Na (agora) minha biblioteca, encontrei um livro surpreendente. Revolucionários que eu conheci, de Vera Lagoa, de 1977, da editora Intervenção. Em nota introdutória, a autora explica que algumas das histórias foram publicadas no semanário O País, onde trabalhava e que Mário Soares declarou em público que “a divulgação que vinha fazendo sobre o que tinham sido e o que eram esses homens era um serviço que prestava ao país”.
Cada capítulo do livro é dedicado a uma figura, nas palavras do editor, a um “revolucionário de pacotilha”. Pessoas que, segundo a autora, viraram comunistas no período entre o 11 de Março e o25 de Novembro. Entre os visados contam-se José Carlos Ary dos Santos, Luíz Francisco Rebello, Urbano Tavares Rodrigues, Luís Sttau Monteiro, Baptista Bastos, entre outros.
Para se ter uma ideia daquilo que Vera Lagoa escreve neste livro deixo algumas passagens, que espero serem elucidativas.
Sobre Urbano: “a tua colaboração íntima e ternurenta com altas figuras do regime deposto (…) Gabavas-te de Salazar ter prestado homenagem à tua prosa (…) Eras um homem sem espinha dorsal (…) Agora és PC convicto. Que assim continues é o que desejo, porque ao menos sempre tinhas uma atitude definitiva. Mas se o PC se apaga? Adeus suave Urbano, nosso antigo Urbano nacional”
Sobre Ary dos Santos: “(…) não sei se é filiado no PC ou não. Parece que esse partido não aceita pessoas com certas tendências ou vícios (…) em Paris, no ano de 1976, Ary dos Santos declarou “Nunca ganhei tanto dinheiro como agora. Que querem? Sou um oportunista e não me importo de o dizer” (…) após o 25 de Abril disse que tinha sido preso pela PIDE! Como foi confundir a PIDE com a Polícia de Costumes, que, de facto, o prendeu (…) Quando ganhou o Festival da Canção, deu uma entrevista à Rádio da Guiné, na qual dedicou a vitória às tropas que ali combatiam, designadamente a alguém que ele diz ser seu irmão e estar algures no mato. Como se sabe, com a morte de Diogo, Zé Carlos ficou sem irmãos (…) Um dia virá em que me procurarás dizendo que estavas enganado e que o PC te tinha iludido. Não. Ninguém iludiu ninguém. Os oportunistas nunca são iludidos”
Uma leitura fácil, mas intrigante. Deve ser analisado com a necessária perspectiva histórica. Não se pode imaginar hoje um livro ou artigos desta natureza sobre os principais nomes da nossa cultura e política, pela simples razão que o tempo tornou-nos “civilizados”.
Cada capítulo do livro é dedicado a uma figura, nas palavras do editor, a um “revolucionário de pacotilha”. Pessoas que, segundo a autora, viraram comunistas no período entre o 11 de Março e o25 de Novembro. Entre os visados contam-se José Carlos Ary dos Santos, Luíz Francisco Rebello, Urbano Tavares Rodrigues, Luís Sttau Monteiro, Baptista Bastos, entre outros.
Para se ter uma ideia daquilo que Vera Lagoa escreve neste livro deixo algumas passagens, que espero serem elucidativas.
Sobre Urbano: “a tua colaboração íntima e ternurenta com altas figuras do regime deposto (…) Gabavas-te de Salazar ter prestado homenagem à tua prosa (…) Eras um homem sem espinha dorsal (…) Agora és PC convicto. Que assim continues é o que desejo, porque ao menos sempre tinhas uma atitude definitiva. Mas se o PC se apaga? Adeus suave Urbano, nosso antigo Urbano nacional”
Sobre Ary dos Santos: “(…) não sei se é filiado no PC ou não. Parece que esse partido não aceita pessoas com certas tendências ou vícios (…) em Paris, no ano de 1976, Ary dos Santos declarou “Nunca ganhei tanto dinheiro como agora. Que querem? Sou um oportunista e não me importo de o dizer” (…) após o 25 de Abril disse que tinha sido preso pela PIDE! Como foi confundir a PIDE com a Polícia de Costumes, que, de facto, o prendeu (…) Quando ganhou o Festival da Canção, deu uma entrevista à Rádio da Guiné, na qual dedicou a vitória às tropas que ali combatiam, designadamente a alguém que ele diz ser seu irmão e estar algures no mato. Como se sabe, com a morte de Diogo, Zé Carlos ficou sem irmãos (…) Um dia virá em que me procurarás dizendo que estavas enganado e que o PC te tinha iludido. Não. Ninguém iludiu ninguém. Os oportunistas nunca são iludidos”
Uma leitura fácil, mas intrigante. Deve ser analisado com a necessária perspectiva histórica. Não se pode imaginar hoje um livro ou artigos desta natureza sobre os principais nomes da nossa cultura e política, pela simples razão que o tempo tornou-nos “civilizados”.
2 comentários:
Ludwig Wittgenstein- Cultura e valor :
"É bom que eu não me permita ser influenciado."
"O meu ideal é uma certa frieza.Um templo que proporcione um fundo para as paixões, sem com elas se imiscuir"
Parece-me que há uma certa diferença entre pessoas com ideias que chegam à política e a política que chega às pessoas sem ideias.
Bom destaque, Rui.
Vera Lagoa, pseudónimo de Maria Armanda Falcão, foi sempre uma voz muito interventiva, o que lhe valeu variados processos movidos pessoas descontentes com o que escrevia.
Houve quem abonasse a "sua pena ao serviço da liberdade e Independência do país", numa época muito conturbada da nossa História recente.
Fazem falta "penas" deste calibre, é o que me apraz dizer...
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