16 maio 2009

Angola; clã Dos Santos

Angola é uma democracia encapotada. Lembro-me bem de uma “benesse” que o primeiro Governo a tomar conta dos destinos do país – pós guerra civil entre MPLA e UNITA -, e, consequentemente, do Parlamento Nacional, que teve por base a concessão a cada deputado nacional de um automóvel Mercedes. Foi uma medida para agradar a todos e calar algumas vozes potencialmente incómodas. Resultou! Aquilo a que se tem assistido é a uma oposição calada, envergonhada e colaborante, pois os benefícios também a ela chegam. Até no último acto eleitoral essa realidade foi patente. Por isso, o clã Dos santos continua a tomar conta do país a seu bel-prazer, e com dividendos nunca possíveis numa verdadeira democracia.
Preocupante é que, mesmo em Portugal, se teima em não penalizar o crime de enriquecimento ilícito, como se a inversão do ónus da prova não fosse de encontro ao combate à corrupção e resultasse em benefício do interesse público.

A protecção também absorve os amigos que forneciam as armas ao regime que toma conta dos destinos de Angola. Quem não se recorda do amparo ao comerciante de armas francês Pierre Falcone, com mandado de captura internacional, e que o Governo Angolano teve o desplante de o colocar como representante do país nas UNESCO, concedendo-lhe, deste modo, imunidade diplomática. Para família e amigos há sempre lugar....

Os proventos dos que gerem e detêm o lucro dos vastos recursos naturais desta grande potência Africana, continuam nas mãos de um restrito número de privilegiados, curiosamente – ou talvez não -, todos familiares ou pessoas muito próximas do presidente de Angola. (Já aqui aflorados num post em 2007).

Chegou a falar-se da possibilidade (ou convite?) de uma das filhas de José Eduardo dos Santos, adquirir o Hotel Casino que se encontra em fase de conclusão na cidade de Ponta Delgada. Obra que, em minha opinião, representa um verdadeiro atentado arquitectónico e paisagístico na cidade de Ponta Delgada.

Mas o clã Dos Santos, para além da participação em várias grandes empresas e bancos em Portugal, também continua a fazer crescer o seu poderio em território Angolano, conforme atesta esta notícia no Semanário Económica de hoje. Ou seja, Isabel dos Santos, primogénita do presidente Angolano, e abastada empresária, continua a ser uma parceira apetecível para empresas portuguesas, pois prepara-se, agora, para ser a cabecilha do Grupo ZON em território Angolano.

Mais um dúbio negócio, com sabor a proteccionismo, e com a bênção dos interesses económicos – desta feita, portugueses -, em território Angolano, onde os apelidos parecem ter mais força do que o mercado livre. As portas abrem-se ou fecham-se ao sabor das conveniências de quem é Rei e senhor de uma das maiores nações Africanas.

A Ética parece já não interessar no mundo dos negócios dos tempos modernos, pois o lucro é quem mais ordena. Onde há petróleo e diamantes, tudo se resolve sem levantar ondas, pois com mar manso os cidadãos ficam serenos, logo cegos, e os pervertidos têm a margem de manobra desejada.

Quem perde com esta falta de Ética?

9 comentários:

rui raposo disse...

como não percebo nada do "clã Dos Santos", queria só fazer uma pergunta sobre outro assunto que falas no post:
- em que é que o Casino é diferente dos outros dois hoteis da marginal para merecer o estatuto de atentado paisagístico?

cumprimentos,

rui raposo

Pedro Lopes disse...

Caro Rui Raposo,

o local onde este se encontra, e a sua altura e arquitectura pouco consequente com aquele local, são, na minha modesta opinião, um atentado paisagístico.

O Hotel Marina e o Açores Atlãntico - penso que é a estes que te referes -, são, para mim, o limite nascente de construções deste tipo e volumetria.

Ademais, sempre fui defensor de uma lógica hoteleira para os Açores, que deslocasse os Hóteis para fora do meio urbano, pois assim, além de não sobrecarregarem a malha urbana de Ponta Delgada (no caso concreto), representariam uma mais valia para quem nos visita, por se fixarem no campo e/ou junto ao mar. É a natureza e o mar, que nos distingue de outros pontos turisticos.
Porquê ali, onde já existem tantos, de igual formato.?

Este tipo de hóteis encontramos em qualquer parte do mundo,não nos diferenciando, pela positiva, de outros destinos turisticos.

