30 maio 2007

GREVE; Direito ou Dever?

O “Estação de Serviço” que passou hoje na RTP - Açores, teve como tema a Greve Geral convocada pela CGTP Intersindical, e a pergunta era: “Concorda com a Greve de hoje?”.

O convidado, um sindicalista da área da Banca (que não me recordo o nome e que ali estava na qualidade de cidadão e sindicalista, como o próprio frisou), pareceu-me defender, durante a conversa, que os trabalhadores que não adiram às greves, não possam depois usufruir dos direitos conquistados por via dessa forma de luta e dos que a ela aderiram. Nada mais errado, em minha opinião.

Seguramente que os baixíssimos números de adesão registados, à Greve de hoje, contribuíram para essa demonstração de um certo desapontamento por parte do convidado em estúdio, manifestada através desse “desabafo”.

Aquilo que sei é que muitos trabalhadores não aderem a esta forma de luta, embora com ela concordando, pela simples razão de não poderem prescindir do rendimento daquele dia de trabalho. Então se falarmos de uma greve geral, e da perda, por parte dos dois membros do casal – quando não mesmo de outros membros que contribuem para o sustento do agregado familiar -, dos respectivos rendimentos desse dia de labuta, então a falta ainda é maior.

Isso, para não falar do Direito á Greve ser, isso mesmo, um Direito, que é exercido, ou não, conforme a vontade do cidadão/trabalhador. Os sindicatos, por seu lado, têm o dever de defender todos os trabalhadores a ele afectos, não devendo condicionar um direito de um seu associado.

A ser assim, qualquer dia os sindicatos dão “carta de alforria” a quem não fizer greve, pois não estão dispostos a defender os interesses quem não embarca na mais dura forma de luta.(!)

15 comentários:

Pedro Lopes disse...

Gostaria, ainda, de acrescentar, que para os trabalhadores, em situação de precaridade, contratos sucessivos e recibos verdes, fazer greve, ususfruir desse direito,pode representar uma NÂO removação de contrato ou penalizações de outra "ordem".

Aqui, nestes casos, é quase uma questão de solidariedade que trabalhadores com vínculo laboral estável exerçam esse direito à greve, lutando, ainda com mais força, contra a precaridade no trabalho, contra aqueles que "não podem" fazer greve.

Os sindicatos devem ser os primeiros a compreeender essa situação, a denúnciá-la e a reinvindicar estabilidade para os que se encontram na precaridade.

Rui Rebelo Gamboa disse...

E, do outro lado, estão as empresas que fazem coisas do género pressionar os empregados a não aderirem à greve, sob pena de sofrerem retaliações. Acho até que um episódio desses aconteceu cá, em S. Miguel, hoje nesta greve. Penso (não tenho a certeza) que uma grande empresa, das maiores dos Açores, senão mesmo a maior, escreveu a todos sEus trabalhaDores A dizer algo desse género. Pelo que soube, foi mesmo escrito.

Quem não sabe qual a empresa, basta seguir as PISTAS que deixei. ;)

Francisco disse...

Caro Rui Gamboa, o que diz não corresponde à verdade, embora esteja a ser propagado por um sindicato. Existiu apenas um esclarecimento em relação aos trabalhadores designados para cumprir os serviços mínimos (e apenas esses!), que continuam sob a orientação hierarquica da empresa, pois existiam dúvidas de interpretação da nova lei da greve sobre esta questão. Tudo o resto é areia para esconder o que realmente se passa: uma actualização salarial atribuida de 3%, à qual acresce um valor médio de subidas automáticas nas carreiras de mais de 2%, o que resulta, na prática, num aumento total de mais de 5%! Como gostariam todos os outros açorianos de ter um aumento desses... :(

Pedro Lopes disse...

A SATA, meus caros, estamos a falar da SATA.

Há muito que alguns dos seus trabalhador, em especial o pessoal de cabine, vulgo hospedeiras, se mostra descontente com o nivel salarial e outras questões, tais como pausas entre as várias ligações aéreas.

Mas, concordo com o Francisco, a ser verdade que terão um aumento real na ordem dos 5%, é muito bom, diria mesmo uma grande conquista.

