28 maio 2007

A Banalização do Ensino Superior

O objectivo parece que é melhorar a posição de Portugal nas classificações que a U.E. costuma apresentar sobre os níveis de literacia em cada Estado-membro. Para tal, o Decreto-Lei 64/2006, de 21 de Março aprova as condições especiais de acesso e ingresso no ensino superior para a frequência do ensino superior dos maiores de 23 anos, independentemente das habilitações académicas de que são titulares, conforme se verifica no texto do artigo 8.º, não havendo incompatibilidades com as habilitações académicas de que são titulares.

Além disto, sabe-se que a partir da entrada em vigor do Processo de Bolonha (próximo ano lectivo), as universidades vão receber um apoio estatal por cada aluno que sai licenciado, ao contrário do que se passava até agora, onde esse apoio era concedido por cada aluno que ingressava na universidade.

Perante as dificuldades financeiras que a maioria dos estabelecimentos de ensino superior se deparam, não será de estranhar que os professores sejam incentivados a passar os alunos. A verdade é que, como se sabe, o próprio futuro dos docentes universitários depende desses apoios, pois não têm direito a subsidio de desemprego, o equivale a dizer que têm mesmo de entrar nesse jogo, sob pena de ficarem sem trabalho e sem ajuda estatal.

Os números de Portugal serão, com certeza, melhores, no contexto europeu e mesmo mundial. Mas e o que interessa mesmo, ou seja a formação dos alunos, num ensino que se quer de excelência?

3 comentários:

Pedro Lopes disse...

Bem, meu caro, a avaliar pelo número do Decreto.Lei, essa meta do Governo está muito longe de ser alcançada.....falam 999 anos!!! :)


Agora a sério. Também já conhecia esse decreto-lei, e creio que terá algum reflexo nos futuros números de licenciados. Também já havia um certo número de vagas para pessoas com o 9ºano e mais de 25 anos(?), que mediante a aprovação de uma prova escrita, poderiam ter acesso ao ensino superior.

O objectivo era o mesmo, elevar a escolaridade dos portugueses. Muitos trabalhdores têm aproveitado esses regimes para entrar nas Universidades, tendo o estatuto do trabalhador estudante a protegê-los.

Mas penso que o regime anterior - creio que o avctual também será assim -, só garante mais escolaridade se a pessoa, efectivamente, concluir a licenciatura, de outro modo mantém a nível anterior. è justo, é o mínimo exigível. Ou se tem capacidade, ou então.....

A promíscuidade pode estar na regra de que falas (mais dinheiro por licenciado em lugar de por aluno), pois o facilitismo pode levar a que se baixe a fasquia do minimo exigível, e por arrasto se diminua a importância e conhecimentos de um curso superior. Aí, ninguém ganha, talvez todos percam!

Mas, eu dou claramente o beneficio da dúvida aos profeessores, que seguramente continuarão com o rigor e exiigências actuais, indo de encontro á ética da profissão e Às boas práticas do ensino, que se devem abstrair das "politiquices" e da gestão da institição de ensino onde leccionam.

Essa questão dos docentes universitários não terem direito ao subs´dio de desemprego, creio que está para ser resolvida.(?)

Anónimo disse...

isto irá com certeza levar a que um dos critérios da avaliação que o governo quer impôr seja o do licenciado por metro quadrado, e nisso exímios são mesmo os estabelecimentos privados (passa toda a gente). e quanto à ideia de que os professores vão continuar a ter um sentido ético, se o lugar deles depender disso, não tenho muita certeza. é porque isso do subsídio de desemprego para os professores ser implementado é mais ou menos como o d. sebastião.


miguel

Rui Rebelo Gamboa disse...

É evidente que estando o lugar deles em risco, vão facilitar, até porque poucos são os que são efectivos. Mesmo que a questão do subsidio de desemprego seja resolvida, ninguém quer ir parar ao desemprego. Eu posso afirmar que os profs já estão preparados para começar a receberem pressões, para passarem os alunos. A verdade é que não teremos melhor formação, poderemos ter, é certo, mais formados, mas a qualidade irá por água abaixo.

As univ's estão quase todas com crises financeiras. Nos Açores, há professores a leccionarem 4 cadeiras por semestre, quando o recomendado são duas. Não há condições para fazerem um bom trabalho. Mais, do ano passado, para este, houve profs que deixaram de dar aulas (levando ao tal sobrecarregamanto nos outros) porque foram praticamente levados a isso. Portanto, se é dar licenciaturas que vende e faz o carcanhol entrar e garante os empregos, então é lógico que vão facilitar, por muita boa vontade que tenham, até porque são pressionados a isso.

E se é difícil entrar na univ, devido às provas de matemática e português, então cria-se essa lei, que permite que todos entrem, independentemente das qualificações, basta terem mais de 23 anos.

Os números vão subir em flecha, fantástico!