27 maio 2009

Bater no Ceguinho

Parece que já está mais do que provado que um voto dos açorianos no PS nas Europeias será quase uma traição aos nossos princípios autonómicos. Para os próprios socialistas açorianos, votar no PS nas Europeias criará, no mínimo, uma comichão chatinha atrás da orelha. Senão vejamos, quando Vital Moreira, num dos seus já míticos artigos anti-autonomias, diz que “continua a prevalecer nas regiões autónomas, sem grandes diferenças entre elas e entre as diversas forças políticas regionais, o entendimento de que elas só têm direitos e nenhumas obrigações” (2008) está, evidentemente, a colocar tudo dentro do mesmo saco, desde o PS Açores ao PSD Madeira e está a colocar ao mesmo nível Carlos César e Alberto João Jardim. É claro que eu não tenho a mesma opinião que Vital, mas eu não penso votar nele, de qualquer das formas.


Por outro lado, na Madeira, o PS, nestas Europeias, tem ainda mais problemas que nos Açores (por muito complicado que seja acreditar nisso). É que o candidato madeirense dos socialistas dificilmente será eleito, uma vez que foi colocado num desprezante 11º lugar da lista (só mesmo se Ana Gomes e Edite Estrela não forem para o PE é que o madeirense terá uma réstia de hipótese). Isto só prova que o PS não encara os Açores e a Madeira como Regiões Autónomas com especificidades próprias, que necessitam de ter representação firme e sua na UE. Não, o PS olha para as ilhas com o vulgar desdém de quem está na política apenas com interesses próprios e não para a defesa intransigente do bem-estar das populações e note-se que só concede aos Açores um deputado europeu, porque César ainda está no poder. Mas que fique registado: hoje foi a Madeira, amanhã poderão ser os Açores!


Mas mesmo sem falarmos nos Açores e na Madeira, parece que Vital Moreira não granjeia simpatias em praticamente nenhum quadrante da sociedade política portuguesa, a não ser, claro, em Sócrates e os seus yes-men/women-câncio. À esquerda, é visto (e muito justamente) como um traidor, à direita é visto como um ex-comunista. Como se tudo isto não bastasse, o senhor é completamente ridicularizado pelos seus adversários nos debates. Até meteria pena, não soubéssemos nós a peça que está debaixo daquele ar bonacheirão de Avô Cantigas em câmara lenta.

11 comentários:

Toupeira Real disse...

O problema é que os socialistas açorianos por ordem do Chefe.Mor irão fazer como os comunistas fizeram por ordem de Cunhal: votar de olhos fechados, com o sapo entalado na garganta. A democracia cá da terra tem destas coisas e o argumento para se entalar o sapo é precisamente a necessidade de eleger o deputado açoriano. Rebuçados!

MoonFace disse...

Genial!!!

Voto Branco disse...

Caro Rui,
Não sei se leu o meu comentário ao seu post "Contra a Autonomia, Concretamente", mas em todo o caso volto a comentar da mesma forma:

"Caro Rui,
Por acaso leu a entrevista ao AO (edição de 25/05/2009 - 2ª feira) do candidato da CDU pelos Açores às Europeias?
Deixo-lhe aqui uma breve passagem da entrevista:
"As pessoas que fazem politica CONTRA os Açorianos não podem querer ser eleitos e representa-los em instância nenhuma, quer seja europeia, quer seja nacional."
Esta afirmação surge no seguimento de números que o próprio apresentou:
A Ilda Figueiredo e o Pedro Guerreiro, deputados da CDU no PE, apresentaram 14 iniciativas para os Açores em 5 anos, entre relatórios, pareceres e resoluções.
Já os deputador Duarte Freitas e Paulo Casaca apresentaram no mesmo período de tempo apenas 6 iniciativas pelos Açores."

Afinal...
Saudações

Anónimo disse...

Estás em forma, Rui. Boa.

Rui Rebelo Gamboa disse...

Caro Voto Branco,

Li, pois, o seu comentário anterior, ao qual não fiz nenhum contra-comentário porque simplesmente o Voto Branco mudou aquilo que tinha dito do seu primeiro comentário.

Mas se quer que lhe diga, concordo, evidentemente, com parte do quadro que pinta no comentário ao post anterior, mas de forma alguma acho que a votação dos símbolos heráldicos seja exemplo de alguma coisa. Acho que não vale a pena estar aqui a explicar, mas haviam duas posições (ou três) na altura, uma claramente centralista, onde estava o PS, outra autonomista, onde estava o PSD. Algures nesses 30 anos o PS mudou a sua posição, nada de errado. No entanto, quando os socialistas decidem apontar algum suposto anti-autonomismo ao PSD, convém antes recordar os seus próprios telhados de vidro. Não ha qualquer trica nisso. Há contra-argumentação, pura e dura.