Mas, também há muito, que a SATA (internacional, em especial) me desiludiu.
Actualmente não me merece qualquer respeito.

Uma companhia que nasceu sob a bandeira da salvaguarda dos interesses dos Açoreanos, e contra o monopólio explorador praticado pela TAP, que inflaccionava os preços das passagens aéreas, e que agora de braço-dado com a ex-inimiga TAP, explora os seus concidadãos.

Venha, que já vem tarde, a liberalização do espaço aéreo para os Açores.

Rui Rebelo Gamboa disse...

Meus amigos, esse epiosódio que descrevi era na EDA. Talvez não tenha mesmo acontecido e tal como o Francisco disse, pode ter sido apenas areia para os olhos, que não é nada de estranho, nestes casos.

Essa é uma situação que nós já reclamamos há muito, caro Pedro. E desde que a nossa Máquina nasceu, que nós o dizemos. Se o turismo de massas se instalar, de facto, não deverá durar muito mais tempo. Infelizmente, para termos uma coisa, teremos que pagar com outra. Não sei o que será pior, não sei mesmo. Pior, pior, será que venha o turismo de massas e a SATA/TAP mantenham o monopólio.

Pedro Lopes disse...

Meu caro, o que eu defendo, e a SATA de inicio, é que o "estatuto" de residente mereça uma excepção, de modo a baixar drásticamente os preços de quem está aqui "aprisionado" á merçê de um avião.

O turismo serve, essencialmente, para captar receitas. Então, porque não serem os turistas a "pagar" para que possámos ter preços mais acessíveis.?

Assim, mantendo os preços elevados, seguramente que o turismo não se massifica, e podemos continuar a conquistar mercado a um ritmo lento, mas seguro. É que depois de destruída a natureza, não podemos voltar atrás. Quando se instalarem as massas (espero que nunca aconteça), de cá já não saem. Não quero, aqui, grupos de estudantes, nas tradicionais viajens de finalistas.....esses que vão para o sul de espanha ou Canárias.

è só um exemplo....

Eu defendo um preço, para residentes nos Açores, de 150 euros (ida e volta, claro).....
e já com taxas, preço final.

A liberalização do mercado aéreo, não trará, por si só, o turismo de massas, muito menos os tais grupos de finalistas a que me refiro, pois esses querem sol, muita agitação e cerveja, não comunhão com a natureza.

Cabe-nos a nós, manter um certo nível de equipamentos e serviços, que não cativem quem não interessa (pode-se também discutir o que se entende por turista que não interessa).

Pedro Lopes disse...

Continua a barraca na SATA, com efeitos da greve á mistura, e um estranho episódio com uma "hospedeira" na Irlanda.

A confusão é tal, que teve direito a cobertura noticiosa na SIC Noticias.

Vamos ver como termina esse "braço-de-ferro".

Anónimo disse...

...e na RTP-N. Tá a dar que falar.

Rui Rebelo Gamboa disse...

Mas o que se vê é exactamente o contrário, ou seja os preços a baixarem para quem vem de "fora" e a subirem para os que vivem nos Açores. Exemplo: os pacotes a 200€ para vir passar uma semana nos Açores, com hotel incluído, por outro lado a subida dos preços mesmo antes do Natal, 1º foi a TAP e dias depois foi a SATA.

Temo que essa situção agrave-se, não estava a apresentar uma solução, estava e estou a fazer uma projecção dquilo que poderá vir a ser o futuro.

Anónimo disse...

Rui, a solução que eu defendo (que sejam os turistas a pagar para que possámos ter preços de residente, logo mais baixos), vai contra essa política dos pacotes a baixo preço para os turistas - quando se pretende turistas com elevado poder de compra e nível cultural -, pois assim, mesmo com monopólio, os turistas têm preços de saldo, enquanto nós, residentes, pagamos idêntico preço, mas sem direito a Hotel nem carro de aluguer, só viagem de avião.!!!

É o pior dos cenários, e é com este que vivemos nos dias de hoje. É presente.

O que tu temes (monopólio e turismo massificado, em conjunto), está a caminho de se concretizar. Pois com pacotes a estes preços, não se faz uma distinção de potencial cliente/turista. É acessível a todos, e com preços semelhantes a pacotes para as Canárias ou Maiorca, destinos massificados, como se sabe.

