03 junho 2007

Guerra Fria no séc XXI?


Estamos perante um aumento de tensão entre os EUA e a Rússia, que não se via desde os tempos mais quentes da Guerra Fria. Isto porque, os EUA decidiram instalar um sistema de defesa anti-míssil, no Leste da Europa, que terá como objectivo a destruição de mísseis vindos do Irão. Em resposta, o presidente russo, Vladimir Putin, numa entrevista ao jornal canadiano Globe and Mail, ameaçou apontar mísseis, inclusivamente com ogivas nucleares, para a Europa.

Os americanos estão a tentar convencer os russos, que trata-se de um sistema defensivo, vocacionado para uma ameaça pequena, e que não devem concluir que se trata de uma ameaça à própria Rússia e ao seu armamento.

A verdade é que os russos não podem acreditar na palavra dos americanos, as coisas simplesmente não funcionam assim. Um sistema anti-míssel na Polónia ou na Republica Checa, tanto pode servir para os tais mísseis iranianos, como pode servir para destruir os mísseis que a Rússia tem.


Por fim. E a Europa? Que papel têm os europeus no meio de tudo isto? Vai a Europa voltar a ser um mero peão numa Guerra Fria entre EUA e Rússia? Alguém disse que a Europa é um gigante económico, mas um anão político, em termos internacionais, e essa afirmação faz todo o sentido neste contexto. Cada vez mais, parece-me que é imperativo que a Europa desenvolva uma Política de Segurança Comum efectiva, se quer de facto, ser um actor relevante no panorama mundial.

14 comentários:

Anónimo disse...

Caro colega e amigo, Rui, este tema, política e relações internacionais, tu dominas mais do que eu. ;)

No entanto tenho as minhas opiniões - que julgo não divergirem muito das tuas -, nesta matéria.

Por exemplo, essa de alguém já ter dito que " a Europa é um gigante económico, mas um anão poíltico, em termos internacionais", demonstra, para mim, a importância de umas forças armadas, enquanto garante da soberania de uma Nação.

Transpondo isso para a realidade da Europa, seria afirmar que, enquanto uma União de Estados Membro, a Europa deveria ter o dominio de um contingente militar, constituído por forças terrestres, aéreas e navais, organizadas e sob o seu dominio.

Pois sabemos que tal não existe.

Segundo vi através do link no post, o assunto ganha força....

Os países europeus, fazem parte da NATO, que é quem, talvez, tente equilibrar as, por vezes tensas, relações EUA vs Rússia. (embora os EUA sejam um dos 12 membros fundadores, a par de Portugal)

A Rússia/URSS, com a perda dos Estados sob o seu dominio (que se deu com a queda do muro de berlim, qual efeito dómino), também enfraqueçeu o seu poderio militar, e deixou que todos vissem quão obsoletos estavam os seus equipamentos bélicos.

Putin, tem tentado a todo o custo, elevar o poderio militar do país, (as suas raízes de ex-KGB, seguramente terão um certa influência), estratégia para ganhar prestigio e importância internacional e fazer com que os outros vejam como pode ser implacável - relembro a guerra da Chéchenia, e desfexo do sequestro do Teatro de Beslam, e da escola primária -, quando acossado.

Não será de estranhar, portanto, que agora, com "essa questão dos mísseis dos EUA, ele venha contra-atacar, ameaçando, segundo dizes, virar os seus mísseis para a Europa.!

E nós, Europa, o que fazemos?

Seremos sempre os (fracos) "apaziguadores"?

Anónimo disse...

Acho que não. Devemos "crescer" políticamente, promovendo uma "política de segurança comum" forte e coesa.

Para tal, os Estados Membro têm de estar dispostos a abdicar de alguma soberania.
Delegar mais poderes a "bruxelas", pois só com coesão e a uma só voz, e respondendo com rapidez e prontidão, poderemos ombrear com os EUA, nossos tradicionais aliados, e com a Rússia.

Na questão do Irão, a Rússia, que é como quem diz, Putin, tem-se disponibilizado por diversas vezes para ser o mediador dessas "fricções" provocadas pelo programa atómico Iraniano.

Nessa "defesa" do Irão, poderá constituir a ameaça á Europa?
È sabido que a ONU votou contra p programa nuclear do Irão.

Não me recordo qual a posição assumida por Moscovo!(?)

