheço quem tenha entrado assim no ensino superior".

Histórias como a do Tomás passam-se anualmente, desde a ascensão ao poder do Homo Igualitarius que atribuiu a si próprio a nobre arte de doutorar imbecis, seja num qualquer estival Dia do Senhor ou no meio de um nevão na Serra de Montesinho.

A primeira vez que me deparei com esta situação foi ao ver uma pessoa sem coeficiente intelectual suficiente para ultrapassar o 9º ano (o que não tinha conseguido) frequentar a Universidade, pelo sol da peneira acima de 23 anos, ufanando-se com tal facto e, sem entender a sua estupidez, afirmar, sem quaisquer dúvidas, que isso de ter de fazer o percurso normal do 10º ao 12º ano era uma pura perda de tempo e, sobretudo, uma maçada.

Todos nos indignamos com o que se passou naquela Universidade que até conseguiu licenciar um político antes de se completar o primeiro ciclo de licenciandos daquele curso, mas, para além das anedotas da praxe, o que fizemos?!

Mais do que a estraterrestre frase proferida pelo senhor primeiro ministro de que terá o país de atingir a meta dos 40% de licenciados (para quê e porquê, não disse ele, eventualmente porque também não o sabe), o Estado, desde logo com a permissão de existência em cada canto de uma qualquer loja que carimba canudos, demite-se de exigir um ensino de qualidade, assente na excelência, porque a sua percepção da realidade se aproxima perigosamente de um ninho de cucos.

Desta forma, o Estado, num país envelhecido, não tem de tentar perceber como poderá manter uma estrutura de docentes, cuja maioria nada mais sabe fazer do que ensinar, brilhantemente quase todos eles, mas, ainda assim, a maior parte limitados à função, desprezados e inaproveitados na sua sabedoria pelo interesses particulares do próprio Estado, ou de como financiar as Universidades, que seria o mais desejável e necessário para o desenvolvimento do país, sem desviar as verbas necessárias do Orçamento para o fausto umbigo do imediatismo político, sempre prenhe de nada, mas pronto a parir uma qualquer obra megalómana que lhe troe uma salva de palmas. Os mansos-tansos, na exacta medida em que o são, poupam-no ao incómodo.

Pessoalmente, já expliquei à minha descendência o que a realidade faz a quem não é excelente. Mais ainda, e na continuação, expliquei-lhe igualmente como algumas pessoas obtiveram qualificações académicas, desde ilustres desconhecidos a umas quantas figuras públicas, e, sobretudo, ainda que recorrendo à bondade cristã e incutindo-lhe o respeito pelo mínimo ético, lembrei-lhe o desprezo com que são tratadas, mesmo quando pensam o contrário, e apesar de se servirem da nossa mesa, porque com a sua acção estão a hipotecar as gerações vindouras, a dela, destruindo o melhor legado que um país tem: o seu Povo, o seu engenho e a sua arte!

Não viria mal nenhum ao mundo, numa qualquer Nova Oportunidade mais afoita, uma injecção mal dada no real traseiro de um destes desavergonhados que lhe ficasse na lembrança para sempre, embora duvide que mesmo assim lhe servisse de lição!.

7 comentários:

Jordão disse...

Estou de pé a aplaudir esse brilhante post!

Muito bom mesmo!!!

Um abraço

Anónimo disse...

Bravo!Bravo!
Clap, clap, clap
Exigimos o fim da vergonha!

cidadão envergonhado disse...

Diga á sua filha que o aluno em questão não se acobardou e afirmou que não se sentia orgulhoso nem confortável com esta situação.

A verdade é sempre a melhor opção.

Anónimo disse...

caro cidadão envergonhado
Porreiro, pá! E o que ganham os alunos eventualmente prejudicados com situações idênticas e não públicas? E além disso qual o fim para que o Estado (governo) criou este tipo de espécie de ensino? Para a chico-espertice?
A honestidade, hoje em dia, até parece que não deveria fazer parte do código de conduta de um cidadão...
J.G.

Anónimo disse...

caro cidadão envergonhado
Porreiro, pá! E o que ganham os alunos eventualmente prejudicados com situações idênticas e não públicas? E além disso qual o fim para que o Estado (governo) criou este tipo de espécie de ensino? Para a chico-espertice?
A honestidade, hoje em dia, até parece que não deveria fazer parte do código de conduta de um cidadão...
J.G.

Anónimo disse...

Mas esse sistema foi transposto para a Europa, vindo dos EUA. Portugal tardiamente como sempre aproveita agora aquilo que outros com vantagem fizeram. Qualquer pessoa nos EUA com o equivalente à antiga 4ª classe portuguesa pode candidatar-se a um curso de medicina e fazê-lo desde que passe.E, se não me falha a memória, a melhor medicina do mundo está nos EUA. Não conheço aliás nenhum médico português que tenha sido operado em Portugal. Basta terem uma dor e caminham logoi para Boston ou Londres.
E não foram eles que foram à lua? Mas nós é que somos espertos. Vê-se. E vai ver-se mais.

Anónimo disse...

Os médicos portugueses têm alta confiança na medicina portuguesa. Por essa razão, logo que tenham uma constipação vão logo para o estrangeiro...Porque será?...