14 março 2008

Mau Ambiente

Quando se começa a estudar relatórios e estudos relativos às alterações climáticas, é impossível não ficar com um nó no estômago. A situação, como se sabe, não é irreversível e tal como o Relatório Stern mostrou, há até hipótese de retirar dividendos económicos da situação, se se souber agir em conformidade e a tempo. Uma coisa esse Relatório provou: sairá muito mais caro a não tomada de acções para reverter a situação ambiental.
Posso apenas comentar a situação na América Latina e Caraíbas, que apesar de ser da maior importância e merecer da Comissão bastantes recursos, não é, no entanto, a prioridade. A prioridade é Copenhaga.
Em 2007, o Painel Intergovernamental para Alterações Climáticas indentificou uma série de ameaças-chave: atlerações nos padrões de precipitação; o desparecimento de glaciares na América Latina que afectam significativamente os recursos de água para consumo humano, para a agricultura e para gerar energia. Mas também há que contar com a diminuição das colheitas agrícolas e de criação de gado, que terão consequências para as capacidades de exportação daqueles países, bem como para a segurânça alimentar e há ainda elevados riscos de perda de biodiversidade, devido à extinção de espécies nas zonas tropicais da América Latina.
Nas Caraíbas mais de 50% da população vive a menos de 1.5km da costa, o aumento do nível do mar, levará a inundações, tempestades, erosão e outros perigos para as zonas costeiras, afectando assim as infraestruturas e os ecossistemas, ameaçando os recursos piscatórios, que são o suporte de vida de comunidades inteiras. Nas Caraíbas também se sofrerá a falta de água, que será insuficiente nas épocas de seca.
Todos estes fenómenos terão um forte impacto nas economias, sendo as principais vitímas as populações mais vulneráveis, o que afectará definitivamente os esforços políticos que têm sido feitos para o desenvolvimento daquelas sociedades e para a irradicação da pobreza.
Os resultados das avaliações que a Comissão Europeia tem financiado mostram que a primeira área a trabalhar é a de ajudar as populações locais a encontrarem formas sustentáveis de utilização dos recursos naturais. Por outro lado, há a necessidade de assegurar que os Governos locais incluem completamente as questões ambientais nas suas estraégias e políticas relativas à redução da pobreza.
Esta é a realidade naquela parte do mundo apenas. Uma realidade comprovada com estudos e relatórios. A vontade da União Europeia em trabalhar conjuntamente com os países em questão é inegável e pode ser observada na quantidade de programas que são financiados, tanto na ajuda directa às populações, como na construção de infra-estruturas e na pesquisa.
Agora, há uma questão deveras importante: nós não podemos estudar os dossiês nos dias em que o Conselho reúne. O vai e vem de carros e motos da Polícia com as sirenes a abrir caminho para os líderes europeus, só levam à desconcentração. Sugeria que se reunissem no deserto e nos deixassem trabalhar em paz.

2 comentários:

Anónimo disse...

Carissímo, vejo que te inteiras com rapidez das questões mais sensíveis, como é este o caso.
Nada que me impressione, pois sei que tens estado cheio de trabalho.

Muito trabalho = muita informação ;)

O Ambiente pode ser a bandeira da Europa, e pode - como parece atestar o Relatório Stern -, trazer dividendos para os Estados Membro.

No entanto há quem defenda - cientistas, entenda-se -, que, mesmo parando por completo a emissão de gases poluentes para a atmosfera, continuariamos a sentir ops efeitos da poluição (já emitida) pelos menos por mais 100 anos. Um século!!!!

Ainda há dias vi na TV um documentário que dava conta do rápido degelo no Chile, creio que na Patagónia, onde um grande glaciar já perdeu grande parte do seu gelo, e, a continuar o actual ritmo (elevado) de degelo, acabará por desaparecer dentro de cerca de 50 anos. Um verdadeiro perigo ambiental, cujas causas estão já identificadas.

Idêntificas no post uma série de consequências nefastas do aquecimento global; pois bem, temos todos, juntos e individualmente, de contribuir para que o Planeta Terra, a nossa "casa", possa continuar equilibrado.

A àgua é um bem cada vez mais escasso, e alguns arriscam que, lá para o final deste século, esta será mais cara do que o petróleo....

O clima anda mesmo alterado. Os animais sentem-no, e, ao contrário de nós, não têm capacidade para se adpatr e alterar os seus hábitos com tanta rapidez.
Os ursos do polo norte são um exemplo, estudado, dessa triste realidade.

Ainda bem que a UE enfrenta, de frente, este grave problema, e muito me apraz registar que muitos dos apoios aos países da América Latina se destinam a financiar projectos desta índole.

Quanto ás sirenes.....aguenta-te, pois os grandes centros concentram o melhor e o pior. O reboliço por aí, está nos antipodas da calmaria invernal da tua praia do Pópulo.

N.B.- continua a mandar novidades por e-mail.

Um grande abraço.

Rui Rebelo Gamboa disse...

Reporto-me à situação na América Latina e Caraíbas. Porque se formos falar da situação a nível planetário, as coisas são muito mais preocupantes. É impossível fugir da China e Índia. O problema é que querem a qualidade de vida que há na Europa e EUA (e com razão, digo eu), mas a energia necessária para tal, pode agravar exponencialmente a actual situação ambiental. No entanto, a UE já apresentou a solução para criar centrais amigas do ambiente (não me perguntes como), que, no entanto, são muito caras. A UE vai também entrar no pagamento da factura. É fácil percebermos porque interessa à UE financiar tais projectos. A situação geral do Planeta é a 1ª razão, mas a imigração é também um ponto muito importante.

Preocupa-me, por um lado, que este tipo de assunto não suscite interesse nos açorianos. Por outro, é aliviante, porque comprova que estes perigos ainda não afectam a nossa casa.

Entretanto (e tentarei escever sobre o assunto) estive presente na minha primeira negociação pura e dura, com todos os países da Amércia Latina e Caraíbas representados pelos seus embaixadores junto da União e esta representada pela Presidência Eslovena, pelo Conselho e por 3 membros da Comissão em que um era aqui o teu amigo. Debateu-se a Declaração final a apresentar aos Chefes de Estado na CImeira de Lima. Os países da América Latina tinham enviado o seu draft text há algum tempo e nós fizemos a nossas alterações há duas semanas. Hoje foi o dia do 1º frente a frente para debater, parágrafo a parágrafo, todas as questões até ao último pormenor. Estas reuniões são extremamente cansativas e exigem uma enorme preparação prévia, para podermos responder a tudo, com a devida documentação. No fim, penso serem autenticas maratonas, em que as partes no fim estão de tal forma cansadas que podem fazer conceder em alguns pontos que arrependem-se no dia seguinte. Felizmente, a Directora da RELEX é extremamente experiente e dura quando necessário. Já o representante da Presidência eslovena pareceu-me algo inexperiente (apesar de ter alguma idade).

Apesar de ser uma experiência extremamente cansativa, é um privilégio muito enriquecedor fazer parte deste mundo. Felizmente, os que festejam a Páscoa, como é evidentemente o meu caso, terão uns dias de descanço. Apesar de poder dormir mais qq coisa, terei ainda assim que continuar a preparar estas negociações, que retomam na semana dps das mini-férias.

Abraço!