O Hotel Casino, é uma autêntica parede que faz "sombra" à marina de PDL, causando uma espécie de claustrofobia a quem lá se enconra.

E também sou contra Casinos no geral, e nos Açores em particular.

São opiniões, e cada um tem direito às suas.

Cumprimentos.

Unknown disse...

Caro Pedro,

Tens toda a razão, só depois do teu comentário vi a data do teu post. Já retirei. ;)

PS-Corre para o bilhete. Vai ser um espectáculo!

garganta funda.... disse...

O video da nossa vergonha:

http://www.youtube.com/watch?v=KUWf1aqn2wQ

Não há Sorte de Varas.

Srs deputados propentes, demitam-se!

Menina da Rádio disse...

Sou suspeita para falar do casino porque ele tirou a vista de minha casa, mas...concordo que é um edifício que parece engolir tudo à sua volta, mesmo quando circulamos de carro! Tem a vantagem de fazer outras construções parecerem elegantes.

Rui Rebelo Gamboa disse...

Mas como tentar inverter essa tendência do desparecimento da Ética no mundo dos negócios? Regular em termos legais, impondo limites éticos? Ou, da forma como as coisas se encontram e neste mundo globalizado, países ou regiões, não fazerem negócios com governos como o angolano, deixando que outros o façam?

Pedro Lopes disse...

Caro Rui,

Respondendo, eu, há pergunta com que termino o meu post, eu digo que é o povo Angolano quem mais perde com esta vergonhosa. Pois o clã Dos Santos continua a ser criticado em surdina, mas - lá está -, não falta quem queira, também, a sua fatia desse enorme bolo que são as riquezas dessa nação.....aliás, as riquezas do Presidente, seus famiiares e amigos.

Em tempo de festas em honra do Senhor Santo Crosto dos Milagres, posso acrescentar que, se há coisa que a fé e devosão nos dá, é a imposição de limites morais e éticos.

Na Venezuela passasse o mesmo, todos olham para Chavez como uma presidente lunático, mas como é ele quem manda no país e seus recursos naturais, não falta quem baixe a guarda na sua moral, e esteja disposto a passar por cima das mais elementares regras éticas.

Mais uma vez quem perde é o cidadão comum, afinal aquele que trabalha para enriquecimento dos corruptos e desavergonhados.

A regulação dos mercados - que falhou redondamente em portugal e um pouco por todo o Ocidente -, também tem uma palavra a dizer.
A imposição de limites é, numa economia capitalista e neo liberal, difícil de concretizar. Mas a continuarmos por estes sombrios e tumultuosos caminhos, a tendência será o engrandecimento dos déspotas (e a sua perpétuação no poder) e o aumento do fosso entre estes ricos imorais, e os povos trabalhadores.

Também na Rússia - pós queda da URSS -, surgiram os oligarcas, que tomaram em suas mãos as riquezas/ indústrias em seu beneficio.

Depois surgem as fusões entre grandes empresas, que somente servem para abafar as mais pequenas e criar oligopólios (quando não mesmo, monopólios) e concertações de preços, como vimos na questão do petróleo e gasolineiras recentemente.

Assim não vamos lá!!

Rui Rebelo Gamboa disse...

Pois é, meu caro, eu compreendo que assim não vamos lá. Mas impor limites legais sob o critério da Ética não será muito fácil.

Por outro lado, um país como Portugal, ou uma região como os Açores, ou outra qualquer, tendo a oportunidade de fazer negócios com alguém que, estando legal perante o Direito Internaciona, se bem que com uma nuvem suspeita sobre si relativamente às actividades que tem no seu país de origem, acho bem que concretize esse negócio, pois, como disse, doutra forma, essa pessoa (ou grupo) passará a outro país ou região e fará o tal negócio, para bem da população dessa outra pais/região.

Evidentemente, eu compreendo o que dizes, mas não condeno nem o governo português por fazer negócios com o governo venezuelano, nem qualquer outro negócio que se faça com alguém do clã dos Santos. Outras formas deverão existir para impedir que esses déspotas sigam no poder, como intervenção da ONU, ou um acordo entre todos os intervenientes do mundo dos negócios internacionais (seja governos, seja outra coisa qq) para não fazer negócio com eles. Sendo que esta última hipotese será sempre muito difícil de conseguir.

Pedro Lopes disse...

Rui,

talvez o "Clube Bilderberg" consiga essa proeza; a de impedir que alguns Estados e empresas sejam cúmplices desses Governos corruptos e desonestos. ;)