09 novembro 2009

Cortar a Meta Sem Atingir o Objectivo

Já me manifestei aqui nesta “máquina” desfavorável ao aumento da escolaridade mínima obrigatória - que será alargada até ao 12º ano para todos os alunos que este ano se matricularam no 7º ano -, pois não creio que as escolas estejam preparadas para este novo desafio, nem tão-pouco uma grande franja de alunos ambiciona este novo patamar de escolaridade. Prefiro uma escola com exigência no ensino e capaz de fomentar o respeito pelos valores e normas que norteiam uma sociedade justa e igualitária, do que um ensino baseado no facilitismo e na progressão automática (dos alunos, neste caso) até ao novo patamar mínimo definido pela Lei.

Se para se atingir o 9º ano de escolaridade já se formularam um cem número de reformas facilitadoras, estou certo que estas reformas se estenderão, agora, até ao 12º ano.

Assim, surge um novo problema, que é deixar de haver um ensino secundário - pois passa todo a ser ensino básico -, e tal facto faz com que deixe de existir um patamar preparatório e com maior grau de exigência para aqueles que, eventualmente, queiram seguir a via do ensino superior.

Se a este facto juntarmos as medidas legislativas que abriram as portas do ensino superior a maiores de 23 anos, ainda que sem o 12º anos completo, e mediante uma ligeira prova de selecção, então poderei afirmar que as universidades do nosso país estão em risco. Sim, em risco! Um novo risco, a somar ao erro que foi a transposição do Processo de Bolonha para as Universidades portuguesas, possibilitando que meros 3 anos de frequência (com aproveitamento) de um curso numa Universidade, sejam suficientes para garantir uma licenciatura. Serão suficientes para garantir um emprego qualificado? Não creio.

É claro que esta Declaração (de Bolonha), assinada em 1999 pelos países que então constituíam a União Europeia, até deu jeito a quem tutelava o ensino superior em Portugal, pois foi mais um passo pós estabelecimento de propinas no ensino superior, na medida em que abriu caminho ao pagamento dos últimos dois anos do curso, a que passaram a chamar de mestrado. Ou seja, quem quiser tirar um curso a sério, paga propinas durante os primeiros três anos, e nos últimos dois já terás de desembolsar uns quantos milhares de euros para terminá-lo, levando como bónus o título de Mestre. Foi este o caminho encontrado para que as Universidades passassem a "viáveis economicamente", como se fosse esse o seu desígnio.

As medidas que têm sido tomadas no ensino em geral, visam meramente questões estatísticas e de poupança de dinheiros públicos. Isso, numa área crucial para qualquer sociedade que ambicione o desenvolvimento e crescimento, tanto a nível económico como do seu capital humano.

Por vezes, os discurso dos políticos para justificar enormes gastos em grandes obras no presente, vão no sentido de alertar para a importância futura destes investimentos, mas no que toca à educação, preferem poupar hoje, hipotecando o futuro dos nossos jovens e, claro, do país onde estes vão crescer e trabalhar.

Um país não passa a ser viável, a ter uma melhor qualidade de vida, um PIB superior e uma menor dívida externa, somente porque tem um maior número de licenciados, mestres ou doutores Veja-se Cuba, ou qualquer país com passado comunista!. Um país; o nosso país, necessita de ter boas bases, antes de se aventurar numa demanda despropositada de competir a nível estatístico com outros parceiros europeus. De que vale ter certas estatísticas a ombrear com estes, se noutros campos ficamos a milhas de distância?

Não basta querer, é preciso ser capaz de pôr em prática os desejos. Eu prefiro um ensino que capacite as crianças e jovens de hoje para os desafios do futuro, em lugar de os empurra no imediato para os desafios do presente.

Pergunto eu: onde estão os empregos para todos os mestres e licenciados que saem todos os anos das nossas universidades? Qual a adequação das Universidades às necessidades do presente?

Penso que está na hora - já vai tarde, mas…- do Ministério que tutela o ensino superior, iniciar uma prática que imponha limites ao número de vagas em certos cursos cujo mercado de trabalho se encontra saturado, ao mesmo tempo que, com base em estudos e análises das necessidades de emprego em determinadas áreas, premeie as universidades que abram cursos que vão de encontro a essas necessidades e exigências laborais do presente e do futuro.

Se o caminho não for este, se as Universidades - por via dos escassos apoios económicos do Estado - só estiverem preocupadas com a sua viabilidade económica, teremos gente com formação superior a trabalhar em actividades cujo 9º ano seria suficiente, ao mesmo tempo que sentiremos falta de bons profissionais em áreas mais especializadas. E, mesmo aqueles que obtiverem o canudo, terão menos competências dos que as desejadas.

Que não se “vendam” sonhos impossíveis de concretizar. A utopia não passa disso mesmo...

12 comentários:

Rodrigo de Sá disse...

Caro Pedro,
Concordo com todas a palavras, pontos e vírgulas deste artigo.
Tenho pena dos meus alunos que estão metidos neste jogo de ilusões que é o de acharem que os programas de oportunidades são para o seu bem, quando na realidade acabam por contribuir, na maioria das vezes, para exclusão e desinformação. Isto para não falar das boa maneiras de convivência dentro e fora da sala de aula.