Não sei se na definição de uma "politica de segurança comum", entra a questão do Tratado Constitucional da UE ?

Creio que sim, será um dos pontos que dele fazem parte. Não é assim, meu caro?

Rui Rebelo Gamboa disse...

É sem dúvida, um dos pontos essenciais no Tratado. Porque se, de facto, a União quer crescer politicamente e afirmar-se na cena internacional, tem que ter uma política de segurança comum, que possa, por um lado, tomar posições em questões que com esta, em que é o prórpio território europeu que está em jogo, como por outro lado, tomar posições nos principais palcos, como o fez na Macedónia ( se não estou em erro), mas que depois eclipsou-se com o caso Iraque.

É normal que os Estados tenham uma certa de dose de descofiança em relação a uma PESC que passe completamente para o plano comunitário; isto é que passe para os pilares da UE que são tutelados pelos órgãos prórpios da UE. Assim, será normal que, mesmo que o Tratado seja aprovado, a PESC tome um modelo um tanto hibrido, de "geometria variável", que tanto inclua processos comunitários, como intergovenramentais (que, como se sabe, são processos de decisão à parte dos órgãos da UE, próprios apenas dos governos dos Estados-Membros).

Por outro lado, será preciso salientar que a aprovação do Tratado acarreta o fim do modelo de pilares, onde o 1º é comunitário e os 2º (PESC) e 3º (Cooperação policial), isto dará à UE personalidade jurídica no seu todo e não apenas nas áreas do 1º pilar, como acontece agora. Podendo assim a UE celebrar Tratados. Na área PESC, em matérias como defesa e militar, manter-se-á o requisito da unanimidade. Tudo isto, no entanto, refere-se ao modelo de Tratado, que existia antes, pois pelo que sei a dupla Sarkozy/Merkel, quer fazer alterações no Tratado, mas acho que o quer manter, nas suas principais vertentes. O Tratado trará, também, uma nova figura institucional: o Ministro dos Negócios Estrangeiros da União, havendo já o Alto Representante para a Política Externa e Segurança Commum: Javier Solana.

Deixa-me falar um pouco sobre o 'caso' NATO. Esta é vista, por muita gente, como uma forma dos EUA perpetuarem a sua hegemonia na Europa e querem acabar com a NATO, achando que não faz sentido, desde o fim da Guerra Fria. Eu não partilho dessa opinião: acho, como já aqui manifestei, que a Europa tem mesmo que se afirmar e tomar para si as decisões relativas à segurança e defesa, mas acho que a NATO ainda tem um lugar importante e por isso deve continuar. Os países de Leste, quando "saíram" da URSS viram na UE o progresso económico e na NATO a defesa contra o fantasma da Rússia/URSS e isso continua a acontcer, como bem se vê neste caso, onde esses países vêem a sua segurança nos EUA e não na Europa. O desafio para a UE será, portanto, estabelecer-se como potência política e militar, para que esses países não tenham que procurar "fora de casa" a sua segurança. Há espaço para que PESC e NATO co-existam, mas com competências diferentes e isso os EUA devem aceitar. Por outro lado, a UE deve també aceitar que a aliança atlântica é positiva para a Europa. Com "cada macaco no seu galho" parece ser perfeitamente capaz que tal aconteça.

Neste âmbito, é também de realçar a posição dos EUA: por um lado dizem que a Europa tem que tomar medidas para assegurar a sua defesa, pois não podem depender sempre da NATO, onde os americanos é que investem mais; mas por outro lado, percebem claramente que, se isso acontcer, podem perder alguma da influência que detêm no nosso continente.

Já vou estou mas é alongar-me muito...

Anónimo disse...

mas isto já não é jogo para a Europa.. tanto é assim, que nem sequer há política comum, quando se trata de responder às tropelias do Putin. veja-se a Alemanha, que faz tratados unilaterais com a Rússia no que diz respeito a segurança energética...




miguel

Rui Rebelo Gamboa disse...

Como não é jogo para a Europa??

