12 setembro 2009

De regresso aos arquivos NARA e à FLA

No dia 19 de Maio de 1975, o Cônsul dos EUA em Ponta Delgada envia um relatório a Washington, onde dá conta dum encontro com o "engenheiro civil, António Manuel Gomes de Menezes"”, onde este mostrou a sua intenção de vir a fazer um pedido oficial ao governo norte-americano para apoiar os movimentos separatista açoriano. Apesar de receber de bom grado qualquer apoio, Menezes prefere que os EUA dêem apoio diplomático nas Nações Unidas, a favor dos Açores, para forçar Portugal a fazer um referendo sobre a independência das ilhas. Menezes disse acreditar que mais de 80% dos açorianos votariam a favor da independência. Gomes de Menezes avisou ainda que, caso o referendo não fosse em frente com alguma brevidade, “moderados”, como o próprio, não poderiam segurar mais os “extremistas”, que já pediam medidas violentas. Confirmou ainda que a FLA e o MIRA são a mesma organização e que foram responsáveis por alguns incêndios ocorridos anteriormente.

14 comentários:

Tiago R. disse...

Faltou mencionar que esses "incêndios" foram nas sedes locais do PCP e que "os moderados" não se preocupavam em "segurar os extremistas" quando se tratava de perseguições violentas a militantes, simpatizantes e meros suspeitos comunistas.

O denominado comum nunca foi a independência açoriana. Foi o anti-comunismo primário.

Tiago R. disse...

Bom post!

Toupeira eal disse...

O santo PCP, entretanto, como sempre, tentava defender o país,coitadinho!

Rui Rebelo Gamboa disse...

Tiago R.,

Como vê, eu limito-me a transcrever e traduzir o presente no documento, não interpretei nada.

Mas se tivesse de interpretar, diria que não era só contra o PCP, mas também contra o PS (aliás há outro documento que relata o incêndio da viatura da pessoa que tinha acbado de ser escolhida para líder do PS, mas sem nomes) e diria que, perante aquilo que se sabia ser o estilo de vida dos países comunistas nos anos 70 na Europa, fazia todo o sentido ter algum sentimento anti-comunista. Além disso, convém dizer que não há anjinhos nessa história, do outro lado também houve acções semelhantes.

Cumprimentos e Obrigado!

Toupeira Real disse...

Caro Rui

Não limite temporalmente o estilo de vida comunista aos anos 70. 100 milhões de mortos desde 1917 até ao presente merecem o respeito da denúncia pública contra tão hedionda ideologia, na prática o mesmo que o nazismo.

Pedro Lopes disse...

Bem, não esquecer que muitos dos que por cá temiam um Portugal comunista, faziam-no por receio de perder o seu status quo. Sim, pois no tempo da ditadura Salazarista, os Açores ficaram esquecidos, e quem cá mandava era uma mão cheia de familias que detinham todas as terras e os licros da produção destas.
Se o chamada portugal profundo era pouco alfabetizado, aqui nos Açores os únicos com algum esclarecimento em relação à situação que se vivia no país, eram pertencentes às tais familias.
O cidadão comum fazia o que o feudo mandava.

Eu não sou, de todo, comunista. Mas sou contra a exploração do todo por parte de uma meia dúzia de pretensos esclarecidos.

E, já agora, continuo a ser contra a independência dos Açores.
Sou, sim, por uma autonomia crescente mas consciente.

Rui Rebelo Gamboa disse...

Há um documento desses dos arquivos NARA que fala exactamente dessa circunstância de que falas, Pedro.

Porém, não podemos ser redutores a esse ponto, acho e a documentação existente comprova-o, que muitos açorianos eram favoráveis à ideia de independência e nao eram familias abastadas.

Tiago R. disse...

Sim, o anti comunismo foi utilizado sobretudo como uma forma de radicalizar posições e manter o status quo.

Quanto a "fazer sentido algum sentimento anti comunista", penso que a falta de espírito crítico nunca faz sentido, independentemente das ideias que se tenha sobre o "socialismo real" da Europa dos anos 70.

Não duvido que não haja anjinhos nesta história, mas sinceramente, nunca ouvi falar de um único ataque violento por parte de comunistas (individualmente considerados ou colectivamente organizados) contra seja quem for nos Açores. Conhece algum caso, ou disse isso apenas por dizer?

Anónimo disse...

Pedro Lopes

Apesar de se admitir averso à independência dos Açores, decerto será a favor do direito à independência dos Açores?

TóZé

Toupeira Real disse...

Agora o comunismo é bom para os Açores, Tiago R? Essa é uma excelente anedota, tão boa como ouvir o Jerónimo a defender a liberdade de expressão.
Obviamente que desconhece o que se passou em todo o país e, sobretudo, parece querer ignorar a história mundial. Seja do PC, mas deixe-se de fanatismo.

Anónimo disse...

Tiago R
Naquele tempo, todos os cidadãos de esquerda eram comunistas e todos os cidadãos de direita eram fascistas (e nos Açores separatistas). Assim sendo podemos começar pelo ataque e destruição da sede do MAPA, no Campo de S. Francisco. Que eu saiba, o primeiro acto de violência política, nos Açores, após o 25 de Abril. Mas principalmente as violentíssimas prisões do 6 de Junho, um erro histórico que iniciou um processo de martirização e criação de herois que poderia ter dado início a um processo de violência eternizado, como noutros processos separatistas (IRA e ETA).

TóZé

Pedro Lopes disse...

Caro TóZé,

a minha opinião não pretende condicionar a dos outros.

Respondendo directamente à sua pergunta: Sim. Os Açores, se a maioria dos Açoreanos o desejarem, devem ter direito a ser Independentes.
Mas, a haver a possibilidade de um referendo a tal situação, eu votaria contra.

Anónimo disse...

Pedro Lopes
Se me permite, eu exigo mais do que isso. Se 2, 3 ou 4 açorianos desejarem a independência deverão ter o direito legal de defendê-la. Gostaria, simplesmente de começar por aqui...

TóZé

Pedro Lopes disse...

ToZé,

claro que sim. Fico até algo admirado por me colocar essa questão.

Vivemos numa sociedade de expressão livre.....bem, há quem diga que nesta era socrática se perdeu alguma, mas isso são contas de outro rosário. :)