08 abril 2013

O eterno retorno



 com a ajuda dos Conselheiros Acácios


 – Então, Cohen, diga-nos você, conte-nos cá… O empréstimo faz-se ou não se faz?
E acirrou a curiosidade, dizendo para todos os lados que aquela questão do empréstimo era grave. Uma operação tremenda, um verdadeiro episódio histórico!...
O Cohen colocou uma pitada de sal à beira do prato, e respondeu, com autoridade, que o empréstimo tinha de se realizar «absolutamente». Os empréstimos em Portugal constituíam hoje uma das fontes de receita, tão regular, tão indispensável, tão sabida como o imposto. A única ocupação mesmo dos ministérios era esta – «cobrar o imposto» e «fazer o empréstimo». E assim se havia de continuar…
Carlos não entendia de finanças: mas parecia-lhe que, desse modo, o país ia alegremente e lindamente para a bancarrota.
– Num galopezinho muito seguro e muito a direto – disse o Cohen, sorrindo. – Ah, sobre isso, ninguém tem ilusões, meu caro senhor. Nem os próprios ministros da Fazenda!... A bancarrota é inevitável: é como quem faz uma soma…
*
Os Maias, claro, livro sempre e cada vez mais actual em mais lugares.
Publicado em 1888.
E o país foi, mas só em 1892.
Outros tempos, mais lentos, mais remansosos, menos eficazes.
Sabe-se como agora é tudo mais acelerado e certeiro. E os conselheiros Acácios velam por que não haja mais delongas do que as estritamente necessárias.
Tempo é dinheiro.

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Luiz de Monte André
Excelente e oportuna lembrança, dos Maias adequados ao nosso tempo.
Ainda por cima adapta-se o texto a várias congeminações, por mim, ontem como hoje, o poder se enferruja com a rotina, não se inova na criação de novas saídas e se usa e abusa da ameaça para entrar no circulo vicioso do deve e haver, em Portugal mais deve do que haver e mais obedecer canina-mente do que ousar criticar as rotinas e os compromissos desiguais com o exterior.
Parabéns pelo post e a afirmação que o decisão do tribunal Constitucional é minimalista para o muito do~que no orçamento era inconstitucional e só tem uma resposta é que o governo(PSD/CDS) no mínimo cumpra a Democracia, ao saber respeitar a Constituição e tenha o engenho e arte de escolher medidas(se não acertadas)pelo menos Constitucionais.
Saudações
Açor