E com o devido respeito, mas o quadro que pinta em baixo só existe porque pessoas como o Voto Branco, claramente uma pessoa interessada, informada e aparentemente capaz de fazer melhor do que os actuais políticos, não se chegam à frente para fazer esse melhor. Por essa razão os partidos e, logo, a política vai ficando pejada de indivíduos com objectivos pouco nobres. Depois, digam-me que não se chegam exactamente por causa desses indivíduos? Pescadinha de rabo na boca? Eu não acho, porque neste caso há elo da corrente que se acomodou e permite que aquela siga numa espiral descendente.

E, já agora, nada no post meu anterior, nem no seu conteudo, nem nos vários comentários que foram feitos falava dos limites dos actuais poderes dos Açores. Já sabemos que o Voto Branco não é bem um centralista, mas que concorda que este Estatuto já serve bem as nossas necessidades e também já sabemos que para si regiões como o ALentejo ou outra qualquer do continente estão nas mesmas condições que os Açores e Madeira e que não compreende porque razão nós tanto falamos, que já temos tanto poder e eles, que não têm nada, não dizem nada.
É estranho, não é?

E, Voto Branco, acredite em mim, o número de iniciativas que um eurodeputado tem não quer dizer absolutamente nada. Por exemplo, um tipo como o João de Deus Pinheiro pode fazer mais pelos Açores numa estadia na praia das Maçãs, que todos os deputados da CDU durante os 5 anos...

Sinceramente, custa-me a compreender a sua posição. A minha, talvez porque o meu nome está aqui bem em jogo, tem que ser bem clara. Faço o que posso.

Caro Estafermococos, Obrigado e bem-aparecido sejas.

Voto Branco disse...

Caro Rui,
É claro que tenho a noção que estes números apresentados pelo candidato da CDU, valem o que valem, nem tão pouco me revejo nas declarações do referido deputado.
Depois do seu comentário a falar dos "não amigos" dos Açores, achei coincidência que um Açoriano venha falar nos inimigos dos Açores. E, como sabe, adoro "atazanar"!
Quando eu falo em "inimigos", falo concretamente da grande maioria dos politicos, que não têm noção do que significa "interesse do estado".
A minha posição é muito simples, é a posição de não compreender que se discuta determinados assuntos, os quais na minha humilde opinião são secundários. Pois, ora um vem atacar o outro sobre o anti-autonomismo, ora o outro fala dos inimigos dos Açores, e todos são açorianos, supostamente com a noção do que é necessário, essencial e primordial para os Açorianos. Se todos são autonomistas convictos e preocupados com os problemas dos Açores, porquê estas "tricas" que não levam a lado nenhum?
Rui, permita-me fazer-lhe uma pergunta, acha possível um "pacto de regime" nos Açores? Ou pelo contrário, considera que as várias forças partidárias nos Açores são totalmente divergentes no que cada uma delas pensa sobre o que são as prioridades para a região?
Saudações

Toupeira eal disse...

Caro Voto Branco
A coisa mais obtusa que ouço falar aos políticos é sobre os famosos "pactos de regime" que mais não são do que meros expedientes para adiar reformas estruturais necessárias, mas obviamente impopulares e que custam muitos votos e provavelmente eleiçoes. O que é necessário é ter-se a coragem individual de assumir a necessidade de fazer as reformas e de efectuá-las, caso os eleitores acreditem naquele que lhes põe a verdade à frente do nariz e essa possibildade no desenho que a mão deverá efectuar.
Partindo disto, parece redundante falar em pacto de regime para os Açores ou para qualquer outro lado do país ou para o governo central.
A ciência polítia ensina que os jogos são de poder e é este que norteia o pensamento de cada político. Será hipócrita aceitar-se um pseudo-pacto, com objectivos meramente eleitoralistas.
Nos Açores, a História tem-nos ensinado quem defende o quê e porquê e creia que os defensores primordiais e corajosamente os primeiros defensores (após o 25/04) da autonomia não são nem os maiores inimigos dos Açores nem da unidade de Portugal, contrariamente aos (mais) centralistas da época.
Por outro lado, o PCP , travestido de qualquer nome em coligação, tem na sua génese ideológica o internacionalismo, uma espécie de disseminar a seita onde quer que haja um ser humano. Intrinsecamente não lhes reconheço sentimentos pátrios (talvez clubisticos, ainda vá)pelo que terão decerto qualquer projecto para os Açores diferente do de qualquer outro partido.
Daí dever ler-se o que o comunista Vital Moreira disse e escreveu ao longo destes últimos 35 anos e retirar as devidas conclusões. e quiser transpor para os respectivos nvéis apoiantes, esteja à vontade, pois as conclusões serão suas.
O senhor Rui, na essência tem razão no que disse porque é certeiramente factual historicamente, embora decerto não concorde com algumas das coisas que eu escrevi acima, o que me parece basante natural.
Como sempre é um prazer lê-lo e debater consigo.

Toupeira Real disse...

Falharam letras. Coisas de computadores mas a ideia parece perceptivel

Pipocas e Caramelos disse...

Na Madeira so entra o Avô Cantigas: o verdadeiro!

Rui Rebelo Gamboa disse...