É claro que não política comum, é isso mesmo que estamos a aqui a dizer, é evidente que a Alemanha faz acordos com a Rússia, uma vez que a UE não tem personalidade juridica para o fazer, que foi o que escrevi mais acima. Aliás, faz todo o sentido que a Alemanha faça acordos com a Rússia, tal como Portugal e a Itália já o fizeram e outros também já o fizeram, no campo da energia, isso é absolutamente normal, não podem ficar à espera que a UE se torne no tal gigante político, enquanto não o for os Estados têm que salvaguardar os seus interesses nas áreas em que a UE não tem poder, ou não?

A verdade é esta e que escrevi atrás, se a Europa quer ser um actor político na cena internacional, tal como é no campo económico, tem que ter uma PESC, isso é unânime para todos, mesmo os euro-cépticos. O que estes não concordam é que a Europa seja qualquer coisa, ponto final, acreditam apenas no modelo intergovernamental, para tudo. Agora, todos sabem que não faz sentido haver um modelo comunitário para certas áreas e um modelo intergovenamental, para outras. A fase em que estamos é apenas um passo intermédio, para o processo de integração total. Ou se quer, ou não se quer.

Eu concedo muitos pontos aos euro-cépticos mas, caro Miguel, com todo o respeito, o que escreveste não faz qualquer sentido.

Rui Rebelo Gamboa disse...

Na primeira frase, deste meu último comentário, falta a palavra 'há', ou seja deve-se ler "É claro que não 'HÁ' política comum"

Anónimo disse...

mas eu quero que haja União Europeia,e não me considero sequer euro-céptico.. o que acho é que quando se fala de política energética comum, e vai-se pelas costas fazer um acordo para um pipeline com a rússia, as coisas não podem ser levadas muito a sério. E continuo a achar que esta crise com a rússia não está "aberta" à Europa; por exemplo: não convém à Europa que haja mísseis anti-balísticos no seu território, mas a Polónia e a R. Checa não hesitaram em recebê-los. e pronto, lá se vão duas premissas de uma política de defesa comum à vida. isto quer dizer que os países directores (que os há) já perceberam que o processo de integração já se esgotou, pelo menos por agora, e que o melhor é mesmo ir cada um à sua vida, fazendo o que é melhor para si. parece que ainda é o interesse nacional que "move o mundo e as outras estrelas".

respeitosamente,

miguel

Rui Rebelo Gamboa disse...

Caro Miguel,

Eu acho que esta crise tem que estar aberta à Europa (e quando digo Europa, quero dizer a UE), porque a Polónia e a Rep. Checa fazem parte da UE. Ora, como a UE não tem, de facto, uma política externa comum, nem de defesa, esses países procuram na NATO as garantias nessas áreas, que não conseguem obter da UE. Isto acontece por diversas razões, desde logo porque são países que estiveram sob o jugo da URSS, durante muitos séculos e não esquecem isso (é ver o que se passa na Polónia, com uma caça às bruxas, digna do Senador McCarty), e procuram garantir que não voltam a cair na Rússia/URSS, virando-se para a NATO, que era, como se sabe, o garante dos países europeus, na Guerra Fria, contra o comunismo e contra o Pacto de Varsóvia. Por outro lado, os EUA, têm interesses geopolíticos evidentes nos países do leste europeu, porque (tal como se demonstra nesta crise) podem atingir (destruir os mísseis) do Irão, e também ficam em cima da Rússia, que esteja ou não mais enfraquecida, em relação ao que era a URSS, continua a ser uma enorme massa terrestre, com grande capital, nomeadamente, em termos energéticos. Portanto, e esta é minha opinião, que manifestei nesta caixa de comentários, se a UE quer de facto ser uma potência política, que corresponda à sua posição de potência económica (que é), tem que dar um passo em frente e assumir estes problemas, que acontecem no seu território. Também como disse, o momento em que nos encontramos é de passagem, isto é a integração económica, tal como Jean Monet prespectivou é funcionalista, ou seja vai transbordando para outras áreas, até ser total, assim não vejo como seja possível a UE continuar a ser apenas de cariz económico e não em todas as áreas (defesa e relações externas inclusivê). Até porque se outra forma, a Europa continua a ser um joguete nas mãos dos EUA, é evidente que unidas, as forças militares de todos os países, são mais fortes que sózinhas. E com isso não quero descartar a aliança atlântica, que como disse, deve continuar, noutras áreas.