Não achas, Rui?

Eu defendo mais devagar, mas com maior solidez. E para isso, a solução, a meu ver, era aumentar, pelo menos 70 euros nas viagens e/ou pacotes de turista, deduzi-los directamente ás passagens dos Açoreanos que viajam para fora do arquipélago.

Pedro Lopes

Rui Rebelo Gamboa disse...

Bem, isso seria o melhor de dois mundos, para nós. No entanto, deverá ser de muito difícil execução, neste momento. Já existem interesses instalados, que vivem desses preços baixos, para encher hoteis e, por esse motivo, contribuir para o orçamento regional. Estamos perante uma situação invertida, em relação à que defendes, claramente. É à custa dos preços exorbitantes que nós pagamos, que os turistas têm os preços tão baixos. E é preciso não esquecer que nós é que temos que pagar toda aquela máquina que é a SATA, toda aquela "aristocracia de carácter hereditário".

Para já, deveria ser feita uma re-estruturação na SATA e acabar com aquilo que é sabido que existe. Depois será mais fácil colocar os preços (para todos) iguais àqueles que são praticados por empresas que operam com aviões iguais, com distâncias e condições semelhantes (entre Açores e LX). Quanto a aumentar a tarifa ao passageiro normal (em oposição ao residente), isso deverá ser feito em consonância com as estruturas para o turismo em terra (digamos assim), ou seja criar condições para um turismo de qualidade, para o qual temos condições. O que temos actualmente é uma situação de meio termo, ou seja temos algum investimento nesse turismo de qualidade, mas também temos no de massas, para que um (o 2º) possa ir pagando enquanto o outro (o 1º) não se estabelece e não dá o lucro desejado. Entretanto, o açoriano arrota, como um lindo, como se fossemos uma região com rendimentos elevados.

Agora, em relação à abertura das rotas entre o continente e os Açores, a outras empresas, isso levará à abertura de mercado e à fixação de preço pela competição, isso fará com que baixem (pensamos nós) mas para todos, o que poderá trazer o tal turismo de massas e interferir com o turismo de excelência que se quer, ou não?

Anónimo disse...

Ou seja, tudo fica como está, em nome dos interesses instalados.e porque é preciso encher os hotéis.
(sei que não é o que defendes, é a triste realidade)

Entretanto vai vingando o turismo de massas, que se vai instalando, e como há hóteis para encher e a economia tem de andar, começamos depressa e descontroladamente a ir de encontro ao que o turista mais "desprendido" e menos exigente quer, e distanciámos-nos, progressivamente do turismo que tanto desejámos, pois esse não se coaduna com as infraestruturas e serviços que, entretanto, se vão por cá criando.

Eu digo que este é o caminho errado, e que com estes "tapa buracos" (como o caso dos turistas Suécos, a quem o Governo regional dava incentivos para que cá viessem, e parece que quem para cá vinha, eram pessoas apoiadas pela segurança social local, que vinham descansar aos Açores, e depois íam para os supermercados fazer compras para cozinhar nos quartos de hótel, sem deixar um tostão por cá, e pagos por nós(!)), bem continuando, não vamos lá.

esses não "empurram" a economia, e caímos num ciclo vicioso, de incentivos públicos ao turismo, para pelo menos encher camas. Resultado, o dinheiro anda sempre nas mãos dos mesmos, pois o turista aterra, pega no carro de aluguer, vai pró hotel. No dia seguinte, passa no supermercado, faz umas compras para fazer umas sandes, e faz-se á estrada.Visitra os pontos de interesse, vê as vistas, e regressa ao hotel. Dia seguinte, depois de tomar o pequeno almoço no hotel, repete o dia anterior. Isso até ao dia de embarque, em que deixa o hótel, deixa o carro de aluguer no aeroporto, e regressa á origem.

Os que jantam fora, os que jogam golf, os que querem desenvolver actividades ao ar livre (passeios a cavalo ou de jipe, etc) ou observação de baleias e golfinhos, os que compram artesanato e visitam os museus, em suma, os que gastam dinheiro por cá, e não veem só ver as vistas, esses exigem melhor serviço e menos reboliço, esses procuram hóteis de charme e resorts, em lugar de unidades hoteleiras instaladas nos centros das cidades.

