12 outubro 2011

César Fim

O fim-de-semana foi repleto de acontecimentos políticos. Na Madeira, João Jardim conseguiu mais uma maioria absoluta e nos Açores Carlos César finalmente cedeu e admitiu que não pode ser candidato e logo depois a cúpula do Partido Socialista nomeou Vasco Cordeiro como candidato às próximas regionais de 2012.

Para Carlos César, uma recandidatura só teria lugar caso se conjugassem uma série de factores. Desde logo, ter na Presidência da República alguém solidário com a sua causa de se eternizar no poder. Assim se explica o forte empenhamento que César colocou na campanha de Manuel Alegre. Não serviu de nada e Cavaco Silva saiu vitorioso e com um resultado muito expressivo nos Açores. César sabe que Cavaco Silva não é um político que mude de opinião de acordo com os intervenientes e que, se a situação se colocasse, iria fazer cumprir a lei da limitação de mandatos.
Mas ainda assim, César poderia ter escolhido a via da confrontação. Podia ter ido em frente e ser candidato, mesmo contra aquele que sabia ser o entendimento do Presidente da Republica. Para tal entraria no já habitual, falso e popularucho discurso de que Cavaco é anti-autonomias. Mas não o fez. César não se recandidatou, também, porque não quis. E aqui entra um segundo factor. Para Carlos César só faz sentido governar se houver muito dinheiro. E como ele, melhor que ninguém sabe, a sua governação nestes últimos 15 anos não foi capaz de dinamizar a nossa economia. Pelo contrário, somos dependentes das transferências externas da União Europeia e do Orçamento de Estado e sabemos que vai haver grandes cortes nas verbas para os Açores em ambos os casos.

Não tendo na Presidência o seu Alegre e sem ter o dinheiro que lhe facilitou a governação nestes 15 anos, César percebeu que nos próximos anos os Açores têm mesmo de mudar de políticas. São necessárias medidas que ele sabe não ter nem capacidade nem o pessoal com o know-how para as tomar. Além disso sabe que a sua concorrente nas próximas eleições seria Berta Cabral, pessoa com provas dadas de ser capaz de fazer a tal mudança política. Ora somando todos esses factores, é evidente que César preferiu o caminho da saída e não recandidatar-se.

Também convém desmitificar um pouco a questão dos sucessivos adiamentos do anúncio. Parece que, na verdade, os adiamentos não passaram duma tentativa de aguentar o barco o máximo de tempo possível. Como todos sabemos, assim que César anunciasse a sua não candidatura, a malha de dependências criadas à sua volta iria desmoronar-se. Também serviram para segurar o seu próprio partido e evitar uma guerra interna aberta, pois a apenas um ano das eleições, nenhum dos preteridos vai arriscar uma confrontação aberta, pois sabem que, antes demais, a sua primeira prioridade é manterem-se no poder. No entanto, em termos práticos, a verdade é que, a menos de um ano, as estruturas do PS terão de mudar de estratégia e defender um candidato que muitos, se calhar, até nem apoiam. Com efeito, conseguimos compreender as primeiras vozes que vêem demonstrar descontentamento pela forma oligárquica como Vasco Cordeiro foi escolhido. Estamos a falar do candidato ao mais alto cargo político da região, pelo que faria todo o sentido ouvirem-se as bases. Pelo contrário, o PS tomou a sua decisão mais importante dos últimos 16 anos numa sala com meia dúzia de pessoas. Revela uma grande falta de sentido democrático.

O capítulo César fecha-se sem luz e sem brilho. Agora os Açorianos olham para 2012 e procuram novas ideias, novas políticas e outros intervenientes. É tempo de virar a página e recomeçar.

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