Caro Voto Branco,

Este é um período de campanha eleitoral, as "tricas" não são bem assim. Veja bem se não temos todo o direito em questionar as posições de Vital Moreira? Repare que vamos eleger os nossos únicos representantes à sede de poder de onde sai cerca de 60% da legislação pela qual vivemos (e nem sequer é para o órgão que tem a iniciativa de legislar). Por outro lado, repare na posição coerente e firme do Vital Moreira em achar que os Açores não merecem o que têm. Some 2+2. Teremos, a partir deste ano, um tipo no PE que vai criar certamente todo o tipo de obstáculos ao nosso desenvolvimento, que passa, necessariamente, pela política de coesão social comunitária e respectivos quadros de apoio. Portanto, não me parece que estejamos aqui em nenhum tipo de "trica", eu, pelo menos, estou a fazer o possível para alertar para esse facto: um voto no PS nestas Europeias significa um voto contra as posiçoes das RUP portuguesas na UE, isso é certo. Agora olhe para o Orçamento da Região e veja como dependemos desses apoios (ou olhe para a nossa sociedade em geral, pq parece-me que o Orçamento está um pouco maquilhado) e depois diga-me se não estamos a falar de assuntos do mais "necessário, essencial e primordial para os Açorianos"?

Eu acho que começo a perceber, se bem que não compreender, nem muito menos, aceitar a sua posição. Corrija-me se eu estiver errado, mas o Voto Branco, por via de não ter nascido nos Açores, mas sim numa zona do continente, que não Lisboa, acha que há outras regiões do país que têm as mesmas ou mais dificuldades que os Açores. Acha, por isso, que os açorianos não estão a ser solidários com o restante do país. Pois, se é assim, eu percebo bem e sei que, de facto, há zonas do continente que estão totalmente votadas ao abandono e que precisam de mais atenção/meios e até, quem sabe, algum poder para decidirem do seu desenvolvimento.

Sendo assim, eu não aceito, logo à partida, a comparação das dificuldades. As dos Açores não resultam de má ou inexistente política de ordenamento de território, resultam da própria geografia, são, por isso, imutáveis, por muito que se queira mudar. Não é, portanto, comparável e há muitas regiões em Espanha que, sendo do interior, estão desenvolvidas. Ou seja, como vê, é mesmo um problema político.

Depois, não compreendo como o facto dessas regiões do continente estarem atrasadas, possa levar a um sentimento contra os açorianos, pela parte das pessoas que la vivem. Numa caricaturização diria que é quase como aquele pai que tem vários filhos e que, por alguma razão, favorece um. Os outros filhos em vez de verem porque razão isso acontece e em vez de se insurgirem contra o pai, não, insurgem-se contrao filho favorecido. Será assim?

E se for assim, vamos às razões porque o filho é favorecido: desde logo as tais dificuldades/obstáculos permanentes que os Açores têm. Mas pode-me dizer que outras regiões não têm essas dificuldades, mas têm outras. E eu admito que sim (apesar de lhe dizer, como antes disse, que são sempre dificuldades ultrapassáveis, veja-se casos semelhantes em Espanha). Mas a verdade é que o caso português é este e há regiões que necessitam mesmo de outra atenção por parte do Estado e até da UE. Mas a questão agora é mais complicada de se dizer, mas certamente compreenderá o funcionamento das coisas a nível político, o quid pro quod. Os Açores têm algo para dar para trás, têm trunfos, desde logo para a Europa, tanto a nível de recursos, como a nível de importancia geo-estratégica. E, se me perguntar, esse trunfos não estão a ser maximizados.

Se calhar foi um tiro na água, mas é a impressão que vou ficando nestas trocas de argumentos.

Voto Branco disse...

Caro Rui,
Antes do mais quero-lhe dizer que é um prazer para mim esta troca de argumentos consigo, principalmente porque sei que desse lado está alguém que sabe do que está a falar, preocupado com a sua região natal e, acima de tudo, explica as suas posições de forma frontal, coerente e sem rodeios. Obrigado por me dar a oportunidade de "discutir" consigo!
Em seguida, quero dizer-lhe que não sou, nem quero fazer o papel de filho injustiçado e que se vinga no irmão, bem pelo contrário! Eu tento, apesar das minhas limitações académicas, transmitir a minha opinião sobre como "vejo" o meu país e as suas regiões. Penso que o Rui consegue expressar nos seus escritos as suas convicções, já eu pelo contrário, sinto que não estou a saber expressar as minhas.
Sem querer justificar os "tiros na água", digo-lhe que revejo-me muito no exemplo Irlandês, onde um grupo de aconselhamento ao governo, no qual se inserem membros do governo, sindicatos, empresas, associações de empregadores, associações agrícolas e associações voluntárias e comunitárias (a este grupo podemos chama-lo de fórum), negoceia acordos (os quais são posteriormente publicados em forma de relatório), fazendo recomendações de politicas económicas a tomar e propondo reformas, sentindo o povo dessa forma que participa nas grandes decisões do governo. Mais do que um pacto de regime, é um pacto social, no qual procuram um consenso na adopção de uma estratégia nacional.
Será possível em Portugal? Eu quero acreditar que sim, mas para isso é preciso haver vontade e mais participação civica.
Saudações