04 junho 2014

Para onde caminhas, PSD-Açores?


Os resultados das Europeias nos Açores ficaram marcados pela abstenção. Mais de 80%, o que até pode não ser nada de novo, tendo em conta que há 5 anos já tinha ficado muito próximo desse valor. O que é verdadeiramente assustador é o resultado do PSD-Açores que, coligado com o CDS, conseguiu apenas 29.62%. Foram, mais concretamente, 13.266 votos. Pode-se tentar encontrar justificações externas, como o voto de protesto contra o governo nacional, as festas do Santo Cristo ou a tradicional apostasia europeia, mas estas não explicam tudo. Longe disso.

Patenteia claramente o resultado eleitoral que existirá algo mais do que o simples protesto, quando nem sequer os militantes foram sensibilizados e mobilizados para a importância do acto eleitoral e para o seu papel enquanto elementos essenciais que fundamentam a existência de um partido com uma base eleitoral multifacetada e de largo espectro, capaz de transmitir os valores comuns que os unem e são a referência da base ideológica.

Sim, porque, mesmo quando se passam momentos conturbados, a ideologia existe e deverá nortear a actuação de todos, sobretudo daqueles que mereceram a confiança geral. Cabe a estes a função de serem porta-vozes activos do partido, em última instância como fiéis depositários daqueles valores.

Não olvidar isto, é o primeiro passo para o bom exercício das funções em que cada um foi investido; esquecê-lo, deixará sempre impresso na memória o inanismo e a inactividade que desencadearão juízos nefastos.

Será, porventura, injusto para quem é dedicado e exerce consciente e probamente as suas funções, mas parece que uma dinâmica obscurantista se instalou dentro do PSD-Açores e que a mesma afastou completamente a larguíssima maioria dos militantes e dos potenciais eleitores. É nisto que está a base primeira do descalabro.       

O PSD-Açores vive dos seus militantes. Os militantes do PSD-Açores são leais e têm vontade de participar no processo de construção da sociedade onde estão inseridos, mostrando-se sempre disponíveis, se chamados, quando chamados e desde que chamados. Respeitá-los, ouvindo-os, é um dever de quem exerce funções dirigentes. E ouvi-los primeiro não é uma opção. É obrigação. É companheirismo. É ser PSD.

Porque capazes, os militantes do PSD/Açores têm entre as suas fileiras companheiros capazes de os representar, assim lhes conceda o partido a sua confiança.

Por isso, sentem-se evidentemente injustiçados quando, sem razões suficientemente claras e objectivamente inequívocas, são descartáveis.

Os militantes do PSD-Açores não devem ser substituídos por convertidos, reconvertidos e, muito menos, pela legião estrangeira, sobretudo quando esta se revela aquilo que exactamente é.

Pela experiência, este caminho não significa maior votação nem melhor representação. Pelo contrário, o potencial eleitor intui aquilo que o militante ressentiu, sobretudo na imobilização.

Quem vê a militância como um voto conseguido e cartaz adquirido que se usa nas alturas eleitorais e depois se pode descartar, está enganado. Não existe militância cega. Ou melhor, ela existe, só que é nociva. E, ainda que minoritária, o pior é que é a que vinga dentro do partido. É aquela que afasta os eleitores. É aquela que corteja o status quo bem falante, mas incapaz de perceber que a sociedade evoluiu. Os eleitores esclarecidos, que são cada vez mais, sentem repulsa deste estereótipo como que saído de uma fotocopiadora, com discurso impresso, igual, vazio, redondo e inconsequente.

A militância que interessa, pelo contrário, é capaz de analisar e criticar. São os que fazem a diferença e felizmente são a maioria e cada vez mais. Para se ganhar eleições é preciso, antes de mais, ganhar-se o partido. Isto é uma frase tão banal que até parece ridículo ter que a repetir. Mas é necessário repeti-la, uma e outra vez, porque parece não ser entendida.

E depois de ganhar o partido, e depois de ganhar os militantes, há uma enorme fatia da população que está predisposta a votar na credibilidade e participar em alternativas. População essa que vive e conhece os problemas dos Açores e que sabe que o outro lado não é solução. Basta olhar para os números e ver que existe uma franja que está a coberto do actual modelo governativo, mas que a grande maioria está fora e que, por isso, ou vive em dificuldades ou vive silenciada ou, em última análise, apenas deambula sem esperança.

Se essa população consegue discernir o que está mal na região, obviamente também percebe se a alternativa que lhes é apresentada é válida ou não. E a resposta está nos resultados que o PSD obteve. O PSD-Açores não conseguiu sequer cativar os seus militantes, quanto mais toda essa população. Eles olharam, viram e agiram: mal por mal, ficamos como estamos.

Se o PSD-Açores quiser mudar ainda vai a tempo. Ainda. Se persistir na estagnação, mais dia, menos dia, já não haverá militantes, apenas e só o revezamento profissional nas cadeiras do poder.

Rui Rebelo Gamboa
José C. Gonçalves



8 comentários:

Anónimo disse...