No fundo, caro Miguel, quando afirmas o seguinte:

"não convém à Europa que haja mísseis anti-balísticos no seu território, mas a Polónia e a R. Checa não hesitaram em recebê-los. e pronto, lá se vão duas premissas de uma política de defesa comum à vida. isto quer dizer que os países directores (que os há) já perceberam que o processo de integração já se esgotou, pelo menos por agora, e que o melhor é mesmo ir cada um à sua vida"

estás a dizer o que eu disse, ou seja: a UE sem o Tratado Constituciuonal não tem qualquer capacidade de se intrometer nesses assuntos, assim cada país segue o seu caminho, não podem ficar à espera, por muito que queiram. Se leres com atenção o meu último comentário verás a seguinte frase:

"faz todo o sentido que a Alemanha faça acordos com a Rússia, tal como Portugal e a Itália já o fizeram e outros também já o fizeram, no campo da energia, isso é absolutamente normal, não podem ficar à espera que a UE se torne no tal gigante político, enquanto não o for os Estados têm que salvaguardar os seus interesses nas áreas em que a UE não tem poder, ou não?"

Portanto, não estou bem a ver qual a tua posição e em que difere do que eu afirmei.

Anónimo disse...

caro rui,

"a dizer o que eu disse, ou seja: a UE sem o Tratado Constituciuonal não tem qualquer capacidade de se intrometer nesses assuntos": a diferença é que eu acho que não vai haver tratado constitucional, e se houver "mini tratado", certamente que jamais irá abranger essa área da soberania. o objectivo da UE era o mercado comum; como este já foi alcançado, não vejo como poderão os países directores, ciosos das suas prerrogativas soberanas, querer mais do que já existe. há duas semanas o antigo comissário pat cox esteve aqui em lisboa e também mostrou-se todo a favor do "aprofundamento europeu", mas não conseguiu responder a um colega meu quando este lhe perguntou se a alemanha, a frança e o reino unido abdicariam da sua política externa, em favor de um objectivo comum. por mais a favor da integração europeia que eu possa ser, o facto é que ela não irá muito mais adiante do que já foi.

miguel

Nestum disse...

Rui, muito haveria a dizer sobre este tema. No entanto, reservo-me apenas a dizer que cá está o duelo que mais me assusta no momento protagonizado pelos mesmos dois homens dos quais tenho mais medo. Um pela burridade/estupidez e o outro pelo fanatismo.
Felizmente, Bush tem os dias contados, contudo, temo bastante o Putin. Acho que tal homem tem fanatismo e loucura suficiente pra nos surpreender pela negativa.

Cumps

Nestum disse...

P.S: Adorei o pormenor tunning das orelhas no monitor :D
Vou encomendar umas orelhinhas daquelas aqui pra casa :P

Rui Rebelo Gamboa disse...

Caro Miguel,

Como viu num dos meus primeiros comentários, escrevi o seguinte:

"É normal que os Estados tenham uma certa de dose de descofiança em relação a uma PESC que passe completamente para o plano comunitário; isto é que passe para os pilares da UE que são tutelados pelos órgãos prórpios da UE. Assim, será normal que, mesmo que o Tratado seja aprovado, a PESC tome um modelo um tanto hibrido, de "geometria variável", que tanto inclua processos comunitários, como intergovenramentais (que, como se sabe, são processos de decisão à parte dos órgãos da UE, próprios apenas dos governos dos Estados-Membros)."

Parece-me ser este o caminho a seguir, com passos pequenos mas seguros. Porque, doutra forma a Europa continua a ser insipiente, em termos políticos, no panorama internacional.

Miguel, a grande desvantagem de viver nos Açores é não poder participar dessas iniciativas, que descreveste.

Bons olhos te leiam, Sérgio!

Rui Rebelo Gamboa disse...

E deixem-me acrescentar algo ao que o Sérgio disse, em relação ao Putin, mas falarei mais em relação aos russos em geral; parece que existe algum sentimento de desconforto (to say the least), relativamente ao desfecho que a Guerra Fria teve e devem querer alterar isso. Não sei mesmo se não terá razões que vão mais longe que o século XX... mas isso já é interpretação minha.

Nestum disse...

P.S.2: Aquilo das orelhas era pra ser "postado" no post dos pc´s :)
Com tanto medo (leia-se receio) do que nos reserva ou pode reservar estas cenas do próximo capítulo da novela Bush/Putin, até me enganei... Ando a precisar é de uns pastéis de nata :)