13 outubro 2006

A Alta Velocidade

No dia em que o Ministro da Economia, Manuel Pinho, anunciou o fim da crise económica que Portugal atravessa(va), apetece-me aqui recordar os dois maiores investimentos públicos anunciados pelo Governo de Sócrates; refiro-me ao TGV e ao aeroporto da OTA.
Quero recordá-los, não por me rever nesta decisão, mas antes porque temo que o Governo, com este anúncio de uma pseudo retoma, aproveite para anunciar que vai passar dos estudos á prática.
Devo dizer que, em relação á construção do novo aeroporto na OTA, a minha posição é de uma concordância com algumas reservas. Estas reservas prendem-se com estudos que dão um prazo de vida ao actual aeroporto de, pelo menos, mais 30, e com o facto de se poder alargar este prazo, utilizando, com reformulações, o aeroporto militar de Figo Maduro, para voos Low Coast.
Bem, mas supondo que não queremos adiar o inevitável (retirar o aeroporto de dentro de Lisboa), e se assuma (como já se assumiu) que a OTA avança. Pois sim, não me choca.
O que me choca. é o projecto do TGV, que vejo como um enorme Elefante Branco, um buraco sem fundo. Senão vejamos. Segundo os estudos encomendados pelo Governo, e ponderando vários cenários e datas para conclusão da obra, o TGV custará o erário público (“eles” dizem que parte é investimento privado, a ver vamos), de entre 3,000 milhões de euros e 4,700 milhões de euros, para que não fiquem dúvidas, três mil milhões de euros e quatro mil e setecentos milhões de euros.!! Este é o cálculo oficial, mas todos sabemos que as “derrapagens” se encarregam de acrescentar mais uns largos milhões de euros. È da praxe.
Por este andar vamos a alta velocidade, mas antes de chegarmos a Madrid perdemos o combustível.
Que viabilidade económica pode ter este mega projecto?
Numa era em que proliferam as companhias de aviação Low Coast, que praticam preços e tempos imbatíveis, ombreando, e ganhando, com as rotas europeias de TGV, vai o nosso Governo avançar para uma obra deste calibre, cujas mais valias ou benefícios são enormemente diminutos. Estamos no extremo Ocidental da Europa, a única ligação com uma capital europeia que o nosso TGV vai conseguir é, exactamente, com Madrid.
É muito pouco, por muitíssimo dinheiro. Só a ligação em TGV Lisboa – Porto, embora desconheça os valores previstos para este trajecto, custará, seguramente muitos milhões, sendo que o único beneficio são os 35 minutos que se poupam em relação ao, actual, Alfa Pendular. 35 minutos!!!! E para Madrid, numa companhia Low Coast, chegamos em 1h30m, por 30 euros. Quanto custará um bilhete em TGV para o percurso Lisboa – Madrid? E quanto tempo levará? Dizem os estudos mais optimistas que nunca menos de três horas.
Estes dois mega projectos, lançados em simultâneo, são um contra-senso, pois ambos concorrem, em parte, por um mesmo mercado: os voos Lisboa – Porto e Lisboa – Madrid.
Em época de contenção económica e de equilíbrio do deficit das contas público, em que se pedem enormes sacrifícios aos portugueses, não me parece racional (nem necessário) partir para tamanho Elefante Branco.
Se há promessas que não devem ser cumpridas, esta é uma delas, pois os seus prejuízos suplantam, em muito, as suas magras vantagens.
A hora da Alta Velocidade está a chegar……a alta velocidade

4 comentários:

Rui Rebelo Gamboa disse...

Acho que o ministro disse que a crise acabou para estimular os mercados, não sei se tem esses o bjectivos, pelo menos para já. A verade é que discursos como o 'da tanga' contribuem por si só para a crise, já sem falar nos factores originais e tradicionais que originam a crise.

Vindo do minstro penso ser um 'boost' para a confiança geral para o país,para as famílias, para as empresas e por tabela para o próprio estado. É disso que Portugal precisa muitas vezes, e não só nestas áreas, um dos problemas dos portuguesesm já tantas vezes identificado, é essa falta de confinaça em si próprios. Se não vier dos governos de quem virá?

Quanto ao TGV e OTA. Penso que muitas vezes é preciso pensar no futuro duma forma muito alragada, ou seja pensar a longo, longo prazo. Com isso não estou a querer dizer que apoio nenhum dos projectos, estou só a dizê-lo.

A OTA tem que acontecer, de facto. em projectos desta natureza pensar em 30 anos é pensar a médio prazo. É algo que tem que acontecer, agora é preciso tentar perceber qual a melhor altura para o fazer, uma vez que 30 anos dá, ainda, algum espaço de manobra, daí tu antecipares que esta será a altura, merçê das declarações do Ministro.

O TGV, sendo como tu dizes que é, será seguramente um erro. Mas se pensarmos a longo prazo, neste caso 50, 75, 100 anos, não sei se será assim. O Marquês do Pombal também foi apelidado de megalomano quando projectou as actuais avenidas da capital, que na altura foram vistas como não necessárias paras as necessidades dos lisboetas. Isto, no entanto, tem o valor que tem, como é óbvio, só com numeros e info fidedigna sobre a utilidade de um projecto desse a longo prazo, é que podemos afirmar com alguma segurança.

Pedro Lopes disse...

Estou de acordo com os teus dois primeiros parágrafos.
O próprio ministro, depois do óbvio aproveitamento político das suas palavras, veio "corrigi-las", acabando por dizer que "é riidiculo anunciar o fim de uma crise", e que as suas palavras visavam, exactamente, criar um certo optimismo nos portugueses, que, balançeados pelo fado, se deixam levar por um sentimento de algum desânimo.

Também concordo com esta atitude de apaziguação da opinião pública, permitem pensar para além da crise e criar optimismo e visão de futuro.

Claro que o próprio governo não se deve deixar "enganar" por estas palavras, avançando já para obras deste calibre. É como dizes, 30 anos deixam espaço de manobra. Porque não esperar mais algum tempo, isto, se partirmos do principio que estas obras avançarão dentro de 1 ou 2 anos.

Já o TGV (os números que apresentei foram tirados de estudos encomendados pelo próprio governo), não me parece um obra da qual tiremos dividendos, nem agora nem no futuro. A não ser que as transacções económicas entre Portugal e a vizinha Espanha, sejam suficientes para dar viabilidade a este projecto. Para transporte de mercadoria, ainda dou o beneficio da d+uvida ao governo (porque não disponho destes números), mas quanto a passageiros, e já tendo lido e ouvido várias opiniões fundamentadas, digo que é um péssimo investimento.

A ver vamos

Pedro Lopes disse...

Li hoje na recista Sábado, que a Secretária dos Transportes, disse que o TGV é para avançar.
No artigo dizem que os custos da obra estão orçados em 7,700 milhões de euros. 20% desse valor é financiado pela UE.
...com as derrapagens vamos ver qual a factura final...

Pedro Lopes disse...

...hoje noticiaram, que só as obras da ligaçã Porto-Vigo em TGV custarão 1, 200 milhões de euros.
É só para que se vá fazendo as contas.