10 junho 2013

Neutros e invólucros

Há quem diga que o melhor caminho para se triunfar na política é não ter ideias, criar uma rede de obedientes acéfalos que ajudem a desbravar o trilho, afastando putativos iguais, e distribuir apertos de mão, sorrisos e promessas a uns quantos que dominem a pena e a imagem.
O triunfante é um neutro. Neutro de ideias, neutro de acção, neutro de dificuldades, neutro de realidade. No entanto, como que por ironia, um dia, a máscara deposita-lhe o poder no regaço.
Atarantado, porque a vida já não é o palco, o neutro tende para o cataclismo como a lapa se agarra à rocha.
Culpa dele?! O Fado é a nossa Pátria.
Apesar de estar há mais de 30 anos na política, Seguro parece um daqueles capitães de Abril que lutava pelo pré, viu-se no meio de um golpe de Estado maior do que as suas ideias percebiam e as suas necessidades buscavam e acabou em general, cheio de medalhas e encómios, vazio no conteúdo, inexistente na liderança. Neutro, portanto.
Quase quarenta anos de neutros depois, quando alguém depura o que se passa no “país da troyka”, no meio de tanto profeta da desgraça (a execução de um quadro catastrófico, sem resultados que se vejam a curto prazo e sem indicadores relevantes para o futuro, o inevitável abismo), eis que em qualquer sondagem, até da Eurosondagem, os portugueses não confiam no arauto-mor. Talvez por ser neutro.
O país real pode ter queixas quanto ao presente, mas reserva-se quanto ao futuro. Ao arrepio, o país real pressente aquilo que o país da pena e da imagem não percebe: Seguro não é confiável. Talvez por ser neutro.
Apesar de suspeitar que confirme o princípio de Peter, o habitualmente discreto Clube de Bilderberg convidou-o para uma deslocação ao seu seio, o que, desde logo, afastou qualquer possibilidade de privacidade, tal o alarde da vaidade. Mérito de Seguro, pensará o próprio; mérito deles, pensarão os apaniguados; méritos de todos eles, intoxicar-nos-ão a pena e a imagem. Bem ao contrário, o que o Clube fez, mais não foi do que precaver-se perante o que se antevia como impossibilidade histórica: não obstante a desconfiança, no fim, a realidade eleitoral poderá conduzir o vazio ao poder porque, masoquistas, gostamos de neutros.
Os Clubes sabem que nós, portugueses, somos voláteis. Voláteis na memória, voláteis na exigência, voláteis na responsabilização. E, pior, conformistas no círculo vicioso, porque gostamos de neutros.
E se todos os Clubes sabem que gostamos de neutros, melhor sabem que somos apaixonados por invólucros. Por isso, enformam-nos. E um neutro involucrado... mesmo quando não é confiável.
Por uma vez, seremos capazes de contrariar os Clubes?
Por uma vez, seremos capazes de contrariar o país da pena e da imagem?
Principalmente, por uma vez, seremos capazes de nos contrariar?

5 comentários:

Anónimo disse...

Caro José Gonçalves
Muito bom o post, principalmente porque se destina a todos os políticos que nos têm governado(estarei enganado?)e não só a Seguro(um típico cata vento)que mais não é do que uma personagem conveniente para deixar tudo na mesma no hipotético falhanço da versão Passos Gaspar.
Estes neutros não são verdadeiramente neutros(pois ninguém é)são antes alguém que aparece quando os campos se estremam e na ilusão de poderem conciliar o inconciliável e assim tentarem salvar o status quo.
A situação contudo cada vez se aproxima mais da radicalização e aí o resultado pode ser tudo menos passar entre os pingos da chuva.
Penso que qualquer que seja o campo que nos posicionemos não podemos ignorar que as posições estão perigosamente distantes para podermos perder tempo na transformação necessária e urgente deste momento destruidor, num momento de salvação, da sociedade do individuo e da economia.
Parabéns pela reflexão e infelizmente para algumas aves raras que esvoaçarão nestes comentários, eu continuarei a estar de acordo com os textos inteligentes e que sejam muito mais do que o estrebuchar partidário destes senhores.
Açor

Anónimo disse...

caro Gonçalves

como já o leio há muito tempo julgo que o recado é dirigido a toda a classe politica e nao só ao Seguro. Como nao quer bater no Passos desvia-se para outro exemplo de subida partidaria identica. Dou o beneficio ao Passos do poder por assumir objetivos claros. Mas ele é um Seguro depois de Bilderberg. Nao tenha duvidas. Tambem achei que bateu na jotas. Os jotinhas que sobem nos partidos por serem jotas sao uma praga na politica e nao é preciso sair dos Açores.

Anónimo disse...

meu caro Gonçalves

Ri-me imenso com a comparação. De fato nao lembra ao diabo aquela boa discriçao dos abrileiros.
Mais a sério julgo que quis chamar a atençao para o Portugal pós troica. Será um momento historico para o país. O povo portugues tem de perceber que a escolha que fará nas eleiçoes legislativas vai ditar o futuro de muitas gerações. Andamos todos a discutir coisa pouco uteis quando temso este enorme desafio. O PS será responsavel se ganhar as eleiçoes pelo que acontecer se manter Seguro no poder e o PSD tambem o será se insistir em Passos. É altura de um governo presidencial que junte os partidos democraticos, PS, PSD e CDS, para salvar Portugal.

Anónimo disse...

Seguro representa bem o tipo de político que os partidos geraram: um holograma simpático que, na hora do aperto, não gosta de ser apertado. Vai longe. Nós, com líderes destes, é que não.

Joao Pereira Coutinho no Correio da Manha de hoje

Anónimo disse...

O Celestiano Ronaldo para primeiro ministro!!!