Compreendo que este tipo de assunto não tenha grande interesse para muita gente, mas como é neste tipo de documentos que ando megulhado nas últimas semanas, aqui vai mais um.
Desta vez, um telegrama oficial do Chefe da Legação Alemã em Lisboa (no fundo o Embaixador alemão em Lisboa), o Barão von Hoyningen-Huene, para o Auswärtiges Amt (Ministério dos Negócios Estrangeiros), datado de 13 de Maio de 1943. É necessário ter em linha de conta que nesta altura a IIWW já corria a favor dos Aliados. E que, principalmente, devido ao sucesso dos Aliados no Norte de África, uma invasão à Península Ibérica já era uma ameaça praticamente colocada de parte. A grande ameaça que ainda se colocava aos Aliados era a campanha dos submarinos alemães no Atlântico, que impediam o transporte de equipamento, tropas e tudo o resto para a Europa e que impediam o planeamento de uma invasão em território europeu, como o que se veio a verificar no dia D.
"(...) Aproveitei a oportunidade da visita de hoje para falar ao primeiro-ministro (Salazar) sobre rumores que surgem continuamente de uma pressão americana ou inglesa sobre Portugal por causa da instalação de bases nos Açores e em Cabo Verde. Salazar replicou categoricamente que podia voltar a assegurar-me hoje que de maneira nenhuma uma pressão semelhante tem sido exercida. À informação que lhe apresentei mais adiante, segundo a qual os americanos tencionavam enviar tropas brasileiras para os Açores para os ocupar, Salazar respondeu que tinha simplesmente ouvido que tropas brasileiras deviam ser enviadas para África. No caso de um procedimento contra os Açores, os portugueses iriam naturalmente defender-se.
No contexto de informações segundo as quais os americanos teriam a intenção de encenar distúrbios nos Açores com o objectivo de provocar a separação da metrópole, é interessante uma das circulares divulgada confidencialmente à Legação, que o ministro português do Interior dirigiu aos governadores civis do continente e ilhas. Nesta carta, o ministro informa que estariam a ser documentados alguns incidentes nos Açores, que teriam sido causados abusando de privilégios provinciais. O governador civil de Ponta Delgada, que tinha sido chamado a Lisboa para prestar informações, teria voltado aos Açores com plenos poderes especiais. Agora trata-se mais do que nunca de impedir que a ordem e disciplina sejam destruídas de alguma maneira nas ilhas, e todos os culpados, sejam eles nacionais ou estrangeiros, devem ser tratados com a maior severidade.
Huene"
Convém apenas acrescentar que o pedido oficial de facilidades nos Açores foi feito pelos ingleses no dia 18 de Junho de 1943, chegando à ilha Terceira no dia 8 de Outubro do mesmo ano.
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