Em fase de mudanças, encontrei os livros (em fotocópias) que tive de estudar. Entre eles um essencial na Filosofia Política, “A Rebelião das Massas” do espanhol Ortega y Gasset (1883-1955), que aborda as várias transformações políticas e sociais, essencialmente na Europa dos finais dos anos ’20, mas sempre atento à História. Eis algumas passagens do capítulo XIII, “O maior perigo, o Estado”, que pode ser significativo nos nossos dias...
“Discuta-se quanto se queira quem são os homens excelentes; mas que sem eles – sejam uns ou outros – a humanidade não existiria no que tem de mais essencial, é coisa sobre a qual convém que não haja dúvida alguma.”
“Não se trata de uma opinião fundada em factos mais ou menos frequentes e prováveis, mas numa lei da “física” social, muito mais incomovível que as leis da física de Newton. No dia em que volte a imperar na Europa uma autêntica filosofia – única coisa que pode salvá-la –, compreender-se-á que o homem é, tenha ou não vontade disso, um ser constitutivamente forçado a procurar uma instância superior. Se consegue por si mesmo encontrá-la, é que é um homem excelente; senão, é que é um homem-massa e necessita recebê-la daquele.”
“O Estado contemporâneo é o produto mais visível e notório da civilização. E é muito interessante, é revelador, precatar-se da atitude que ante ele adopta o homem-massa. Este vê-o, admira-o, sabe que está aí, garantindo a sua vida; mas não tem consciência de que é uma criação humana inventada por certos homens e mantida por certas virtudes e por certo que houve ontem nos homens e que pode evaporar-se amanhã. Por outro lado, o homem-massa vê no Estado um poder anónimo, e como ele se sente a si mesmo anónimo vulgo –, crê que o Estado é coisa sua. Imagine-se que sobrevem na vida pública de um país qualquer dificuldade, conflito ou problema: o homem-massa tenderá a exigir que imediatamente o assuma o Estado, que se encarregue directamente de resolvê-lo com seus gigantescos e incontrastáveis meios. Este é o maior perigo que hoje ameaça a civilização: a estatificação da vida, o intervencionismo do Estado, a absorção de toda espontaneidade social pelo Estado; quer dizer, a anulação da espontaneidade histórica, que em definitivo sustenta, nutre e impele os destinos humanos. Quando a massa sente uma desventura, ou simplesmente algum forte apetite, é uma grande tentação para ela essa permanente e segura possibilidade de conseguir tudo – sem esforço, luta, dúvida nem risco – apenas ao premir a mola e fazer funcionar a portentosa máquina.(...) O resultado desta tendência será fatal. A espontaneidade social ficará violentada uma vez e outra pela intervenção do Estado; nenhuma nova semente poderá frutificar. A sociedade terá de viver para o Estado; o homem, para a máquina do Governo. E como no final das contas não é senão uma máquina cuja existência e manutenção dependem da vitalidade circundante que a mantenha, o Estado, depois de sugar a medula da sociedade, ficará héctico, esquelético, morto com essa morte ferrugenta da máquina, muito mais cadavérica que a do organismo vivo."
“Discuta-se quanto se queira quem são os homens excelentes; mas que sem eles – sejam uns ou outros – a humanidade não existiria no que tem de mais essencial, é coisa sobre a qual convém que não haja dúvida alguma.”
“Não se trata de uma opinião fundada em factos mais ou menos frequentes e prováveis, mas numa lei da “física” social, muito mais incomovível que as leis da física de Newton. No dia em que volte a imperar na Europa uma autêntica filosofia – única coisa que pode salvá-la –, compreender-se-á que o homem é, tenha ou não vontade disso, um ser constitutivamente forçado a procurar uma instância superior. Se consegue por si mesmo encontrá-la, é que é um homem excelente; senão, é que é um homem-massa e necessita recebê-la daquele.”
“O Estado contemporâneo é o produto mais visível e notório da civilização. E é muito interessante, é revelador, precatar-se da atitude que ante ele adopta o homem-massa. Este vê-o, admira-o, sabe que está aí, garantindo a sua vida; mas não tem consciência de que é uma criação humana inventada por certos homens e mantida por certas virtudes e por certo que houve ontem nos homens e que pode evaporar-se amanhã. Por outro lado, o homem-massa vê no Estado um poder anónimo, e como ele se sente a si mesmo anónimo vulgo –, crê que o Estado é coisa sua. Imagine-se que sobrevem na vida pública de um país qualquer dificuldade, conflito ou problema: o homem-massa tenderá a exigir que imediatamente o assuma o Estado, que se encarregue directamente de resolvê-lo com seus gigantescos e incontrastáveis meios. Este é o maior perigo que hoje ameaça a civilização: a estatificação da vida, o intervencionismo do Estado, a absorção de toda espontaneidade social pelo Estado; quer dizer, a anulação da espontaneidade histórica, que em definitivo sustenta, nutre e impele os destinos humanos. Quando a massa sente uma desventura, ou simplesmente algum forte apetite, é uma grande tentação para ela essa permanente e segura possibilidade de conseguir tudo – sem esforço, luta, dúvida nem risco – apenas ao premir a mola e fazer funcionar a portentosa máquina.(...) O resultado desta tendência será fatal. A espontaneidade social ficará violentada uma vez e outra pela intervenção do Estado; nenhuma nova semente poderá frutificar. A sociedade terá de viver para o Estado; o homem, para a máquina do Governo. E como no final das contas não é senão uma máquina cuja existência e manutenção dependem da vitalidade circundante que a mantenha, o Estado, depois de sugar a medula da sociedade, ficará héctico, esquelético, morto com essa morte ferrugenta da máquina, muito mais cadavérica que a do organismo vivo."
5 comentários:
Quero acreditar que nâo sou homem-massa!
É daqueles textos que nos faz pensar e, até, temer pelo futuro das sociedade, em que o Estado é muito presentes, e onde proliferam homens-massa.
Acabam por ser esses mesmos, a rebentar com o Estado e a torná-lo "esquelético".
Bom excerto para reflecção.
caro rui,
conhecendo o livro em questão, acho que aquilo que mais preocupava Ortega y Gasset era a massificação no sentido da democratização: o senhor gasset, que era aliás aristocrata, cita o exemplo do médico, e da maçada que era toda a gente passar a ir ao médico, e imagine-se, de ele ter de marcar consulta e esperar..
Pois, a avaliar pelas palavras do Jacobino, o aristocrata Ortega y Gasset, vê mesmo a sociedade por um prisma diferente......e assustador!
Caro Jacobino,
Por certo notou as frases que realcei. E nisso o Ortega Y Gasset tem razão, pois não ha nada pior que o estaticismo que se apodera da soceidade, por via do intervencionismo do Estado.
E, tendo em conta o seu "nick", estou certo que todo o pensamento do Gasset não é do seu gosto. O igualitarismo era mesmo uma coisa que o Gasset abominava... e até certo ponto, eu também.
caro rui, nao ligue ao nick; escolhi-o só por ser engraçado :)
quanto ao Ortega e Gasset, acho que a visão dele é a da aristocracia sobre os processos sociais que à altura ameaçavam o seu modus vivendi (deve ser dos poucos tiques jacobinistas que tenho)
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