23 janeiro 2013

O Fecho do Bloco Operatório do HDES - Uma História (in)esperada?



Há muito tempo que vêem surgindo à tona notícias sobre a incapacidade dos Hospitais dos Açores em pagarem as suas obrigações perante os fornecedores de material hospitalar. Aliás, há mais de um ano, o Presidente do Tribunal de Contas, Guilherme de Oliveira Martins manifestou profunda preocupação pela situação de “falência técnica” em que se encontravam os hospitais no final do ano contabilístico de 2010. Mas até agora, e de uma forma ou de outra, o serviço regional de saúde ainda não tinha falhado de forma geral perante os utentes. Ou porque os fornecedores, mesmo sem serem pagos, iam acautelando os serviços mínimos, ou porque o governo ia injectando aqui e ali dinheiro para fazer face às necessidades básicas, a verdade é que se conseguiu ir remediando a situação. Só que na semana que passou aquilo por que já todos esperávamos aconteceu: o sistema regional de saúde cedeu no bloco operatório do Hospital de Ponta Delgada que pura e simplesmente fechou as portas por falta de material para as cirurgias. 

A situação arrastou-se gravemente durante a semana que passou, com dezenas de cirurgias que estavam marcadas a serem adiadas por falta de material cirúrgico. Perante isto, o recém empossado Secretário Regional da Saúde, inacreditavelmente, afirmou desconhecer a situação e exigiu explicações à Direcção do Hospital. Por sua vez, a Presidente do Conselho de Administração do Hospital de Ponta Delgada remeteu a responsabilidade para o governo regional. Ou seja, por um lado vemos um Secretário regional que se diz surpreendido pela situação, quando toda a gente nos Açores já sabia que era uma situação que ia acontecer mais tarde ou mais cedo. Por outro lado temos a Direcção do Hospital a culpar o governo por que não lhe dá os meios para cumprir as necessidades básicas. No fim de todo este jogo do empurra, estão os utentes que viram as suas cirurgias adiadas. 

Agora, como se tudo isto não bastasse, como se esta situação já não fosse gravíssima por si só, a Direcção do Hospital conseguiu fazer ainda pior. Então foi assim: na sexta-feira passada o Hospital emitiu uma nota para a imprensa a afirmar que tudo estava resolvido e que as cirurgias tinham sido retomadas. A notícia foi propagada pela comunicação social e tudo parecia estar a voltar a alguma normalidade. Mas logo no dia seguinte, no telejornal da RTP-Açores, vemos outra notícia a desmentir o Hospital. Ao que parece os próprios utentes que deveriam ter sido operados ligaram para a RTP-Açores a dizer que o Hospital estava a mentir e que não tinham sido operados. Num caso, imagine-se, a operação foi adiada por falta de luvas higiénicas. E, no fim de tudo, qual cereja no topo do bolo, vem se a saber que a Direcção do Hospital contratou uma nova assessora de imprensa, paga principescamente, para fazer o trabalho que outros dois assessores de imprensa já fazem no Hospital. Ao que parece, e ironicamente, a luminosa ideia de enviar a tal nota de imprensa a dizer que afinal já estava tudo bem, foi obra da nova assessora de imprensa.

E agora, nós, os açorianos, os utentes do serviço regional de saúde, perguntamos: então se o Hospital de Ponta Delgada não tem dinheiro para comprar uma coisa tão singela, mas imprescindível, como são luvas para cirurgia, como é que tem dinheiro para contratar mais uma assessora de imprensa a receber, segundo se sabe, mais de 4000 mil euros por mês, ela sim prescindível, uma vez que já lá estão dois a fazerem o mesmo trabalho. Como é que isto é possível? Não há nenhuma resposta que nos sirva, como é óbvio. 

Mas a contratação desta assessora deve servir de exemplo. O Hospital de Ponta Delgada e todo o serviço regional de saúde, já agora, tem que gerir muito bem os parcos recursos que tem ao dispor. Não podemos continuar nesta lógica em que o amiguismo se sobrepõe ao superior interesse da população. 

Para finalizar, dizer apenas que esta situação está longe de estar resolvida. Os fornecedores de material hospital nos Açores, há muito tempo que se queixam de falta de pagamento. O Secretário da Saúde não assobie para o lado, ele sabia muito bem onde se estava a meter, quando aceitou o cargo. Nós sabíamos que o governo de César usou e gastou todos os recursos para manter no poder o seu partido. Soubemos, depois das eleições de Outubro passado que foram gastos milhões para tudo e todos. Soubemos que tudo foi prometido. E desconfiamos que isto tudo ia-se transformar numa enorme factura que teríamos que pagar com juros num futuro muito próximo. Mas acreditávamos que a nova geração de governantes tivesse uma solução para os problemas estruturais que foram deixados pela anterior geração gastadora de César. Aparentemente, estávamos enganados. As cenas dos próximos capítulos continuam já a seguir num Hospital perto de si.

2 comentários:

José Gonçalves disse...

Reitero e remeto para o que aqui publiquei nos dias 29/06 e 02/02 de 2012. Foi premonitoriamente sintomático.

José Gonçalves disse...

perdão, 02/07 de 2012.