Rodrigo de Sá disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rui Rebelo Gamboa disse...

Caríssimo Pedro,

Antes de mais welcome back.

Parece que o tempo que ficas fora, faz-te bem, pois amadureces o pensamento e sais-te com estes grandes posts.

De facto, como diz o Rodrigo de Sá, pouco mais a acrescentar. Pelo menos da minha parte, como sabes, estou plenamente de acordo. Estamos muito longe ainda de saber qual vai ser a verdadeira consequência desta política de faciltismo. Uma coisa é quase certa, teremos imensos dr. pelo país fora e todos terão o 12º ano. Mas será que, em termos de conhecimento, vai fazer alguma diferença??? É esta a questão.

Anónimo disse...

A mim parece-me que facilitismo está completamente instalado. Não sou professora nem tenho filhos, mas estudo de vez em quando com crianças da minha família, e fico com os nervos à flor da pele quando vejo os exercícios básicos sobre matéria dada superficialmente. E a falta de castigo para quem não cumpre!

Pedro Lopes disse...

Caros comentadores,

constato que a minha percepção do (mau) estado da Educação no nosso país, também é partilhada por vós.

Chegamos a um ponto em que a viragem é imperativa, sob pena dos nossos jovens e, consequentemente, a sociedade que eles vão construir, estar amplamente condicionada.

E as questões de comportamento - ou falta dele, como referem - também devem merecer maior atenção. Costumo dizer que os jovens que só conheceram a Liberdade, a confundem muitas vezes com Libertinagem.

Fica a esperança....sem ela pouco nos resta.

Toupeira Real disse...

Por razões óbvias para o Pedro Lopes, não posso identificar-me publicamente, mas não posso deixar de subscrever inteiramente aquilo que foi escrito nest post.
Aliás, pelo que se ouve a exigência do ensino está pelas horas da amargura, contando, no essencial, o poder político que a "democratização" do grau académico resolva os prblemas estruturais do país.
A caça ao dinheiro dos maiores de 23 anos foi de génio. O pior é tentar convencer a juventude que está a fazer um percurso normal no ensino secundário de que tem de estudar bastante para entrar na Universidade e depois aparecerem candidatos com o 9º ano (caso verídico) a entrarem na Universidade, via tal provazeca, e afirmarem que "isso de fazer 10º, 11º e 12º é pura perda de tempo". Para onde querem conduzir o futuro, governantes?!

Guarda-Freios disse...

O Manuel, com 7 anos, chega a casa e a mãe pergunta-lhe como correu a escola.
Ele diz-lhe que foi bem e que tocou na aula de Música.
A mãe pergnta-lhe o que tocou e ele dz-lhe que conseguiu tocar na sua flauta o Atirei o pau ao gato. Bravo!, diz-lhe a mãe, e perguntou-lhe o que tinha tocado a sua amiga Tatiana Svevanovich e o Manuel respondeu-he que tinha tocado uma coisa qualquer de um tal Bach.
Ilustrativo!

António Melo de Sousa e Silva disse...

Carissímos:

Não vos parece incongruente que o Blog que lançou e promoveu o Movimento Pró-Voto seja agora responsável pelo opróbrio de um comentário removido?

Atenciosamente

António Melo de Sousa e Silva

Pedro Lopes disse...

Caro António Melo de Sousa e Silva,

neste Blog, se bem me lembro, nunca foram removidos/ censurados, quaisquer comentários, embora alguns, pelo seus teor, talvez merecessem. Essa não é a nossa prática, nem vai de encontro ao modo como encaramos estes espaços que se querem de liberdade de opinião.

O comentário que foi removido, foi-o pelo próprio autor do mesmo (por isso está lá escrito "mensagem removida pelo autor" - não do Blog mas da "mensagem").

Repare na hora e dia a que este foi colocado, e, pressumo eu, que terá sido um comentário repetido pelo comentador Rodrigo de Sá.

Melhores cumprimentos

Anónimo disse...

Oh Sr. António,

vc deve ter comido alguma coisa estragada q comprou no Pingo Doce e q lhe provocou algum azedume.
O Movimento Pró-voto foi obra de uma grupo de alunos da licenciatura em Estudos Europeus da univ dos Açores, homem! Tivesse vc minimamente preocupado em se informar como está em denegrir que facilmente saberia isso.

Entretanto, esclareça-nos lá o que é que promover um movimento cívico tem a ver com a hipotética moderação de comentários?!?!

Eu até acredito que o seu emprego lhe dê muito tempo livre e que tenha de vir para aqui descarregar as frustrações profissionais e pessoais mas, quando o fizer, faça-o com alguma seriedade.

Ass:
O amigo do anónimo (o mesmo de há seis meses)

Rui Rebelo Gamboa disse...

Haja paciência!!!

Lietse disse...

É TUDO MINTCHIRA!
HÁ CINSURA SIM SENHOR
AMIGOS, VAMOS TODOS AMANHÃ FAZER UMA MANIFESTAÇÃO (Ó COM CANUDO, 30 E TAL ANOS DEPOIS DO 25 DE ABRIL) PARA PROTESTAR CONTRA ESSA VERGONHA DE TERMOS UM RAPAZOLA QUE DEVIA ESTAR NA ESCOLA A TREINAR O SPORTING.