Estamos, novamente, nas vésperas de mais uma quadra
natalícia. O tempo da família, das crianças, da partilha, do amor e do perdão.
Mas este Natal vai ficar marcado em todo o Mundo pelos horríficos acontecimentos
que tiveram lugar numa escola primária nos Estados Unidos. Na manhã da passada sexta-feira,
um jovem de 20 anos começou por assassinar a própria mãe que ainda estava na
cama, com vários tiros na cabeça e depois dirigiu-se a uma escola primária onde
assassinou brutalmente 20 crianças de 6 e 7 anos de idade, 6 adultos e depois
matou-se a si próprio.
A barbaridade deste acto é totalmente incompreensível. Não se
consegue começar sequer por uma ponta que seja, para se tentar perceber o que
ia na cabeça daquele jovem para cometer tamanha atrocidade. É que o assassino
usou uma carabina semi-automática, tipo metralhadora, com umas balas especiais,
conhecidas por full metal jacket, que têm uma capacidade de perfuração muito
superior às restantes. Ou seja, usou armamento desenhado para combate militar
com enorme capacidade de destruição nas mais inocentes, vulneráveis e frágeis
pessoas neste mundo, como são crianças em idade de ensino primário. A pergunta
a que todos tentam encontrar a resposta é porquê?
A verdade é que estes ataques não são assim tão excepcionais
nos Estados Unidos. De quando em vez acontece um jovem entrar numa escola e
matar o maior número de estudantes possível e depois matar-se a si próprio. E
apesar de nos Estados Unidos ser recorrente, a verdade é que também acontece
noutros locais, como foi o caso de Breivik na Noruega no ano passado. Apesar de
serem ataques brutais e sem explicação aparente, a verdade é que se conseguem
sempre, de certa forma, encontrar o que motivou esses assassinos.
Nos casos dos assassinatos nas escolas dos Estados Unidos,
geralmente os psicopatas eram movidos por razões de vingança contra os seus
próprios colegas, de quem tinham sido vítimas de bullying. Por exemplo, o
coreano que matou mais de 30 pessoas na Universidade de Virginia Tech em 2007
deixou vídeos com mensagens dizendo o que o movia. No caso de Breivik na
Noruega as suas razões também foram bastante bem identificadas, foi movido por
questões xenófobas e religiosas. Obviamente estas razões não servem para
qualquer pessoa normal explicar estes actos bárbaros, mas em termos
psiquiátricos consegue-se compreender o que os moveu. Neste caso da creche, por
mais voltas que se dê, não se consegue compreender o porquê de se matar
crianças de 6 anos.
Mas, não havendo explicação concreta plausível, a verdade é
que de fora, nós olhamos para os Estados Unidos e encontramos várias situações
estranhamente incompreensíveis. Desde logo, aquele direito
constitucional que cada americano tem
para ter uma arma de fogo e o facto dessas armas estarem disponíveis para venda
em qualquer loja de artigos de desporto. É muito fácil adquirir-se armas, desde
pistolas, a metralhadoras de guerra, nos Estados Unidos. Depois, há muitos
extremismos nos Estados Unidos. Existem grandes grupos da população, por
exemplo, que acreditam piamente que as coisas más acontecem simplesmente por
vingança de Deus, que, por exemplo, o
terramoto no Haiti aconteceu porque os haitianos fizeram um pacto com o diabo e tantas outras enormidades semelhantes. Apesar
disto parecer quase ridículo para nós, a verdade é que é bem real nos Estados
Unidos.
Depois, existem grupos para tudo e muitos com tendências extremistas que, para nós de fora, causam uma estranheza que nos cria arrepios na espinha. Por
exemplo, há os sobrevivencialistas, que acreditam que vai ocorrer um evento qualquer que vai destruir o mundo,
e por isso gastam milhões em comidas e mantimentos que guardam nas suas caves, para poderem
sobreviver durante anos à catástrofe que acreditam irá acontecer na superfície. Além destas provisões, como rações com enormes prazos de validade para consumo,
estas pessoas têm geralmente, também, um pequeno arsenal em casa, porque na eventual da tal catástrofe, terão de
se defender a si próprios. Tudo indica que a mãe deste atirador da creche dos
Estados Unidos era uma destas sobrevivencialistas. Mas mesmo que não fosse, basta a facilidade no acesso a armas de fogo de cariz militar, adicionada à vivência numa sociedade que tem estes perturbantes grupos e um distúrbio psiquiátrico, e temos todos os ingridientes para uma atrocidade destas acontecer.
Mesmo assim, é impossível começar sequer a explicar esta
situação. A América é cada vez mais um país de extremismos e onde prevalece uma mentalidade de agressividade e violência. Só para se ver a insanidade que
perpassa pelos Estados Unidos, basta dizer que no dia seguinte a esta atrocidade, as vendas de metralhadoras da marca usada pelo assassino, aumentaram e muito. Isto, para nós europeus, simplesmente não tem explicação.
3 comentários:
Caro Rui Gamboa
O caso em concreto é tão violento que se torna dificil conter as nossas lágrimas e conseguir tecer qualquer comentário...
No entanto não retirando qualquer palavra do seu texto, posso dizer que o mundo está perigoso, por uma serie de factores que deixaram os homens órfãos de princípios que façam fé na humanidade...
Este clima competitivo que submergiu das economias dos Países e que se intensificaram desde Ronaldo Regan e Tacher, e que tiveram nas (instituições financeiras)bancos como o golden Sach e outros, os principais intensifica-dores desta mentalidade doentia de "casino" que tem efeitos nefastos na economia, mas também na vivência do cidadão comum.
O caso concreto é em ultima analise(mesmo não conhecendo todos os contornes)uma questão de desajustamento social, potenciado por um quadro mental extremamente doentio.
O individuo em causa foi vitima de descriminação na escola(bulling) e apesar de muito inteligente era ridicularizado e ostracizado na escola...
A sua família era desestruturada e podemos afirmar que para além do quadro clínico mental, estamos em presença dum caso típico de influencia do sistema competitivo social na criação deste "mostro"...
As sociedades baseadas nesta febre concorrencial e nesta competitividade sem princípios humanistas e num quadro de acesso a armamento sem controle, não pode dar bons frutos, e é de facto, (num posicionamento meritório de Obama)razão para um profundo movimento de repensar a América e a sua forma de viver e de pensar.
Saudações e parabéns pelo post.
Açor
Eu acho que há uma excessiva cultura de violência nos EUA, principalmente propagada pela industria militar, que se traduz depois em muitas coisas, desde filmes, jogos, armas ao dispor de qualquer pessoa.
Os "pais fundadores" montaram um sistema democrático quase à prova de bala (permita-me a ironia), com base nos erros dos modelos europeus. Construíram um modelo quase perfeito, ainda que complicado. Mas é necessário avançar no tempo e a Constituição e as respectivas emendas, permitiram buracos onde os lobbys penetraram em grande força.
Não vejo grande espaço para mudanças nos EUA. O poder dos lobbys instalados é tal que nada vai mudar. Infelizmente vamos continuar a ter ataques destes.
Ab.
Caros Autores comentadores e leitores
Feliz Natal e prospero Ano novo...
Que possamos continuar a melhorar este blogue colocando-o ao serviço do Povo açoriano e Português.
Açor
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