Caros R.R e JG
Estou no essencial de acordo que estas(mas também outras)serão razões para justificar uma remodelação orgânica o formal no PSD, mas na realidade estas serão tão só razões de cosmética, necessárias mas não suficientes para curar os males do PSD, quer regional quer Nacional...
No momento que vivemos( e nas eleições Europeias) não será necessariamente uma questão tão ampla que afecta as mesmas eleições(embora o mais esteja objectivamente presente)mas tão só uma questão conjuntural da liderança Nacional, das eleições em causa e da desmotivação objectiva que existe.
O resultado conseguido foi quase um milagre, quiçá uma herança ainda de Mota Amaral e dum certo espírito de claque e fervor "clubistico", estou certo que a maioria dos votos foi no PSD e não na eleição A ou B.
Outra coisa porém é a necessidade de dar outro rumo ao PSD(podia ser outro partido)que exige um repensar orgânico mas também ideológico e prático que pudesse dar corpo e sentido a um partido nacional de centro esquerda que ele já foi no tempo de Sá Carneiro...
Saudações
Açor

Carlos Faria disse...

Não deixa de ser uma perspetiva de analisar a abstenção e os resultados do PSD, eu não vi apenas coisas assim:
http://wp.me/pGd7y-2bN
Mas também é verdade que não se pode penalizar quem já trabalhou com a ânsia de renovar e hostilizar ao mesmo tempo os resistentes que continuam a militar no partido.
Contudo como hoje publico no blogue, julgo haver outro risco com a abstenção açoriana nas europeias.

Anónimo disse...

em vez de andarem a escrever na praça publica deviam dirigir-se aos orgaos do partido ou entao apresentarem-se como candidatos às eleiçoes que vao acontecer no dia 18. se mandasse prupunha que vos expulssassem mas parce-me que vao ter o que merecem que é a ignorancia dos militantes e dirigentes. O vosso PSd nao é o nosso. Nos estamos 200% com os nosso liders. voces querem o poder. parece aquilo que acusam os outros.

Anónimo disse...

Este ultimo comentário, da forma como está escrito, cheio de erros de português e de contradições gritantes, só pode vir de uma pessoa, ou dos que andam com essa pessoa. E isto só vem dar ainda mais razão a vós que escreveram este texto. Falar para os órgãos? Quando? Eles reúnem? Querem o poder, mas não se chegam à frente para fazerem listas? Estranho. Só pode fazer sentido num grupo de jovens que sabe é fazer barulho e organizar concursos de playstation. Portanto, bom trabalho rapazes.

Anónimo disse...

Erros de português?
Vejamos:
É - a vós que escreveram os textos?
Ou - a vós que escrevestes os textos?
Ou ainda - a vocês ou senhores que escreveram os textos?
*
Diz-se: vós escreveram os textos?
ou: vós escrevestes os textos?
*
Isto só acontece desde que os esnsinaram a «escrever» até aos 18anos.
Ignoram a conjugação e regime verbal, mas sabem da governação e regime político.
Ó português de uma cana!
***Professor do tempo da 4.ª de antes do 25 do 4.

Anónimo disse...

Caros anónimos
Não opino sobre o Português, aprecio a boa escrita, mas considero sempre(não obstante a dúvida sobre quem tem a boa escrita)que quem levanta a qualidade da escrita dos outros(nos comentários)mais não faz que desviar as atenções do principal, que é a questão controvertida...
Seja como for estas ameaças( veladas ou não) sobre a expulsão dos autores do texto do PSD, são a prova de que algo esta mal no PSD Açores.
Eu sei que o Passos Coelho não convive bem com a oposição e com os órgãos institucionais como o tribunal Constitucional, agora que a direcção do PSD Açores, recorra à expulsão. para calar as vozes criticas é que é demais, não será esta a demonstração que os autores estão cheios de razão?
Açor

Anónimo disse...

Os gajos da JSD sob o comando daquele que é talvez o maior aborto da política açoriana de sempre estão a fazer uma figurinha triste no facebook. Nunca comentam nada contra o Governo, mas sobre este assunto, saíram logo todos da toca. E ainda à pouco vi mais uma vez um a cair que nem tolo na isca que o Gamboa mandou. Falou em soldadinhos de chumbo que nunca dizem nada, e o tatãozinho apareceu logo e mandar bocas. E ontem o outro aquele que tem ar de gigante da madeira até lhe disseram para ele parar porque ja estava todo manchadinho. É bem triste o que se passa dentro do PSD e também voçes não ajudaram nada com isto. Se quisessem falar fizessem na sede. Mas também tem razão pq não ha reuniões. Enfim, uma palhaçada.

Anónimo disse...

caros maquinistas

confesso que há muito não via alguem ligado ao PSD, exceto o JNAS, com a coragem de por o dedo na ferida. Percebi que vocês foram corretos quanto ao nome das pessoas, o que quer dizer que nao quiseram por em causa a liderança mas antes questionar a forma como a mesma é exercida. Uma subtileza apreciável e que faz de vocês pessoas que deverão ser ouvidas dentro do vosso partido se a algum lado ele quiser chegar. Acompanhei a discussão que aconteceu no Açores Global e vi a triste figura que um elemento que se identificou como defensor do partido fez insultando até quem o Gamboa. Hoje soube que o mesmo é candidato numa lista da concelhia de Ponta Delgada, um daqueles jotinhas cola cartazes. Venho aqui afirmar publicamente que essa lista não terá o meu voto não só por ele mas por mais dois ou tres elementos que lá estão e deviam ter vergonha na cara por aquilo que fizeram para chegar onde estão.

um velho militante do PSD