12 março 2008

Pedaços da nossa História

Este Blog é made in Açores, bem como os seus autores. A minha, ainda, curta existência, conheceu estas Ilhas respirando os ventos da Liberdade, saboreando as benesses da Democracia, e já com electricidade e TV a preto e branco. Sempre rumei à capital de avião. Não tive de passar pelo martírio de uma viagem de barco até à metrópole.

Mas nem sempre foi assim, pois no passado, viver nos Açores era uma autêntica aventura, só agarrada pelos que fugiam de tudo, em busca, somente, de algo mais do que o simples “nada”.

No livro “A Pátria Açoreana” de Gervásio Lima, encontro um trecho que se suporta no relato do padre António Cordeiro, que ilustra bem os Açores de então; “Os Açores! Se eles eram desabitados, de natureza selvática, oscilantes, mal seguros, agitados pelo fogo, batidos de todos os ventos, açoitados pelo mar em todos os contornos das suas nove Ilhas…Sem tesoiros para seduzir e enriquecer avaros, servindo contudo, como nota um escritor nosso, para engordar magros bolsos de governadores arruinados; sem rios que fertilisassem os campos na rega natural e fácil, poetizando lugares; antes, se viam ribeiras bravias e esquálidas, onde correra, rugindo, escaldante, a língua de fogo em labaredas devoradora…sem minas para a exploração, sem escravos para a traficância mercantil nem indígenas para escravisar…sem oiro nem pedrarias…Bem ao contrário, lavas chamejantes, crateras rubras ainda de vulcões em ebulição permanente, terrenos ásperos e irrequietos, rochedos inacessíveis, matagaes espessos e eriçados de espinhos, algares pavorosos; rugidos formidandos, saindo do centro da terra, semelhavam vozes de domonios."

Era, como se pode ler, uma vida dura e perigosa..........e sem grandes alvíssaras.

Inicio, hoje, com este post, uma série de apontamentos soltos e espaçados no tempo, que visam destacar situações, episódios ou contingências de um passado que é, também ele, o meu.

Começo, como não podia deixar de ser, pelo início, ou seja, pelo Descobrimento dos Açores.

Os Açores foram descobertos em 1427, crê-se que por Diogo Silves, durante os anos dourados das Descobertas, quando reinava em Portugal o infante D. Henrique. Este último incumbiu Frei Gonçalo Velho do povoamento das Ilhas – essencialmente por minhotos, algarvios, madeirenses e fidalgos da Flandres –, que teve início em 1439, atribuindo-lhe certos privilégios, tais como, o de Comendador das Ilhas dos Açores.
À época eram conhecidas sete Ilhas, só tendo os navegadores portugueses Diogo de Teive e seu filho, João de Teive, avistado as Ilhas mais a Ocidente, corria já o ano de 1452.


O escritor Açoreano Manuel da Câmara, escreveu sobre as suas ilhas; “Se não saíram do fundo do mar, caíram do céu.”
N.B.- Há Historiadores que atribuem o Descobrimento das ilhas Açoreanas a Gonçalo Velho, e não a Diogo Silves.

6 comentários:

João Ricardo Vasconcelos disse...

Boa iniciativa. Sugiro uma passagem pelo incontornável "Saudades da Terra" de Gaspar Frutuoso. A leitura dos seis volumes deve ser hercúlea, mas a sua simples consulta de vez em quando revela-se uma delicia.

Anónimo disse...

Caro JRV,

sem dúvida uma boa sugestão. Obrigatória mesmo.

Gaspar Frutuoso foi quem melhor e mais detalhadamente escreveu sobre os Açores nos seus primórdios, com especial realce para a sua Ilha, S. Miguel.

É comummente aceite ser ele o maior cronista Açoreano.

Tenho alguns volumes para consulta, e seguramente surgirão, posts em que me irei socorrer das cronicas desse grande Historiador.

Cumprimentos.

Rui Rebelo Gamboa disse...

A minha experiencia com as Saudades da Terra não é tanto de leitura, é sim de escuta. Ou seja, tive o trabalho muito facilitado, pois era-me lidas e mesmo contadas as estórias dessa grande obra.

É inacreditável o desinteresse relativo à nossa História. Evidentemente, deveria haver uma cadeira obrigatória nas escolas açorianas de História dos Açores. Estamos a falar da nossa indentidade comum. Tem que ser fomentado o interesse na investigação.

Anónimo disse...

Companheiro, você ainda tem com que se identificar e isso é um bem maior.

Anónimo disse...

essa frase de manuel da camara é excelente...

Anónimo disse...

Errata: no post, há um erro por omissão.

O Rei de Portugal, na época da Descoberta dos Açores, era D. João I, que Reinou de 1357 a 1433.
O seu filho, infante D. Henrique, duque de Viseu, que ficou conhecido pelo "navegador", foi quem impulsionou a navegação e, com ela, a gloriosa epopeia dos Descobrimentos Portugueses.