Com tanto mar e paisagem campestre, porquê tanto hótel e com tantos quartos no centro de ponta delgada?....e Horta e Angra e Praia.?

Parece que o discurso aponta para X, mas o que se constata na realidade é Y.

E continuam com o discurso X, quando todos se apercebem que estão a caminhar na direcção de Y.

E assim vamos andando....e voando

Rui Rebelo Gamboa disse...

Dessa, dos turistas suecos, eu não sabia. Mas que encaixa bem no protótipo do turista sueco que nos visita, lá isso encaixa.

Já há algum tempo afirmei aqui: se é o turismo de massas que se quer, então que se vá a fundo, não estejamos com estes meios-termo, que não levam a nada. E é tanto o dinheiro que é investido/gasto na promoção dos Açores, nessas btl's e co. lda.

É preciso não esquecer que, nesse ciclo vicioso que identificas, falta um elemento muitíssmo importante, é que com tudo isso, parece ao simples do eleitor, que está tudo bem, que o governo está a fazer um bom trabalho, que está a promover bem o nosso destino "lá fora" e que estmos cheios de turistas que fazem andar a nossa economia e que tudo vai ficar bem, por isso voltam a votar neste governo. No fundo, é esse o principal objectivo, não é o turismo, por si só.

Anónimo disse...

E, também concordo. Há um "regime", que tu tão bem descreves, que, ali, ou noutra qualquer empresa pública, não devia ter lugar.

Acho inadmissível o regime de excepção, às regras da administração pública, que vigora nas EP´s - Empresas Públicas, pois os seus capitais, como a própria designação indica, são de cariz público (pagos c os nossos impostos).

Este goiverno, e bem, tem elaborados decretos leis no sentido de normalizar e acabar com os abusos cometidos pelas administrações dessas empresas, tendo já legislado no sentido dos vencimentos mensais dos seus gestores, não poderem ultrapassar o do PM. Nada mais justo, em meu entender.

Também se viu, a propósito dos acontecimentos na CMLX, os abusos e ilegalidades na EPUL (empresa de tratamento de águas da capital), e os chorudos prémios dos seus mais altos quadros....quando não mesmo, a acumulação de cargos de vEreação autárquica, com lugares ns administrações dessas empresas. Também aqui., e ebm, este governo já tomou medidas, fazendo com que pessoas nessa situação tenham de escolher qual o vencimento que recebem por interiro, sendo que o outro se queda pelos 30 % dos seu valor base. Mais uma vez, justissímo.

Muito há a dizer sobre este, e tantos outros temas e abusos que se praticam com dinheiros poíublicos.

Se a SATA fosse privada, os seus responsáveis dos recursos humanos podiam escolher como quisessem os seus funcionários, sem concurso ou apresentação de curriculum, se assim quisessem. Mas sendo uma empresa pública, o acesso aos lugares no seu quadro, deviam pautar-se pelas regras vigentes para os concursos públicos, de admissão a carreiras na função pública.

Ou seja, com provas de acesso, escritas e de entrevista, avaliação currricular e de competência e perfil para o cargo a desempenhar. E dando a possibilidade dos concorrentes "perdedores" impugnarem o concurso, ou solicitarem nova avaliação, se houvesse fundamento para tal. O tal facto C, cunha, entenda-se.

Confesso nunca ter concorrido a nenhum lugar na SATA, facto que me faz não estar seguro dos seus critérios de admissão, ou das provas que precedem uma admissão a um lugar de quadro, mas estou seguro que as (duras) regras e condissões de admissão de um concurso público, não têm ali lugar.

Rui Rebelo Gamboa disse...

Além de tudo, a SATA usa e abusa dos trabalhadores, através do conhecido sistema de os ter 6 meses e mandar embora e re-admitir depois, tudo para dar a volta à lei que obriga à admissão no quandro depois de (penso que) 2 ou 3 contratos de 6 meses.

O Vasco Pulido Valente dizia à pouco tempo que as medidas deste governo parecem ser boas, e são, mas não são mais que medidas essenciais que já deviam ter sido tomadas antes.