14 março 2012

O Projecto Político do PSD/A

A semana política nos Açores fica marcada pelo anúncio da recandidatura de Berta Cabral a líder do PSD-Açores. O dado digno de análise não é tanto a recandidatura em si, uma vez que já se sabia que a recondução da actual Presidente da Câmara de Ponta Delgada será apenas uma formalidade. O que é motivo de uma análise mais aprofundada é a Moção Global de Estratégia que Berta vai levar à votação. Numa altura em que estamos a cerca de 6 meses das eleições regionais, a Moção Global de Estratégia de Berta Cabral deve ser entendida como a estratégia que o PSD irá implementar, quando for governo regional nos Açores.

O documento começa por destacar a importância das lideranças, aludindo claramente à diferença entre a liderança do PS de Vasco Cordeiro, que não foi escolhido e votado pelos militantes socialistas e a liderança de Berta Cabral, que, pelo contrário, terá de ser legitimada democraticamente pelos seus pares. É, desde logo, um ponto fundamental que joga a favor do PSD. O momento de crise que vivemos em Portugal e nos Açores exige tomadas de posição corajosas e assertivas. Exige-se, por isso, um líder forte e devidamente legitimado democraticamente. Neste contexto, o facto da cúpula do PS ter decidido unilateralmente Vasco Cordeiro como o candidato, sem ter ouvido os militantes, conta claramente contra o PS/Açores e a favor do PSD/Açores. Um trunfo que os sociais-democratas irão utilizar, como se vê nesta Moção.

Em relação a medidas concretas para retirar os Açores do momento de grave crise e de aumento de desemprego em que vivemos, a Moção de Estratégia de Berta Cabral segue a linha daquilo que tem sido o seu discurso nos últimos tempos, com a criação duma região económica dentro dos Açores como principal prioridade. Com efeito, os Açores estão hoje dependentes da importação de um enorme número de bens de consumo que poderiam ser produzidos internamente. Para tal, os sociais-democratas apostam numa revitalização do sector primário, com especial enfoque para a agricultura, utilizando, para o efeito, novas tecnologias, onde a Universidade dos Açores terá um papel preponderante. A região económica proposta pelo PSD não se limita à produção de matéria prima. Sempre na óptica de criação de riqueza e emprego, os Açores devem ter capacidade de transformar o que produzem num bem final e embalado pronto a ser consumido.

O destino dos produtos açorianos deve ser, antes demais, o próprio mercado interno açoriano, funcionando como exportações na balança comercial, ao substituírem-se às importações desses mesmos bens. Mas deve-se também procurar outros destinos, através de parcerias como a Macaronésia, que até hoje de nada serviu. Neste contexto, o reforço da marca Açores, associada a um produto de excelência é igualmente proposto pelos sociais-democratas.

A região económica é uma boa base de trabalho apresentada pelo PSD/Açores. Mas para isso tudo funcionar, os transportes são absolutamente essenciais. O PSD/ promete, desde já, baixar consideravelmente as tarifas para o continente e reavaliar os transportes marítimos inter-ilhas. Este será, talvez, o maior desafio que se coloca aos sociais-democratas. Como baixar o preço dos transportes? Berta Cabral, na visita que fez a Bruxelas há uns meses, sugeriu a reorientação dos fundos comunitários para esse fim. A ver vamos se consegue. A chave do sucesso da próxima governação nos Açores está no preço das passagens aéreas. Não haja dúvida.

A Moção Global de estratégia com que Berta Cabral se apresenta aos militantes do PSD/Açores é, desde já, uma vantagem em relação a Vasco Cordeiro na corrida às regionais de 2012. Neste momento, os açorianos já podem saber o que contar do PSD. Já têm um documento onde podem aferir sobre as intenções dos sociais-democratas. Pelo contrário, o que os Açorianos sabem sobre as intenções do Partido Socialista é a realidade actual. Foi o PS de Vasco Cordeiro que nos conduziu a este quadro negro onde o desemprego está mais alto que nunca e onde as dificuldades económicas devassam todas as famílias e empresas nos Açores. E pouco mais poderá Vasco Cordeiro fazer. Ele está numa posição incómoda e inédita. É candidato sem ser líder. Qualquer promessa que faça, será logo rebatida pelos Açorianos com um rápido “não prometa, Vasco, faça-o já, uma vez que está no poder”.

Aos poucos vamos sabendo o que cada um dos candidatos irá fazer pelo futuro dos Açores. Os Açorianos precisam de respostas e o PSD, numa jogada de antecipação, apresentou o seu projecto político para a região.

1 comentário:

Bandeira Açores disse...

Aprecio a tenacidade com que Dra. Berta Cabral anuncia que vai reduzir significativamente as passagens aéreas e o modo como os seus súbditos o fazem repercutir no ciberespaço.
Gostava no entanto de saber qual o valor possível para tal feito.
A dita senhora nem sabe a quantas andam as contas da CMPD, ora num dia era melhor do mundo e arredores, ora noutro já nem estava no top 10...
Se o povo não tiver memória curta, possivelmente o Rui não se lembra porque ainda era um pequeno, mas a Dra. Berta esteve à frente dos destinos da SATA e diga-se a bem da verdade que foi uma gestão desastrosa, trabalhadores foram convidados a sair, outro pediram reformas antecipadas e outros foram mesmo despedidos, e o preço das passagens sempre igual. Será que a SATA vai passar por isto tudo outra vez???